O Concerto de Ano Novo da Filarmónica de Viena tem pela primeira vez um maestro alemão
Christian Thielemann dirige terça-feira o concerto visto em mais de 90 países e que chega a mais de 50 milhões de pessoas. O passado do evento, nascido durante a ocupação nazi, da própria filarmónica e a política do maestro estão a ser um dos cartões de visita do concerto que a RTP exibe na manhã de dia 1.
O Concerto de Ano Novo da Filarmónica de Viena é um clássico anual e, na Sala Dourada do Musikverein, pela primeira vez em 78 anos de história a orquestra será dirigida por um alemão: o conceituado maestro Christian Thielemann. Transmitido para mais de 90 países, incluindo pela RTP1 na manhã de terça-feira às 10h30, é um momento de grande mediatismo para a música clássica e esta edição está a ser vista à lupa do significado da liderança de Thielemann, autor de comentários conservadores sobre a “islamização do ocidente” e de escolhas que o aproximaram da direita do norte da Europa.
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O Concerto de Ano Novo da Filarmónica de Viena é um clássico anual e, na Sala Dourada do Musikverein, pela primeira vez em 78 anos de história a orquestra será dirigida por um alemão: o conceituado maestro Christian Thielemann. Transmitido para mais de 90 países, incluindo pela RTP1 na manhã de terça-feira às 10h30, é um momento de grande mediatismo para a música clássica e esta edição está a ser vista à lupa do significado da liderança de Thielemann, autor de comentários conservadores sobre a “islamização do ocidente” e de escolhas que o aproximaram da direita do norte da Europa.
As raízes do concerto anual são bem conhecidas, instrumentos da Alemanha nazi para a propaganda após a anexação da Áustria e momento maior de exposição de uma conceituadíssima formação musical que durante a II Guerra Mundial expulsou músicos judeus ou com ligações aos judeus, alguns dos quais acabaram assassinados ou em campos de concentração. Metade dos seus músicos estava filiado no partido de Adolf Hitler. Com os anos, libertou-se dessa carga, mas não está isenta de escrutínio quanto a ela nem quanto a outras suas características – só contratou uma mulher pela primeira vez em 1997 (a harpista Anna Lelkes) e em 2005 a maestrina Simone Young foi a primeira mulher a dirigir a orquestra, numa actuação de ocasião.
A direcção do Concerto de Ano Novo é também um acto por convite, uma actuação especial e que a imprensa, e em particular a imprensa espanhola, está a ver pelo prisma do peso da estreia de um alemão de postura conservadora nas escolhas musicais e nas palavras para a entrada em 2019. “Os fantasmas do nazismo voltam à Filarmónica de Viena no Ano Novo”, titula mesmo o diário espanhol El Mundo na sua edição desta segunda-feira. “O Concerto de Ano Novo mais alemão”, escreve por seu turno o El País. É este diário que lembra que em 1946 se reabilitou o concerto com a sua direcção pelo maestro austríaco de origem judia Josef Krips e que, como já muito se escreveu sobre o tema, a própria orquestra tentou ao máximo branquear o seu passado ao longo das décadas.
Eis-nos chegados a 2019, em que Thielemann é o primeiro alemão convidado a dirigir o mediático momento depois de ter 30 anos de relação com os músicos da Filarmónica de Viena mas também depois de, em 2015, escrito um texto de opinião no semanário Die Zeit em que unia a sua voz à dos “patriotas contra a islamização do Ocidente” e se queixava de que no seu país só se podia “escolher entre slogans e o politicamente correcto”.
Este ano, manteve em entrevista essa aversão ao que considera ser um pejorativo “politicamente correcto”, mas criticou a ascensão da extrema-direita na Alemanha e explicou que considera parte do seu trabalho “ouvir aqueles que expressam uma opinião em contracorrente em relação à maioria”. Christian Thielemann, um dos mais admirados maestros em actividade, congratula-se agora por ter sido escolhido: “aprendo muito com esta orquestra, porque tem uma forma inata de fazer música com novas ideias e matizes”. Thielemann é director principal da Dresden Staatskapelle desde 2012 e director musical do festival de Bayreuth.
Terça-feira, o concerto que já foi dirigido por nomes como Gustavo Dudamel, Zubin Mehta, Riccardo Muti, Herbert von Karajan ou Claudio Abbado (desde 1987 os nomes mudam a cada ano), contará também com outras estreias que não a do seu maestro e sua nacionalidade: com o eterno foco nos Strauss, está prevista a interpretação na Sala Dourada do Musikverein de Viena Die Tänzerin, op. 227 de Josef Strauss, ou Opern-Soiree, op. 162 de Eduard Strauss, mas também Express, op. 311 de Johann Strauss II e, do mesmo compositor, a abertura da opereta O Barão Cigano, entre outras novidades. O concerto contará ainda, entre outras intervenções, com a actuação pontual do Ballet da Ópera Estatal de Viena.