Este ano estão a nascer mais 100 bebés por mês
O aumento de nascimentos teve alguma expressão na Guarda, em Viana do Castelo, em Portalegre e Santarém. Pelo contrário, registaram-se decréscimos com algum peso em Bragança e Évora.
Numa altura em que o primeiro-ministro António Costa elegeu a demografia como um dos maiores desafios do país e aproveitou a mensagem de Natal para apelar a uma “nova dinâmica” na natalidade, os últimos números indicam que 2018 vai terminar com mais nascimentos do que o ano anterior, mas o acréscimo é ligeiro, pouco mais de mil bebés do que no ano passado.
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Numa altura em que o primeiro-ministro António Costa elegeu a demografia como um dos maiores desafios do país e aproveitou a mensagem de Natal para apelar a uma “nova dinâmica” na natalidade, os últimos números indicam que 2018 vai terminar com mais nascimentos do que o ano anterior, mas o acréscimo é ligeiro, pouco mais de mil bebés do que no ano passado.
Entre Janeiro e Novembro deste ano, segundo os resultados do “teste do pezinho” adiantados pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), nasceram, em média, mais cerca de uma centena de bebés por mês. Foram 80.484, um aumento que ronda os 1,4% (mais 1107 "testes do pezinho" entre Janeiro e Novembro) e que serve apenas para compensar o decréscimo que se tinha verificado em 2017.
Os números do Programa Nacional de Diagnóstico Precoce (que cobre a quase totalidade de nascimentos, sendo assim um indicador seguro sobre a natalidade), que começaram por ser avançados nesta quarta-feira pela TSF e foram confirmados pelo PÚBLICO, indicam que há algumas, pequenas, oscilações entre regiões, mas o aumento de nascimentos teve alguma expressão na Guarda, em Viana do Castelo, em Portalegre e Santarém. Pelo contrário, registaram-se decréscimos com algum peso em Bragança e Évora. Já em Lisboa a natalidade subiu ligeiramente enquanto no Porto praticamente estagnou (menos 0,8%) este ano.
São números que, ainda assim, ficam longe dos registados nos anos da crise económica e financeira — quando se chegou a um mínimo de 82.367 nascimentos, em 2014. Depois desse ano, a natalidade subiu durante dois anos consecutivos, desceu em 2017 e volta agora a crescer, ainda que pouco, de acordo com os últimos dados do diagnóstico precoce.
Vários especialistas em demografia têm atribuído o aumento da natalidade verificado nos últimos anos (com uma interrupção em 2017) ao fenómeno dos nascimentos que terão sido adiados durante o período da crise económica e financeira. Mas a não renovação de gerações em Portugal já é uma realidade antiga — desde a década de 80 do século passado que não nascem 2,1 filhos por mulher em idade fértil, o necessário para haver reposição de gerações. Portugal tem, aliás, uma das mais baixas taxas de natalidade do mundo.
Os últimos dados do "teste do pezinho" são conhecidos no dia em que foi divulgada uma tese algo revolucionária da ex-directora da Royal Institution e especialista em gerontologia e demografia Sarah Harper. Citada pelo The Guardian, a especialista, que trabalha na Universidade de Oxford, defende que a diminuição das taxas de fecundidade deve ser um motivo para comemoração e não para alarme.
O problema é que as taxas de fecundidade variam muito – no Níger a taxa de filhos por mulher em idade fértil é de sete, por exemplo, enquanto em quase metade dos países do mundo, Portugal incluído, é inferior a dois. No caso de Portugal, tem-se ficado por cerca de 1,3 nos últimos anos.
Lembrando que os dados mais recentes indicam que, globalmente no mundo, as mulheres têm em média 2,4 crianças ao longo da vida, Sarah Harper recomenda que, em vez de nos focarmos no lado negativo do decréscimo populacional, olhemos para as actuais taxas de fecundidade pela positiva e acredita que não há sequer razão para os países se preocuparem com o decréscimo populacional.
Além de ser positivo do ponto de vista ambiental, ter menos filhos não representa uma ameaça, na sua opinião. "Essa ideia de que precisamos de muitas pessoas para defender o nosso país e para expandi-lo economicamente é realmente um pensamento antiquado", diz. Além disso, acrescenta, "um número menor de pessoas altamente educadas na economia do conhecimento da Europa superará amplamente o aumento de nossa população porque a automação vai assumir muitas das tarefas".