Na Comporta, a sustentável leveza de (continuar a) ser Sublime
De uma casa de férias nasceu um pequeno projecto de turismo que a Fugas visitou há três anos e do qual existem apenas memórias. O Sublime Comporta cresceu e, além de excepcional, tornou-se monumental. A sua singularidade, porém, mantém-se nos pormenores.
São mais de 80 quartos, a maioria distribuída por villas que se espraiam por 17 hectares (qualquer coisa como 24 campos de futebol), um restaurante com assinatura do chef Tiago Santos e um spa totalmente redesenhado e repensado para ser um casulo de tranquilidade. Mas a primeira coisa que nos incitam a fazer é um passeio pelo jardim de ervas aromáticas, desenhado por Graça Saraiva, mentora do projecto vilarrealense Ervas Finas. Com pouco mais de um ano, o jardim mostra como o solo abençoou esta ideia em forma de múltiplas cores e de inúmeros aromas que se mesclam formando um perfume exclusivo. E é precisamente nesta ideia de exclusividade nos detalhes que todo o Sublime continua a assentar, ainda que o projecto, assinado pelos arquitectos José Alberto Charrua e Miguel Câncio Martins, já não seja o mesmo que a Fugas visitou pela primeira vez em 2015.
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São mais de 80 quartos, a maioria distribuída por villas que se espraiam por 17 hectares (qualquer coisa como 24 campos de futebol), um restaurante com assinatura do chef Tiago Santos e um spa totalmente redesenhado e repensado para ser um casulo de tranquilidade. Mas a primeira coisa que nos incitam a fazer é um passeio pelo jardim de ervas aromáticas, desenhado por Graça Saraiva, mentora do projecto vilarrealense Ervas Finas. Com pouco mais de um ano, o jardim mostra como o solo abençoou esta ideia em forma de múltiplas cores e de inúmeros aromas que se mesclam formando um perfume exclusivo. E é precisamente nesta ideia de exclusividade nos detalhes que todo o Sublime continua a assentar, ainda que o projecto, assinado pelos arquitectos José Alberto Charrua e Miguel Câncio Martins, já não seja o mesmo que a Fugas visitou pela primeira vez em 2015.
Por essa altura, já se percebia que o Sublime, então com apenas 14 quartos, tinha por onde crescer. Mas nada nos faria supor que aquele número seria tão rapidamente multiplicado por quase seis. E o convite para fazer o reconhecimento desta nova faceta do resort fez-nos temer o pior. Teria o Sublime perdido o lado intimista que Cláudia Lima Carvalho descrevia na Fugas, há mais de três anos, ao exaltar “a certeza de que nunca andarão pessoas a mais por aqui”?
A pouco mais de uma hora de Lisboa, a palavra Retreat (retiro), adoptada para a sua designação, assenta que nem uma luva no Sublime. Primeiro, porque, desengane-se quem ache o contrário, o facto de ser já de um tamanho considerável não ajuda na hora de encontrar a sua entrada no meio na EN 261-1, que liga Tróia a Grândola. Por isso, mesmo servidos por sistema de navegação, reduzimos a velocidade até encontrarmos um portão mais vulgar do que poderíamos supor para um lugar que ostenta no seu nome a palavra “sublime”.
Mas ainda que este seja um espaço de luxos, estes nem sempre são os mais óbvios. O asfalto dá lugar a um caminho de terra batida que nos obriga a circular ainda mais devagar. Por alguns segundos não avistamos mais que árvores que, pelos seus tamanhos, mostram bem que estas terras são mais suas do que de qualquer outro ser que por aqui respire. Pequenas placas em madeira, que quase passam despercebidas, guiam-nos até à recepção, instalada num edifício que lembra um grande chalé de montanha, no qual imperam o vidro e a madeira e dentro do qual, ainda do lado de fora, percepcionamos conforto.
Ao contrário do que receáramos, não andamos por aqui aos encontrões com ninguém – mesmo num dia em que a lotação está bastante composta e a uma hora em que, já na recta final do dia, os confortáveis lugares em torno do bar, e enquanto o espaço do restaurante ainda não iniciou o serviço de jantar, vão sendo ocupados por uma bebida e dois dedos de descontraída e pouco barulhenta conversa.
