Pessoas (e não só) que vai valer a pena seguir em 2019

Agora que estamos quase a deixar 2018, olhamos para sete nomes (e uma medida) que vai valer a pena seguir em 2019. De António Costa, que terá um dos anos mais desafiantes da sua carreira política com três eleições no horizonte e muitos problemas por resolver, a João Félix, o novo craque do futebol do Benfica que o FC Porto enjeitou.

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Annegret Kramp-Karrenbauer

“AKK” – Tempo para se afirmar

Com um nome demasiado grande até para padrões alemães, a nova líder da CDU (União Democrata-Cristã, partido da chanceler Angela Merkel), Annegret Kramp-Karrenbauer, é mais conhecida como “AKK”. Não tem nada contra as iniciais; a ex-chefe de governo do estado federado do Sarre que a chanceler decidiu fazer sua sucessora — para já, na CDU; Merkel espera que o mesmo aconteça no governo quando ela sair de cena, em 2021 — só não quer que lhe continuem a chamar “mini-Merkel”.

“Tenho 56 anos, criei, com o meu marido, três filhos, há 18 anos que tenho responsabilidades governativas. Não tenho nada de ‘mini’”, diz a dirigente, que nunca esconde o sotaque regional. Descrita como mais decidida e dinâmica do que Merkel, não hesitou quando esta a escolheu para o cargo de secretária-geral do partido, em Fevereiro, arriscando deixar o seu pequeno estado (o mais pequeno dos 16 estados federados alemães) a caminho de Berlim.

Católica, nascida numa grande família e formada em Ciência Política, é mais emotiva do que Merkel, gosta de AC/DC, mascara-se no Carnaval e não foge a uma polémica, apesar de ser elogiada por colegas e rivais pelo seu espírito conciliatório. “Não tem um ego desmesurado, mas faz avançar os seus peões com tranquilidade. Como Merkel, que toda a gente subestimou”, lembra a politóloga francesa Isabelle Maras, sublinhando “as suas capacidades de análise, o seu sentido político e habilidade”.

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EPA/FILIP SINGER

Militante na CDU desde os 18 anos, aos 38 foi a primeira mulher ministra do Interior na história dos estados federados. Entretanto, teve a pasta da Educação e a do Trabalho, antes de ser eleita ministra presidente, em 2011. Em 2012, governou em coligação com os Verdes e com o FDP (Partido Liberal-Democrata), mas decidiu convocar eleições antecipadas logo depois e ganhou. Nas eleições de 2017, as sondagens não lhe eram favoráveis, mas acabou por ganhar novamente. Entretanto, todos sabem quem é.

Mas a política que não tem “nada de ‘mini’” sabe que herda um legado gigante e que tem mesmo de convencer muita gente do seu próprio valor e capacidades. Também sabe que agora é que vai começar a mostrar-se — aos alemães e aos europeus. Sofia Lorena

António Costa

A prova dos nove

As mais recentes sondagens dão-lhe uma margem de conforto político, mas falta um ano e… tudo pode mudar. Não mudar nada — ou manter as peças do xadrez actuais mais ou menos com o mesmo alinhamento — será um dos grandes desafios de António Costa, a quem não compensa a existência de grandes agitações em 2019. Mas o mundo anda a correr rápido, e em Portugal os indicadores mostram um aumento da insatisfação em muitas classes profissionais, que pode deitar por terra o sonho não verbalizado de conseguir a segunda maioria absoluta para o PS na história. O ano de 2019 é uma espécie de prova dos nove para o primeiro-ministro e por isso é a personagem política a ter em atenção no ano que está prestes a começar.

Os desafios eleitorais são três: eleições europeias em Maio, regionais da Madeira em Setembro e duas semanas depois, já em Outubro, as legislativas.

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Rui Gaudêncio

Desde o congresso do partido em Maio que a estratégia de António Costa para o resto do mandato foi a de posicionar o partido como charneira. Puxou para si o discurso das contas certas, do crescimento económico, da redução do desemprego, do crescimento económico, mas sobretudo da credibilidade e da estabilidade. Tudo argumentos que usa para se distanciar da direita e dos seus parceiros de esquerda, com quem diz que quer continuar o caminho, não se percebendo ainda o que quer fazer ou com quem o quer fazer. Tem negado o bloco central, mas tem ao mesmo tempo quebrado as intenções do BE de vir a fazer parte de um Governo. Enquanto PCP e BE acenam com as suas vitórias nos orçamentos do Estado e apontam o que falta fazer, o PS responde a esse discurso com a bandeira do equilíbrio e fomentando o medo dos efeitos de uma nova crise. Valerão estes argumentos em 2019? António Costa tem visto sinais na sociedade de uma crescente insatisfação. As classes profissionais do Estado exigem melhores condições de trabalho e as greves, ameaças de greve e protestos marcados não param de aumentar.

