Onde vamos em 2019? O novo ano tem o mundo à espera

É um ano de efemérides e muita história – alguma recuperada, outra recordada. Vamos à boleia dela aqui ao lado e ao outro lado do globo, a cidades medievais e futuristas, ao campo e à praia. Pela estrada fora, não importa que estradas sejam.

Fotogaleria

Estados Unidos

Há muitos países nos Estados Unidos da América e muitas mais razões para os visitar: Norte, Sul, Este, Oeste e todos os meios pelo meio. E em 2019 os EUA vão ficar ainda mais próximos de Portugal, cortesia das novas rotas da TAP. A Nova Iorque (Newark), Boston e Miami vão juntar-se três novos destinos – Washington, Chicago e São Francisco, a capital do país, a maior cidade do grande “centro” e a emblemática cidade da liberdade (e tolerância) social.

Foto
São Francisco (Estados Unidos) Robert Galbraith/Reuters

Costa leste, midwest e costa oeste vão ficar à distância de um voo e, com isso, os EUA vão “encolhendo” para os viajantes portugueses, que terão mais oportunidades para explorar as diversas facetas do país. De Chicago, por exemplo, para além da vibração local e da arquitectura cada vez mais arrojada, pode partir-se na mítica rota 66, a “estrada-mãe” de Steinbeck, pelos meandros da “small town America” até ao sol californiano, às portas de Los Angeles.

E se é de “estrada fora” que falamos, desde São Francisco, onde as casas vitorianas estão empoleiradas em ruas impossivelmente inclinadas olhando a famosa baía, é o Big Sur que se abre com as suas deambulações pela costa californiana. Para novamente terminar em Los Angeles, onde em 2019 abrirá “o” grande museu do cinema.

De volta à costa leste, Washington D.C., o coração político da nação, vem juntar-se aos três destinos anteriores da TAP e no ano em que o país reflecte sobre a sua fundação é a ponte perfeita para descobrir a história dos EUA. E a sua “pré-história” enquanto nação, com o primeiro passo dado no vizinho estado da Virgínia, onde em 1607 se fundou a primeira colónia inglesa.

E, onde, em 1619, se desenrolaram eventos fulcrais para o que haveria de ser os EUA: a primeira assembleia legislativa no território das colónias, a chegada dos primeiros escravos africanos e do primeiro grande contingente de mulheres, a celebração do primeiro dia de Acção de Graças. 1619 é considerado um ano fulcral para o país e os seus 400 anos vão ser assinalados durante todo o ano na Virgínia, a “mãe de presidentes” (oito oriundos do estado, mais do que qualquer outro), que se estende desde a baía de Chesapeake até às Montanhas dos Apalaches – e quantos mundos cabem aqui?

Foto
Macau Nelson Garrido

Macau e Delta do Rio das Pérolas (China)

Em Dezembro de 2019 terão passado 20 anos desde o “regresso” de Macau à nação-mãe chinesa e o que terá mudado no território que durante quase 500 anos ficou sob administração portuguesa?

Cada vez mais se afasta da matriz identitária portuguesa, vai ganhando terra ao mar, faz parte de recordes (a maior ponte marítima do mundo, que liga a região autónoma a Hong Kong) e cada vez mais se afasta do epíteto de “Las Vegas do Oriente” – não, o jogo não acabou, pelo contrário, já ultrapassou a cidade norte-americana em número de casinos e em receita, é um destino de jogo sem rival. Tudo para conferir sem perder oportunidade de assistir in loco ao despertar da China.

Aqui mesmo, do lado do continente, na província de Cantão, desenvolve-se a agora chamada Greater Bay Area, no Delta do Rio das Pérolas (Macau e Hong Kong são duas das 11 cidades) a resposta chinesa a São Francisco e a Tóquio, que tem na capital homónima, Cantão, um dos principais atractivos (e uma paragem obrigatória para quem aprecia a gastronomia chinesa).

