Momentos-chave de Rui Vitória no Benfica

Com a saída de Rui Vitória do comando técnico dos “encarnados”, as opiniões continuam a dividir-se acerca das capacidades do treinador e do contributo que deu ao clube da Luz.

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Rui Vitória esteve à frente dos "encarnados" durante três anos e meio LUSA/MIGUEL A. LOPES

Entrada em falso e as palavras de Jesus no Sporting

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Entrada em falso e as palavras de Jesus no Sporting

Rui Vitória chegava ao Benfica antes do arranque da temporada 2015-16. A promessa era de um “passado de vitória, um futuro de glória”. O primeiro adversário foi o Sporting, já com Jesus no comando dos “leões”, que venceu por 1-0 e conquistou a Supertaça Cândido de Oliveira. Mais tarde, o Sporting confirmaria o melhor momento ao bater categoricamente o Benfica, por 0-3, no regresso de Jesus ao Estádio da Luz, então como treinador da equipa adversária.

Em Janeiro de 2016, Rui Vitória declarou que Jorge Jesus estava “obcecado pelo Benfica” e este concordou, alegando que queria “conhecer bem todos os adversários na luta directa pelo campeonato”, mas não deixou de dar uma resposta: "Sou mau colega? Treinador? Como não o qualifico como treinador, logo não sou mau colega. Para ser treinador ele tem de ser muito mais. Fi-lo sair da toca, que era o que eu queria. Ele tem de se assumir. Para treinar o Benfica tem de se assumir. Para conduzir um Ferrari é preciso ter andamento para ele. Vamos ver se aquele Ferrari continua a andar”.

A resposta em campo no final da temporada

Entre estas polémicas, o Benfica chegou a ser  tricampeão nacional em 2016, o objectivo que Rui Vitória apontava ao lado de Luís Filipe Vieira quando tinha sido apresentado em Junho de 2015. Ao título nacional juntou o recorde de 88 pontos somados, a conquista da Taça da Liga e ainda uma campanha na Liga dos Campeões que foi até aos quartos-de-final, onde o Benfica “caiu de pé” diante do Bayern, após empate a dois golos na Luz e derrota por 1-0 em Munique. Na época seguinte conquistou a Supertaça, o inédito tetracampeonato e a Taça de Portugal.

Derrotar os rivais? Feito raro

Várias qualidades foram apontadas a Rui Vitória, mas um dos principais defeitos do seu trajecto à frente do Benfica foi a falta de bons resultados perante Sporting e, sobretudo, FC Porto. Curiosamente, foi apenas na presente temporada que o treinador conseguiu suplantar os "dragões" (1-0), no Estádio da Luz, numa altura em que assumiu o comando da prova. Diante dos rivais, em 16 jogos para todas as competições, Rui Vitória venceu apenas três jogos, dois ao Sporting e um ao FC Porto.

Leque de apostas

Para Luís Filipe Vieira, Rui Vitória era o treinador indicado para o projecto Benfica, com o objectivo de potenciar a formação de futebolistas no centro de treinos do Seixal. Os nomes dos jovens talentos que emergiram são vários e todos eles tiveram destinos diferentes.

No topo da lista surgem, Renato Sanches, Nelson Semedo, Gonçalo Guedes e Victor Lindelöf, que juntamente com Ederson ofereceram uma confortável almofada financeira ao clube da Luz e actuam actualmente em grandes clubes do futebol europeu.

Clésio Baúque (fez um jogo no Benfica, esteve no Panetolikos da Grécia, agora nos turcos do Istanbulspor), Aurélio Buta (Royal Antuérpia, Bélgica), André Horta (Los Angeles FC, EUA), João Teixeira (Chaves), Nuno Santos (Rio Ave), João Carvalho e Diogo Gonçalves (Nottingham Forrest, Inglaterra) pediam mais.

Outros jovens como Branimir Kalaica e Keaton Parks foram lançados residualmente e estão agora na equipa B. As “pérolas da formação” que permanecem na equipa principal são Gedson Fernandes, João Félix, Ruben Dias, Yuri Ribeiro e Bruno Varela.

As saídas de Raúl Jiménez (Wolverhampton, Inglaterra), Mitroglou (Marselha, França) e Luka Jovic (Eintracht Frankfurt, Alemanha) para a aposta em Ferreyra e Castillo continuam por explicar, tal como a não aposta em Cristante (vendido esta época à Atalanta, agora emprestado à Roma, já é internacional por Itália).

Falta de “dimensão europeia”: os zero pontos e o 5-0 

Para além de não conseguir uma afirmação em campo frente aos eternos rivais, Rui Vitória também não conseguiu afirmar o sucesso que o Benfica pretende no panorama internacional. Na época passada, o Benfica não amealhou qualquer vitória no grupo A da Liga dos Campeões, assinando a pior prestação de sempre do clube na competição. Com Manchester United, CSKA Moscovo e Basileia no grupo, a derrota por 5-0 no terreno dos suíços foi o momento mais marcante. Alguma contestação a favor da saída de Rui Vitória já tinha surgido em Setembro de 2017.

Do “chefe de família e pai honrado" à gaffe do rácio

O Benfica entrou num mau período de resultados e Rui Vitória proferiu declarações polémicas antes e depois de jogar contra a Belenenses SAD para o campeonato. Depois de perder nos minutos finais contra o Ajax, em Amesterdão, o treinador lançava o jogo no Jamor desta forma: “Sabem quem é o treinador com melhor rácio de vitórias na Champions? Eu poupo o trabalho: sou eu”. Uma visão que seria desmentida pela imprensa horas depois. Após o 5-1 em Munique, o playmakerstats explica que Rui Vitória passou a ser o treinador na história do Benfica com mais derrotas na Liga dos Campeões (15).

Após perder contra a Belenenses SAD por 2-0 no Estádio do Jamor, no fim de Outubro, o treinador reagiu à contestação e lenços brancos afirmando que estava de “cabeça erguida e a olhar para a frente”, era “chefe de família, um pai honrado, boa pessoa e de bons princípios” e que compreendia a desilusão dos adeptos.