EUA 2020: Uma caravana de democratas a caminho da Casa Branca

Dois anos depois da traumática derrota contra Donald Trump, o Partido Democrata parte para a escolha dos seus candidatos às eleições de 2020. Nos próximos meses, a luta entre progressistas e centristas vai chegar ao coração do partido.

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Ainda faltam 17 dias para que o Presidente Donald Trump chegue ao meio do seu mandato e o Partido Democrata já deu o tiro de partida para a maratona que vai terminar com a escolha do seu candidato às eleições de 2020. É muito cedo para se perceber quem poderá vencer a luta interna entre progressistas e centristas pelo direito a liderar a batalha final contra Trump, mas uma coisa é certa: ao contrário do que aconteceu em 2016, a lista de candidatos oficiais vai ser tão longa que o partido já agendou 12 rondas de debates nas televisões, cada uma delas dividida por duas noites.

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Ainda faltam 17 dias para que o Presidente Donald Trump chegue ao meio do seu mandato e o Partido Democrata já deu o tiro de partida para a maratona que vai terminar com a escolha do seu candidato às eleições de 2020. É muito cedo para se perceber quem poderá vencer a luta interna entre progressistas e centristas pelo direito a liderar a batalha final contra Trump, mas uma coisa é certa: ao contrário do que aconteceu em 2016, a lista de candidatos oficiais vai ser tão longa que o partido já agendou 12 rondas de debates nas televisões, cada uma delas dividida por duas noites.

Uma das principais consequências da luta interna no Partido Democrata em 2016, entre Hillary Clinton e o senador Bernie Sanders, foi a divisão do eleitorado do partido em dois grandes campos – uma ruptura acentuada nos últimos dois anos pela forma como Donald Trump tem exercido o cargo de Presidente, com ataques verbais quase diários contra os seus críticos e sem sinais de querer cativar um eleitorado mais centrista.

De um lado estão os eleitores mais progressistas, muitos deles apoiantes de nomes como Bernie Sanders e Elizabeth Warren (que anunciou a sua candidatura na segunda-feira), desejosos de verem Donald Trump a provar um pouco do seu próprio remédio na próxima campanha eleitoral.

Ainda que nem Sanders nem Warren sejam tão activos no Twitter como Trump, o primeiro já provou que consegue entusiasmar uma plateia com um discurso inflamado, e a segunda já mostrou que está disposta a responder aos insultos do Presidente norte-americano nas redes sociais – numa dessas ocasiões, a senadora do Massachusetts chamou "perdedor" a Trump cinco vezes, num pequeno texto com quatro parágrafos publicado no Facebook.

Mas a estratégia de propor ao eleitorado do Partido Democrata uma campanha com discursos e tweets inflamados pode ter desvantagens.

"Os republicanos querem concorrer contra qualquer progressista que tente competir com Trump nos termos definidos por Trump: trocar farpas nas redes sociais; insultar; e questionar a sua capacidade mental ou física", diz David Drucker, um analista político da CNN que falou com responsáveis do Partido Republicano, sob a condição de anonimato, para um artigo publicado em Dezembro na Vanity Fair.

"Por mais que as bases do Partido Democrata clamem por um porta-estandarte que obrigue o Presidente a tomar uma dose do seu próprio remédio, não é possível bater o original no jogo que ele próprio aperfeiçoou. Trump é rápido demais e desavergonhado demais, e essa abordagem oferece pouca mudança aos eleitores que querem virar a página de caos e ansiedade que tem caracterizado os tempos recentes", diz o analista.

Mas é preciso ter cautela quando se analisa os desejos eleitorais do partido que está a luta pela permanência na Casa Branca.

Num dos e-mails roubados dos servidores do Partido Democrata em 2015, lia-se que a estratégia para eleger Hillary Clinton passava por "não marginalizar os candidatos mais extremistas" do Partido Republicano, "fazendo deles os flautistas mágicos" que levariam o resto do partido a afogar-se nas eleições – entre esses candidatos estavam Ted Cruz, Ben Carson e Donald Trump.