E para responder a Silicon Valley, a China apresenta, também nesta zona do país, Shenzen, um pólo de vanguarda tecnológica e de design. É a capital criativa do país e apresenta-se acompanhada de uma cada vez mais vibrante vida artística reflectida nas inúmeras galerias (que vêm fazer companhia aos museus que têm aberto nos últimos anos, como a Sociedade do Design, em colaboração com o londrino Victoria & Albert Museum, ou o Museu de Arte Contemporânea), que estão a dar vida a antigos bairros industriais, juntamente com salas de concertos, cafés e restaurantes, assumindo-se como referencial de vivência cosmopolita na nova China.

Foto
Itália Tony Gentile/Reuters

Matera (Itália)

A primeira vista de Matera, sobretudo se for nocturna, pode ser hipnotizante: uma ravina onde se abrem “grutas” resulta quase como uma colmeia. Humana. Ou um jogo de Tetris, com as cavernas e as suas entradas indisciplinadas, a esconder casas, igrejas, até mosteiros.

São as chamadas sassi (literalmente: pedras), escavadas em calcário, algumas projectando-se fora da parede rochosa, o que faz com que os telhados sejam também ruas em alguns casos. Na década de 1950, as sassi, que chegaram a ser mil e a albergar 15 mil pessoas, foram interditas, por falta de segurança e condições de vida – por esses dias, a reputação de Matera entre os italianos andava pelas ruas da amargura, sobrando histórias de coabitação entre humanos, galinhas, porcos em espaços sem água canalizada e ventilação.

Recentemente, regressou-se a elas – em estilo: casas privadas, ateliers de artistas, hotéis, restaurantes que mantiveram as características originais com o conforto (e segurança) modernos. Os labirintos e becos antes imundos tornaram-se o orgulho da cidade do Sudeste de Itália, onde a ocupação humana se conta em milénios, sete, e onde o passado (os sassi, “pedras”, o conjunto do género mais extenso da Europa) exibido na garganta (Gravina) convive com a cidade mais moderna que se estende no planalto (Murgia, também nome de parque natural próximo) – Património da Humanidade e, em 2019, Capital Europeia da Cultura (CEC).

Os temas que a CEC vai aprofundar, como “comunidades e disrupções”, “futuro antigo”, “reflexões e conexões”, vão traduzir-se numa série de eventos culturais e artísticos que incluem museus pop-up, instalações, concertos (nomeadamente pela vienense Vegetable Orchestra, que reúne as duas formas de expressão artística favoritas em Matera, a música e a comida – também haverá workshops, jantares temáticos e pequenos concertos com os participantes das oficinas) e espectáculos multidisciplinares com parceiros tão inesperados quanto o CERN – Quantum Danza incluirá dança, teatro e música electrónica inspirados pela física quântica.

Um bom pretexto para descobrir os segredos subterrâneos da região de Basilicata (aeroporto mais perto: Bari). E não só: a catedral, por exemplo, do século XIII, é um repositório artístico de vários estilos, desde pinturas bizantinas até aos frescos do século XVII.

Foto
França Giles Penfound/Reuters

Normandia (França)

Aldeias, vilas e cidades pitorescas, paisagem delicada debruada de castelos românticos, um litoral que parece intocado ou tocado apenas na maneira exacta para compor postais. A Normandia é uma das regiões mais cénicas de França. Vêmo-lo nas pequenas cidades portuárias, como Honfleur, casas esguias coloridas, como narcisos no Sena a fazer-se estuário, ou Cherbourg, com ou sem guarda-chuva sempre romântica; e nas grandes, como Le Havre, que depois da devastação da II Guerra Mundial se reconstruiu em ousadia de concreto.

