Alemã do Daesh acusada de deixar morrer à sede iraquiana de cinco anos

Mulher viajou para o Iraque, juntou-se aos jihadistas e casou. Depois teve uma “escrava” que não fez nada para salvar.

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Milhares fugiram de Mossul em 2017, durante os combates para expulsar o Daesh da cidade Erik De Castro/Reuters

Vozes como as de Nadia Murad, a jovem activista da minoria yazidi que ganhou o Prémio Nobel da Paz este ano, obrigaram o mundo a saber das atrocidades cometidas pelos membros do Daesh quando controlaram grandes cidades e vastas áreas da Síria e do Iraque. Nadia, feita escrava sexual em 2014, conseguiu fugir. Muitas raparigas não terão tido a mesma sorte: a Justiça alemã prepara-se para julgar uma mulher que deixou morrer à sede uma iraquiana de cinco anos.

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Vozes como as de Nadia Murad, a jovem activista da minoria yazidi que ganhou o Prémio Nobel da Paz este ano, obrigaram o mundo a saber das atrocidades cometidas pelos membros do Daesh quando controlaram grandes cidades e vastas áreas da Síria e do Iraque. Nadia, feita escrava sexual em 2014, conseguiu fugir. Muitas raparigas não terão tido a mesma sorte: a Justiça alemã prepara-se para julgar uma mulher que deixou morrer à sede uma iraquiana de cinco anos.

Jennifer W, como as autoridades identificam esta mulher de 27 anos, deixou a Alemanha a caminho da Turquia em Agosto de 2014, dois meses depois de o grupo jihadista ter conquistado sem grandes dificuldades Mossul, a segunda maior cidade iraquiana, no Norte do país. Viajou para a Síria e depois para o Iraque, onde se juntou ao Daesh, que acabara de proclamar um "califado".

Recrutada para a espécie de polícia da moralidade formada pelos jihadistas, Jennifer integrou uma patrulha que passava os dias nos parques de Mossul ou de Falluja, a cidade junto à fronteira da Síria que o grupo também controlava.

“A sua função era garantir que as mulheres cumpriam as regulamentações em matéria de comportamento e roupas estabelecidas pela organização terrorista”, lê-se num comunicado divulgado pelos procuradores alemães da cidade de Munique. “Para intimidar [as mulheres], a acusada usava uma metralhadora de tipo Kalashnikov​, uma pistola e um colete de explosivos.”

Como habitualmente, Jennifer casou com um membro do Daesh. E como acontecia muitas vezes, o casal foi a um dos mercados de escravos e comprou uma rapariga, neste caso, “uma escrava para trabalho doméstico”. A maioria dos “prisioneiros de guerra” que eram vendidos pertenciam a minorias étnicas ou religiosas que tinham recusado converter-se ao islão sunita – muitas eram adolescentes ou crianças, já que os homens eram quase sempre executados. Grande parte pertencia à comunidade yazidi; a Justiça alemã considera muito provável que fosse o caso desta criança.

O casal levou a menina para casa e ela viveu com eles até adoecer. “Depois de a criança ter caído doente e feito xixi no colchão, o marido da acusada acorrentou-a no exterior da casa como castigo e deixou-a morrer de sede debaixo de um calor sufocante”, descreve a procuradoria. A acusada, acrescenta-se, “permitiu ao seu marido que o fizesse e não tentou nada para salvar a menina”.

Jennifer vai ser julgada por crimes de guerra, assassínio e delitos de armas num tribunal de Munique que trata de casos de terrorismo e segurança do Estado. As acusações já foram apresentadas mas o início do processo ainda não está marcado.

Em Janeiro de 2016, meses depois da morte da criança, a acusada foi à embaixada da Alemanha em Ancara para pedir um novo passaporte. Os serviços de segurança turcos prenderam-na à saída da representação diplomática e foi extraditada para o seu país dias mais tarde. Inicialmente, foi-lhe permitido que regressasse a casa, no estado da Baixa Saxónia.

“Desde então o seu objectivo declarado tem sido regressar a território do Estado Islâmico”, dizem os procuradores. Foi detida em Junho pela polícia alemã, quando tentava viajar de novo para a Síria – agora que o Daesh já não controla nem Mossul nem Falluja e perdeu mais de 90% do território que chegou a conquistar. Se for considerada culpada, Jennifer pode ser condenada a prisão perpétua.