A "normalidade" de Biden

Do outro lado do Partido Democrata, onde se juntaram os eleitores mais tradicionais – muitos deles desiludidos com a campanha de Hillary Clinton em 2016, mas ainda assim convencidos de que o ideal é um regresso ao diálogo na política americana –, estão possíveis candidatos como Joe Biden, vice-presidente de Barack Obama entre 2009 e 2017.

"Ele transmite calma e normalidade, e eu sinto que é isso que as pessoas desejam contra o caos da Administração Trump", disse um dos responsáveis do Partido Republicano ouvido para o artigo da Vanity Fair.

Nesta altura do jogo, a quase dois anos das eleições e a vários meses de se ter uma ideia de quem são os candidatos mais fortes, o exercício de arriscar nomes de possíveis adversários de Trump deve ser deixado para apostadores e astrólogos – e também estes devem reforçar as cautelas depois da surpresa que foi a vitória de Trump em 2016.

Antes de 2008, poucos anteciparam a vitória de Barack Obama nas primárias do Partido Democrata, e antes de 2016 foram menos ainda os que acreditaram que Hillary Clinton iria ter uma oposição interna tão forte como a que foi protagonizada por Bernie Sanders.

Nos próximos meses, é possível que algumas apostas quase certas, como as prováveis candidaturas de Warren, Sanders ou Biden, sejam desfeitas pela força de uma figura fresca e capaz de entusiasmar o eleitorado à maneira de Obama – como Beto O'Rourke, o ex-congressista do Texas de apenas 46 anos que perdeu a eleição para o Senado em Novembro contra o republicano Ted Cruz, mas com um resultado muito acima do que era esperado no início da campanha.

É por isso que as primeiras sondagens com nomes de possíveis candidatos do Partido Democrata, publicadas nas últimas semanas, dizem mais sobre o reconhecimento do nome de cada um deles do que sobre uma qualquer onda de entusiasmo antecipada.

E, no capítulo do reconhecimento público, é natural que Joe Biden e Bernie Sanders estejam no topo dessas sondagens – o primeiro foi vice-presidente até há dois anos e venceu a sua primeira eleição para o Senado em 1973, e o segundo foi catapultado para o estrelato da política norte-americana em 2016.

Dezenas a "ponderar"

Há muitos outros nomes inscritos na coluna dos que ainda estão a "ponderar" uma candidatura – uma actividade muito praticada pelos políticos norte-americanos por esta altura, a meio de um mandato presidencial.

No total, para além de Joe Biden, Bernie Sanders, Elizabeth Warren ou Beto O'Rourke, há mais de 30 possíveis candidatos, com vários senadores à cabeça, entre eles outros progressistas como Sherrod Brown (Ohio) e Jeff Merkley (Oregon), mas também centristas que se destacam pela oposição a Trump, como Cory Booker (Nova Jérsia), e centristas que têm tentado conquistar eleitorado mais à esquerda, como Kamala Harris (Califórnia).

Até agora, o único nome sonante a confirmar a sua candidatura foi Elizabeth Warren, que se junta a outros candidatos menos conhecidos, como John Delaney (congressista do Maryland) e Julián Castro (secretário da Habitação no segundo mandato de Obama).

Para além dos nomes, há uma grande expectativa para se perceber como está a bater o coração dos eleitores do Partido Democrata dois anos depois da derrota traumática de 2016 e a meio do mandato de um Presidente que representa o oposto de quase tudo o que eles defendem.

Antes de chegar a essa luta, em Novembro de 2020, o Partido Democrata tem o próximo ano para tentar resolver as suas dúvidas internas e chegar às eleições presidenciais mais unido do que em 2016. Seja com Bernie Sanders ou Elizabeth Warren, para "derrubar as peças do xadrez" ou "reescrever as regras do jogo", segundo a caracterização do jornalista David Dayen na New Republic; seja com Joe Biden, para reconquistar o eleitorado perdido para Trump nos estados do Midwest; seja com Beto O'Rourke, a cara fresca que entusiasma os mais jovens e que pode levá-los a votar em grande número nas eleições de 2020.