Desfrutamos dela tanto na capital, Rouen, cidade à escala humana e charme iniludível, como nas pequenas aldeias, como Giverny, musa mais constante de Claude Monet, que aqui viveu durante décadas e imortalizou em centenas de obras (a casa, o jardim e o lago, ainda com nenúfares, estão abertos). Vivêmo-la junto ao mar em elegância na famosa (e sempre cinematográfica) Deauville e em discrição natural em Etretat. Percorremo-la no passado, no medieval Monte de Saint Michel, finalmente “devolvido” à água (e à irreprimível aura de mistério).

Há, contudo, história mais recente a repousar na Normandia e história que mudou o curso da história mundial recente. O Dia D, o dia do desembarque da Normandia, e a Batalha da Normandia, que se seguiu, foram o volte-face final da II Guerra Mundial: em 2019 celebra-se o 75.º aniversário desse momento em que os aliados “ganharam” a guerra e todo o mundo vai convergir para as praias da Normandia onde o desembarque decorreu (e que são candidatas a Património Mundial da UNESCO) e que passaram a representar os ideais de paz, liberdade e, sobretudo, de reconciliação. É nesse espírito que se assinalará o dia 6 de Junho, a data exacta do desembarque, e todo o Verão se viverá sob esses auspícios na Normandia, uma espécie de museu a céu aberto da II Guerra Mundial.

Foto
Novi Sad (Sérvia) RolfSchulten/GettyImages

Novi Sad (Sérvia)

É a segunda maior cidade da Sérvia, mas Novi Sad permanece praticamente escondida, na sombra de Belgrado, como um segredo bem guardado. Parece, contudo, estar a chegar o tempo de mudança e é Novi Sad quem o reclama: em 2019 será a Capital Europeia da Juventude, uma espécie de preparação para 2021, quando será Capital Europeia da Cultura.

Uma e outra combinam bem com a imagem de Novi Sad como “casa” de um dos principais festivais de música da Europa, o Exit, que em 2017 atraiu 200 mil visitantes durante os seus quatro dias de duração, passados entre o rock mais ou menos alternativo, a electrónica, o metal e punk e a “música do mundo”. Quatro estilos, quatro palcos espalhados pela cidade, o principal na fortaleza Petrovaradin, que é o cartão-de-visita da cidade – tem a alcunha de “a Gibraltar do Danúbio”, estando altaneira sobre o grande rio que aqui em Novi Sad se faz bailarino, desenhando um “s”.

E também se faz porto de lazer para os cruzeiros que atravessam a Europa (e a sua história) embalada pelas águas do rio que raramente é azul. É na órbita da fortaleza, que também se situa o bairro histórico de Stari Grad (“cidade velha”), com concentração de museus, monumentos, cafés, restaurantes e lojas num perímetro desenhado por igrejas (e uma sinagoga) – é aqui que melhor flui a continuidade histórica desta cidade também conhecida como a “Atenas sérvia.

Na “cidade velha” houve o primeiro assentamento de eslavos, Baksa (século XIII), que passou para o domínio húngaro, depois otomano, depois austríaco até à sua incorporação no recém-criado Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, em 1918 (depois Jugoslávia): ao longo de todos estes séculos, a população eslava foi sempre a maioria, mas várias nacionalidades definiram a cidade, ou não estivesse Novi Sad numa encruzilhada com a Hungria, Croácia e Roménia.

A atravessar uma onda de revitalização com a renovação de várias fachadas e edifícios históricos (quase todos do século XIX em ponte com a arquitectura realista soviética do século XX, sobretudo residencial), é uma antiga zona industrial que concentra a nova onda de energia criativa. É conhecido por “bairro chinês” mas não se espere a típica chinatown: as antigas fábricas estão a ser tomadas por teatros, galerias de arte, salas de concertos e clubes e a afirmar-se como um destino “alternativo”.

