Vídeo mostra sauditas com sacos onde estará corpo de Khashoggi
Novas imagens de câmaras de segurança oferecem novas pistas no homicídio do jornalista que a Turquia acredita ter sido desmembrado no consulado saudita em Istambul.
Primeiro, só havia imagens de Jamal Khashoggi a entrar no consulado da Arábia Saudita em Istambul, de onde a noiva, a turca Hatice Cengiz, garante que não saiu. Foi há quase três meses, a 2 de Outubro, e depois de imagens de câmaras de segurança terem identificado o “esquadrão da morte” de 15 sauditas que Riad terá enviado, depois de uma alegada gravação onde se ouve Khashoggi a ser morto ter circulado entre governos (como disse Marcelo Rebelo de Sousa), agora foi a vez de surgirem imagens de sauditas a carregar sacos de plástico para dentro da residência oficial do cônsul.
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Primeiro, só havia imagens de Jamal Khashoggi a entrar no consulado da Arábia Saudita em Istambul, de onde a noiva, a turca Hatice Cengiz, garante que não saiu. Foi há quase três meses, a 2 de Outubro, e depois de imagens de câmaras de segurança terem identificado o “esquadrão da morte” de 15 sauditas que Riad terá enviado, depois de uma alegada gravação onde se ouve Khashoggi a ser morto ter circulado entre governos (como disse Marcelo Rebelo de Sousa), agora foi a vez de surgirem imagens de sauditas a carregar sacos de plástico para dentro da residência oficial do cônsul.
Estas imagens, que como outras informações que alguém fez chegar aos media turcos, mostram membros do “esquadrão da morte” a segurar nos sacos pretos. Segundo noticiam os mesmos meios de comunicação, estes sacos contêm os restos mortais do jornalista que há um ano se auto-exilara na Virgínia.
As autoridades turcas já tinham encontrado vestígios de ácido na residência e líquidos que acreditam ter servido para dissolver o corpo de Khashoggi, que antes fora estrangulado e desmembrado, ainda no consulado (há sons disso a acontecer).
Nas novas imagens, os homens saem de uma carrinha e entram na residência, a escassa distância do consulado.
Todos os 15 sauditas que chegaram nesse dia a Istambul em dois aviões charter de uma empresa que costuma trabalhar com a família real abandonaram a Turquia de regresso à Arábia Saudita horas depois.
Os investigadores turcos, assim como a CIA e serviços secretos de outros países, acreditam que o homícidio de Khashoggi, ou pelo menos o seu rapto com a missão de o obrigar a regressar ao seu país, foi orquestrado com o conhecimento de Mohammed bin Salman (ou MBS, como gosta de ser tratado), filho do rei Salman que há dois anos é quem governa de facto a monarquia.
Riad nega qualquer envolvimento ou conhecimento prévio do príncipe herdeiro. E tem feito o que pode para tentar travar as críticas e as pressões internacionais – tudo menos mexer nos poderes do aparentemente intocável MBS, o jovem que sem chegar a ser monarca concentra mais poderes do que qualquer rei antes dele no país.
Primeiro, a Arábia Saudita prendeu vários suspeitos, incluindo responsáveis das forças de segurança e dos serviços secretos que se sabem serem muito próximos de MBS, mas que na versão oficial agiram por conta própria. Onze estão acusados e os procuradores pedem a pena de morte para cinco. Depois, Riad reformulou a própria estrutura dos serviços secretos, com o anunciado objectivo de coordenar melhor as missões e de as articular com os interesses de política externa no reino.
Remodelação governamental
Na semana passada, o Governo saudita anunciou uma remodelação abrangente: deixou cair o ministro dos Negócios Estrangeiros, principal rosto da defesa de MBS no mundo desde que as suspeitas começaram a avolular-se.
Com isto, Riad esperava afastar de vez as críticas de rivais e aliados: a Alemanha suspendeu os contratos de armas com o país; o Senado americano condenou MBS pela morte de Khashoggi e aprovou uma resolução para proibir os Estados Unidos de darem apoio militar aos sauditas no Iémen (contra a vontade do Presidente Trump); Londres, Paris e Berlim exigiram uma investigação credível; e há empresas a ponderar os seus laços com o reino.
Nas novas imagens, vêem-se membros do grupo de sauditas que viajou para Istambul nesse dia a chegarem à residência do embaixador. Pelo menos dois surgem a carregar grandes sacos para dentro do edifício.
Khashoggi era um conhecido e respeitado jornalista e autor no mundo árabe. Na Arábia Saudita tanto foi conselheiro de príncipes como director do jornal mais independente do país, do qual foi afastado várias vezes. Nunca se assumiu como um dissidente, mas com a chegada de MBS ao poder decidiu que tinha passado a ser perigoso permanecer no país e partiu. Segundo amigos, estava receoso da ida ao consulado saudita em Istambul, mas precisava de obter um documento a comprovar o seu divórcio para poder voltar a casar.
Foi morto e desmembrado dentro do consulado, no que a Turquia descreve como “um homicídio premeditado” orquestrado por Riad. Em simultâneo, surgem agora novas informações que parecem provar que os sauditas tentaram forçar Khashoggi a enviar uma mensagem ao filho, dizendo-lhe para não se preocupar se não soubesse dele por algum tempo.
Vídeo “muito significativo”
O primeiro canal a divulgar as novas imagens foi a televisão de notícias A Haber, que diz tê-las obtido através do jornalista Ferhat Unlu, membro da equipa de investigação do jornal Daily Sabah.
Muito próximo do Governo e dos serviços secretos, este jornal foi fundado assumidamente para explicar o ponto de vista turco ao resto do mundo. Muitas fugas de informação do inquérito turco têm aparecido precisamente no Daily Sabah, no que aparenta ser a concretização da vontade do Presidente, Recep Tayyip Erdogan, desejoso de denunciar MBS sem querer confrontá-lo de forma directa.
O vídeo, diz à Al-Jazira o director do think tank Centro Árabe de Washington, Khalil Jahshan, é “muito significativo”. Khalil Jahshan lembra que os sauditas não permitiram aos turcos que realizassem buscas tão rigorosas como estes pretendiam fazer na residência do cônsul.
“Muito provavelmente, os sauditas acreditavam que a recente remodelação governamental poria fim ao caso e aliviaria a Arábia Saudita da pressão por parte dos turcos e da comunidade internacional”, diz Jahshan.
Mas, prevê, isso não vai acontecer: “A Arábia Saudita precisa de esclarecer, precisa de explicar o processo legal, de provar que as pessoas afastadas por implicações neste crime foram mesmo presas e estão a ser processadas pelo crime.”