Com os pés na natureza
O número de quartos hoje coloca o Sublime entre os hotéis com maior capacidade na mui procurada região. Mas nem por isso se pode dizer que a densidade de hóspedes se tornou tal que tenha desvirtuado a intenção de criar aqui o tal retiro. Os 17 hectares têm sido sabiamente aproveitados para que, mesmo com tantos novos alojamentos, de diferentes tipologias, a sensação de estarmos quase que isolados, em comunhão com a natureza, se mantenha.
Somos levados num pequeno carrinho de golfe até à villa que nos foi reservada: uma opção de alojamento térrea que se pode apresentar em várias configurações: como dois alojamentos só de quarto; como dois, em que um deles beneficia de uma ampla sala com lareira com uma pequena cozinha e alpendre com piscina para tornar os dias de Verão mais suportáveis; ou como uma única residência, ideal para famílias ou para casais amigos, dispondo de dois quartos e da sala comum. Detalhe: na minicozinha, encontram-se todos os apetrechos necessários para confeccionar e servir refeições com todo o requinte (ainda que as iguarias dos espaços de refeições, desde o bar com comidas rápidas até ao restaurante montado no centro do jardim aromático, obriguem a pelo menos uma experiência).
Pelos aposentos, a tónica sublime volta a estar na simplicidade, ainda que tudo se apresente em espaços desafogados e com uma primorosa decoração que revela a atenção dispensada até ao mais ínfimo dos pormenores e pela qual os materiais da natureza em torno ganham lugar de destaque – seja pela utilização directa, seja pela paleta de cores terra.
Depois da majestosa sala, cuja lareira à frente de uns confortáveis sofás quase nos convence a desistir do jantar, o espaço para dormir não é menos acolhedor. E com a cereja quase obrigatória: paredes envidraçadas a quase toda a volta da cama que nos permitirão acordar no dia a seguir com os pés apontados para uma natureza que parece intocada – uma visão à qual nos rendemos, aproveitando a ronha da cama e praticando a indulgência com a nossa própria preguiça; afinal, a contemplação, diz-se, faz parte do crescimento da alma... E mesmo que não se acredite nestes desígnios mais espirituais, todo o ambiente em torno faz-nos respeitar o dito “retiro”.
O bem-estar da natureza
Desde o início, quando os proprietários, Gonçalo e Patrícia Pessoa, um comandante e uma hospedeira de bordo da TAP, decidiram construir na Comporta o que, achavam, seria a sua casa de férias, que tudo parece estar em constante mutação pelo Sublime Comporta. Tal como a paisagem natural, também a própria unidade se vai transformando ao sabor sobretudo da procura (“mais estrangeiros”, confirmam as nossas suspeitas, mas com os clientes lusos a crescerem). E não foi apenas a parte do alojamento que soube crescer. Pelo spa também se registam grandes mudanças, sobretudo no conceito, hoje mais próximo de todo o restante projecto.
A natureza volta, assim, a dar cartas pelas salas de tratamento onde as experiências propostas representam um compromisso de “responsabilidade para com o planeta”, a começar pela marca de cosmética seleccionada, a Amala Organic Skincare, cujos produtos são conhecidos por serem 100% biológicos com conservantes de extractos naturais. Mas não é só dentro de boiões que se encontram os ingredientes para tratamentos que prometem “equilibrar corpo e mente”. Toda a natureza circundante foi convidada a ter um papel de protagonista, com o arroz e o sal da região, assim como as plantas colhidas diariamente do jardim aromático que nos conquistou logo à chegada a integrarem uma experiência – bem-sucedida, refira-se – de relaxamento e de comunhão com a natureza.
Agora, o espaço prepara-se para encerrar portas, de 8 de Janeiro a 15 de Fevereiro, para “um período de descanso e de formação”, explicam-nos. Mas, arriscamos, como é necessário em qualquer “salto” de crescimento, este será também tempo de maturação.
A Fugas ficou alojada a convite do Sublime Comporta