Foto
Panamá Carlos Jasso/Reuters

Panamá

A capital do Panamá, a Cidade do Panamá, está de parabéns em 2019 e a promessa de festa é irrecusável. São 500 anos que se celebram na cidade que até é mais conhecida pelos arranha-céus e pelas compras que proporciona (é conhecido na vizinhança pelos preços baixos) do que pela sua vetustez. E isto no país cujo nome é mais associado à monumental obra de engenharia moderna que é o canal homónimo (recentemente renovado), ou até ao chapéu que lhe roubou o nome (embora seja de origem equatoriana), do que propriamente pela sua história e personalidade.

E o Panamá, verdadeira encruzilhada do continente americano, ponte entre o Atlântico e o Pacífico, onde a América Central dá lugar à América do Sul, é muito mais do que um istmo e canal – não deve muito ao tamanho, mas compensa a escassez territorial com uma impressionante variedade natural e cultural. Do mar das Caraíbas ao oceano Pacífico, as praias de areia branca proporcionam snorkeling entre corais ou ondas dignas de surfar, avistamento de baleias e natação sincronizada – com tartarugas; as florestas tropicais são ponto de encontro com povos indígenas, palco de desportos de aventura com mais ou menos adrenalina e santuários de biodiversidade, os seus cumes de brumas intensas oferecem paisagens de mundos perdidos – diríamos que é mais ou menos a Costa Rica, sem a projecção internacional.

E, depois, a capital aniversariante, hesitante entre uma espécie de Dubai, ou Miami, como tantos sublinham, e o tal passado que foi recentemente recuperado. Agora, o casco viejo apresenta-se de cara lavada (e colorida), o mar ficou mais próximo com a Cinta Costera e o Mercado de Mariscos continua uma tentação. Enhorabuena!, Panamá!

Foto
Plovdiv Getty Images

Plovdiv (Bulgária)

Há cidades que parecem poder arrumar-se perfeitamente na categoria de capital cultural e Plovdiv é uma delas. A segunda maior cidade da Bulgária é um daqueles locais de “reunião” de várias civilizações e se é pouco conhecida pode ser que o ano como Capital Europeia da Cultura ajude a mudar o cenário.

É uma das mais antigas urbes europeias continuamente habitadas – e, coincidência, estende-se por sete colinas: por lá passaram romanos, bizantinos, otomanos. A pegada destes impérios está bem impressa na sua arquitectura, com vestígios romanos a espreitar por toda a cidade e a imporem-se no coliseu, um dos maiores encontrados (apenas em 1972) e aonde voltaram os espectáculos; as casas, ou melhor, mansões, que pintam a cidade velha de vários tons até podem ser do século XIX e do período chamado de “revivalismo nacional”, mas mantêm, por exemplo, as características varandas otomanas.

Aliás, caminhar pelas ruas empedradas da cidade velha é baloiçar entre o Oriente e o Ocidente, o que até é apropriado para uma cidade que se situa bem no centro da Bulgária. E longe das multidões da capital Sofia e do litoral, a cidade que em 1999 recebeu o Mês da Cultura vai agora ser anfitriã de 12 meses de eventos culturais (mais de 500), alguns idealizados de raiz, outros, já habituais, a ganharem nova dimensão.

Foto
Polónia Paulo Pimenta

Polónia

Há vários pretextos para viajar até à Polónia em 2019. Efemérides, como os 80 anos da invasão alemã e do início da II Guerra Mundial e eventos, como Capital Europeia da Gastronomia, em Cracóvia, à cabeça, embora tanto a história como a gastronomia sejam sempre prato do dia em qualquer visita à Polónia.

O século XX deixou marcas intensas no país e podemos dizer que a invasão nazi é o grande ponto de charneira, não só para o que se passou durante a II Guerra Mundial (os campos de extermínio construídos em território polaco, a Insurreição e a consequente destruição de Varsóvia, os milhões de mortos polacos), como para as décadas posteriores, na órbita da URSS – o Turismo da Polónia está apostado em atrair os amantes da história e o próximo ano é um pretexto incontornável.

