Há um ingrediente especial para perder a barriga com exercício
Chama-se interleucina-6 e parece desempenhar um papel importante na redução da gordura visceral quando se pratica exercício físico, segundo um artigo de uma equipa de cientistas na Dinamarca publicado na revista Cell Metabolism.
Nada como um artigo sobre barrigas gordas para ler entre as festas de Natal e passagem de ano, enquanto temos bem à nossa frente os estragos que os excessos podem causar. Uma equipa de investigadores da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, realizou uma experiência com homens e mulheres com pronunciado tecido adiposo visceral, também conhecido como barriga gordinha. O ensaio confirmou a importância de uma molécula chamada interleucina-6 (que normalmente é produzida pelas nossas células para estimular a resposta imunitária e reagir, por exemplo, a infecções) na redução da gordura abdominal. Em resumo, os testes mostraram que quando o receptor desta molécula não está presente, o exercício físico não tem qualquer efeito de redução da gordura da barriga.
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Nada como um artigo sobre barrigas gordas para ler entre as festas de Natal e passagem de ano, enquanto temos bem à nossa frente os estragos que os excessos podem causar. Uma equipa de investigadores da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, realizou uma experiência com homens e mulheres com pronunciado tecido adiposo visceral, também conhecido como barriga gordinha. O ensaio confirmou a importância de uma molécula chamada interleucina-6 (que normalmente é produzida pelas nossas células para estimular a resposta imunitária e reagir, por exemplo, a infecções) na redução da gordura abdominal. Em resumo, os testes mostraram que quando o receptor desta molécula não está presente, o exercício físico não tem qualquer efeito de redução da gordura da barriga.
Uma rápida pesquisa mostra que a associação entre a interleucina-6 (IL-6) e o exercício físico não é um facto novo, assim como também não é inédita a relação da IL-6 com a obesidade. O que este estudo faz agora é juntar estes três “actores” e concentrá-los num local específico do nosso corpo: a barriga. Mais propriamente, a indesejada e pouco saudável gordura visceral que arredonda o perímetro abdominal.
O comunicado de imprensa sobre o artigo publicado esta quinta-feira na revista Cell Metabolism, do grupo Cell, aproveita o “gancho” do calendário: “Alguns de vocês podem ter feito uma resolução de Ano Novo para atacar o ginásio e lidar com essa gordura irritante da barriga. Mas já se questionaram sobre como a actividade física produz esse efeito desejado?” Para ajudar a responder a esta pergunta, os investigadores separaram homens e mulheres obesos em quatro grupos, que testaram duas variáveis: o exercício físico e a acção da IL-6.
“Como era expectável, uma intervenção de 12 semanas consistindo em exercício de bicicleta diminuiu a gordura abdominal visceral em adultos obesos.” No entanto, refere o artigo, o impressionante é que este efeito de redução desapareceu nos participantes que fizeram exercício físico mas foram tratados com um medicamente que bloqueia a sinalização da interleucina-6 e que está actualmente aprovado para o tratamento da artrite reumatóide. Além disso, o tratamento com este fármaco também aumentou os níveis de colesterol independentemente da actividade física.
Assim, ao longo de 12 semanas, um total de 53 participantes receberam doses intravenosas do referido fármaco ou de uma solução salina (como placebo) a cada quatro semanas, combinadas com ausência de exercício ou várias sessões na bicicleta de 45 minutos por semana. Os investigadores usaram o exame de ressonância magnética para avaliar a massa de tecido adiposo visceral no início e no final do estudo.
“Nos grupos de placebo, o exercício reduziu a massa de tecido adiposo visceral numa média de 225 gramas, ou 8%, em comparação com nenhum exercício. Mas o tratamento com o fármaco eliminou este efeito”, referem os cientistas. Aliás, quando comparados os grupos que praticavam exercício regular percebeu-se que, mesmo com a actividade, o grupo que tomou o fármaco que bloqueia a acção da IL-6 aumentou a massa de tecido adiposo visceral em aproximadamente 278 gramas. Os níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL, conhecido como o “colesterol mau”) aumentaram também nos indivíduos que não beneficiaram da IL-6 .
“Tanto quanto sabemos, este é o primeiro estudo a mostrar que a interleucina-6 tem um papel fisiológico na regulação da massa adiposa visceral em humanos”, diz Anne-Sophie Wedell-Neergaard, da Universidade de Copenhaga, uma das autoras do artigo, citada no comunicado de imprensa.
Os autores sublinham que o estudo foi exploratório e não se pretendia avaliar um tratamento em ambiente clínico. Referem ainda que a IL-6 terá efeitos aparentemente opostos em situações de inflamação. “As vias de sinalização nas células imunitárias versus células musculares diferem substancialmente, resultando em acções pró-inflamatórias e anti-inflamatórias, por isso a interleucina-6 pode actuar de forma diferente em pessoas saudáveis e doentes”, explica Anne-Sophie Wedell-Neergaard.
Bastará uma injecção no futuro?
Já se sabe que a gordura abdominal está associada a um risco aumentado de doenças cardiometabólicas, mas também de cancro, perturbações no sistema nervoso central e mortalidade em geral. Sabe-se também que a actividade física reduz o tecido adiposo visceral, que envolve os órgãos internos da cavidade abdominal. Porém, os mecanismos que estão subjacentes a esse fenómeno ainda não foram totalmente esclarecidos. “Todos nós sabemos que o exercício promove a saúde, e agora sabemos também que a prática de exercício físico regular reduz a massa gorda abdominal e, portanto, também reduz potencialmente o risco de desenvolver doenças cardiometabólicas”, constata a cientista, acrescentando que a suspeita recaiu sobre a IL-6 “porque regula o metabolismo energético, estimula a quebra de gorduras em pessoas saudáveis e é libertada do músculo-esquelético durante o exercício”.
No futuro, entre outras hipóteses, os investigadores vão tentar perceber se a IL-6 administrada através de uma injecção é capaz de reduzir a massa de gordura visceral por conta própria, sozinha e sem que seja preciso exercício físico. E se a resposta for positiva e não existirem quaisquer efeitos secundários indesejados? Isso é que seria uma boa notícia.
Até lá, os investigadores aconselham as pessoas que querem livrar-se da barriga gorda a praticar exercício. E até deixam uma dica para os mais desmotivados: “É importante sublinhar que, quando uma pessoa começa exercitar-se, pode aumentar o peso corporal devido ao aumento da massa muscular. Assim, além de medir seu peso corporal total, seria útil, e talvez mais importante, medir a circunferência da cintura para acompanhar a perda de massa gordurosa visceral e permanecer motivado.” Era melhor uma simples injecção, mas pronto.