Talvez a gastronomia não seja o motivo mais evidente de orgulho entre os polacos (muitos surpreendidos com a distinção de Cracóvia) mas talvez isso mude. Afinal, o renascimento de um certo sentido de identidade nacional também tem passado pela recuperação de pratos tradicionais – não é o caso dos pieroggi ou da sopa zurek (dentro do pão ou em prato): serão os mais destacados representantes destes, indispensáveis em qualquer restaurante.

O que se pode esperar, pela nossa experiência em Cracóvia, é, então, a tradição polaca com roupagens modernas ou revisitada em fusões mais ou menos surpreendentes, que dão novas imagens aos pratos “da avó”. Tudo isto na “cidade eterna” polaca – pelo número de igrejas (e clero abundante) e pela resistência aos contratempos da história: a cidade velha de Cracóvia é uma máquina do tempo. Da Idade Média até hoje, continua a ser o verdadeiro centro da cidade, a “baixa” com várias “baixas” dentro – os habitantes vivem-na quotidianamente e os turistas fazem como eles.

Foto
Samarcanda Halil Sargikaya/GettyImages

Samarcanda (Uzbequistão)

O seu nome apenas já evoca o exotismo das aventuras longínquas do tempo em que as viagens eram o caminho. Samarcanda é paragem mítica da igualmente mítica Rota da Seda, mais do que um percurso comercial, um mapa de encontros de povos e culturas. E se entre a Europa e a Ásia vários trajectos se desenharam, uma coisa foi certa: Samarcanda sempre foi uma encruzilhada entre os continentes e disso a cidade uzbeque tem testemunhos que sobejam.

É preciso, porém, não desanimar perante a vista da cidade mais moderna (assinatura da Rússia czarista e da URSS) e persistir até chegar, descascar as camadas. A arquitectura medieval do centro histórico até pode parecer humilde, mas na Praça Registan explodem os azulejos esmaltados (em majólica) adornados de dourados e caligrafia nos edifícios religiosos, sobretudo nas três madrassas imponentes dos séculos XIV e XVI, e de repente o tempo volta para trás e esperamos ver novamente as caravanas carregados de maravilhas dignas da caverna de Ali Babá atravessando altas montanhas e desertos áridos.

À falta de tesouros dourados, as lojas de artesanato começam a enxamear a segunda cidade do Uzbequistão, outrora capital de um império vasto, que se estendia por grande parte da Ásia e que faz de Samarcanda, a par com Bucara, dois importantes centros da cultura tajique-persa (Bucara recebe, aliás, anualmente, o Festival de Seda e Especiarias). O antigo oásis continua a ter artesãos da cerâmica, tapeçaria, bordados, cunhagens – mas agora não chegamos de camelo ou a cavalo. E Samarcanda pode já não ser a encruzilhada de culturas de outros tempos, mas continua a ser um belo sonho de viajante.

Foto
Singapura Vivek Prakash/Reuters

Singapura

A República de Singapura pode ter pouco mais de meio século, mas em 2019 a cidade-estado vai celebrar o seu bicentenário. Foi em 1819 que Sir Stamford Raffles estabeleceu na ilha (que havia sido saqueada por portugueses uns séculos antes) um entreposto comercial do império britânico e este é o momento que Singapura reconhece como o nascimento da cidade moderna que só se tornaria independente em 1965.

No próximo ano, a cidade futurística vai, então, celebrar e reflectir sobre o seu passado – em grande estilo: por exemplo, a história andará pelas ruas em grandes projecções-instalações multimédia para proporcionar experiências imersivas. Não passará incólume o aniversário redondo, pois se algo 2018 nos mostrou sobre Singapura é que, quando quer, festeja como ninguém (veja-se o filme Crazy Rich Asians, que até já tem direito a roteiro na cidade).

Algo que já tem andado na mira de viajantes, que começam a deixar de ver a cidade como uma boa plataforma-giratória para viagens pela Ásia – e até começam a ver para além dos arranha-céus extravagantes que oferecem mil e um prazeres (não só compras, mas piscinas infinitas penduradas entre vegetação, por exemplo). É que além do brilho emanado pelo aço e vidro, Singapura retém um certo charme colonial britânico, o bairro chinês é uma vertigem, as compras são uma fé (das marcas mais exclusivas às locais) e o verde imiscui-se por todo o lado – a luxuriante vegetação até está a ganhar terreno, em jardins e parques que vão do futurista Gardens by the Bay ao histórico Parque de Fort Canning, sem esquecer o ícone que são os Jardins Botânicos.

À mesa, Singapura é um caleidoscópio de sabores – e preços: os restaurantes estrelas Michelin e centenas de bancas competem entre si (há uma banca em Chinatown que tem estrela – dizem que é a refeição “estrelada” mais barata do mundo) e a noite espraia-se dos bares de cocktails mais elegantes até aos clubes de mais puro rock (com tudo o que é dançável pelo meio).

Foto
Suíça Denis Balibouse/Reuters

Vevey (Suíça)

Não é o acontecimento do século, mas quase: acontece, no máximo, cinco vezes em cada cem anos, a Fête des Vignerons. E 2019 é uma dessas cinco vezes, a primeira do terceiro milénio (a última festa aconteceu em 1999). É em Vevey que os suíços celebram a vitivinicultura, as suas tradições e, claro, o vinho da região mais representativa num país que não é especialmente conhecido por ele, Lavaux, famosa pelos vinhos brancos secos produzidos a partir da casta Chasselas.

O que começou em 1797 como uma simples festa das vindimas cresceu e é agora uma celebração que dura três semanas (no próximo ano, de 20 de Julho a 11 de Agosto) e já mereceu o reconhecimento da UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade. O tiro de partida em 2019 vai ser dado numa cerimónia extravagante, ao estilo da abertura dos Jogos Olímpicos (o coreógrafo dos últimos jogos de Inverno, em Sochi, já foi recrutado). Depois, os espectáculos e apresentações vínicas prosseguirão na praça do mercado nas margens do lago Léman e no centro da cidade – sem esquecer as visitas aos vinhedos, afinal o motivo de tudo: um comboio sai todas as horas para percorrer as vinhas, dispostas em socalcos.

Foto
Egipto KHALED ELFIQI / Lusa

Egipto

É o clássico dos clássicos das viagens, mas o turismo tem andado de costas voltadas para o Egipto, consequência da situação política instável. Nos anos mais recentes, os viajantes têm regressado e em 2019 espera-se que venham em força.

O engodo é quase irrecusável: no início do ano vai abrir o gigantesco (quase 500 mil metros quadrados) Grande Museu Egípcio, com vista privilegiada para as pirâmides (e esfinge) de Gizé. Vai ser o maior museu do mundo dedicado a uma única civilização, que é também uma das que mais alimenta a imaginação mundial. E, no novo museu, serão 50 mil os artefactos em exposição, incluindo o tesouro de Tutankhamon, o rei-menino cujo túmulo foi descoberto intacto no Vale dos Reis: será a primeira vez que as cinco mil peças serão mostradas juntas, compondo a visão de “coisas maravilhosas” que Howard Carter anunciou em 1922.

E porquê ficar pelo museu, quando o mais impressionante do Antigo Egipto está à distância de um cruzeiro pelo vale do Nilo? Há-os para várias bolsas e, entre Luxor e Assuão (ou vice-versa), pode entrar no verdadeiro túmulo de Tutankhamon e de outros faraós, conhecer templos impressionantes, desfrutar de pores do sol inigualáveis e da hospitalidade e alegria do país. Mas o Egipto não é apenas faraónico: a capital, o Cairo, é um grande bazar da história – há de tudo, para todos, numa mistura alucinante.