A gestão do tempo que falta para as eleições terá de ser feita com pinças nesse limbo entre encostar mais à esquerda ou mais à direita. Com os orçamentos aprovados, o trabalho será sobretudo político, onde Costa se move melhor. Ele e Marcelo Rebelo de Sousa, que tem dado sinais de não lhe agradar a aproximação dos socialistas a uma maioria absoluta. O ano de 2019 será intenso na política portuguesa e terá particularidades que ainda não foram testadas, com novos partidos a poderem ter um papel perturbador no estável espectro partidário logo nas europeias, que podem apontar caminho para as legislativas. Liliana Valente

He Jiankui

O homem que editou o homem

Ninguém poderia ter vez imaginado que He Jiankui seria um dos nomes a destacar na ciência em 2018. O cientista chinês anunciou em Novembro que tinha ajudado a fazer nascer os primeiros bebés geneticamente editados e, da noite para o dia, um perfeito desconhecido tornou-se mundialmente famoso. A ciência tem esse encanto irresistível da imprevisibilidade. De milhões de experiências que são levadas a cabo nos laboratórios de todo o mundo, nunca se sabe quais vão correr bem e quais serão notícia. A única coisa que podemos dar como certa é que em 2019 todos os caminhos da ciência vão (de uma maneira ou outra) dar a um único personagem: o ser humano.

Dizem os cientistas que a edição genética com a ferramenta CRISPR/Cas9 — que permite um jogo de corta e cola no ADN — é algo relativamente fácil de fazer e não muito dispendioso, o que a torna especialmente atractiva. No entanto, as consequências (ainda) são imprevisíveis. Já foi experimentada em vários modelos animais e, em 2015, foi noticiada a primeira experiência com embriões humanos inviáveis que depois foram destruídos. Este ano terá acontecido o que todos sabiam ser inevitável.

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REUTERS/Stringer

O cientista chinês He Jiankui preparou cuidadosamente o anúncio do nascimento dos dois primeiros bebés geneticamente editados. Mais tarde, acrescentou que existe um terceiro bebé editado que ainda não nasceu. O que temos é pouco mais do que a palavra do cientista e muitas críticas e controvérsia à volta de uma experiência que a comunidade internacional condenou e considerou “irresponsável”. Os bebés, a existirem, terão sido sujeitos a modificações que lhes darão a vantagem de serem resistentes à infecção por VIH. Mas, entre outros riscos, existe o perigo de carregarem o chamado “efeito mosaico” (com algumas células editadas e outras não) e de terem sofrido mutações em genes que não eram o alvo (off-target).

É fácil concluir que He Jiankui será um cientista a seguir atentamente em 2019, se voltar a trabalhar depois do escândalo e da vergonha internacional a que expôs a China. Mas mais do que os pormenores (que ainda desconhecemos) deste caso em particular, sobra a certeza de que estamos cada vez mais perto de uma realidade com o homem geneticamente editado. Há ensaios clínicos na Europa, EUA e China e a aposta das empresas é na tentativa de correcção de erros genéticos associados a doenças que não têm qualquer outro tipo de resposta. Além do potencial para a saúde humana, a tecnologia tem ainda outras aplicações muito vantajosas para a alimentação e agricultura, para manipular (melhorar) culturas. Andrea Cunha Freitas

Pedro Mafama

O intérprete introspectivo e o performer arrebatado

Mais do que procurar diferenças, estar atento aos vínculos. Eis de forma sucinta o segredo da música de Pedro Simões, mais conhecido por Pedro Mafama. Em vez de apontar o dedo às dissociações musicais ou socioculturais entre músicas urbanas globalizadas ou idiomas localizados com história, trata-se de reflectir com naturalidade as convergências, criando-se a partir daí uma nova linguagem que vai sendo construída com generosidade.

No final de 2017, despertou curiosidade com o lançamento do EP Má fama. Já este ano seguiu-se outro EP de quatro temas, intitulado Tanto sal, e há duas semanas ficou a conhecer-se a canção Arder contigo. Tudo sintomas fortes que o apontam como uma das promessas do próximo ano no campo da música que vai sendo feita em Portugal. É verdade que terá beneficiado do interesse global em torno da espanhola Rosalía ou localmente do acontecimento Conan Osíris, mas aquilo que tem vindo a propor possui solidez e não nasceu do acaso. Antes já havia uma conexão ao hip-hop com o nome Pedro Simmons e uma ligação à editora e estrutura Enchufada que viu nascer os Buraka Som Sistema.

E acima de tudo, falando com ele, ou vendo-o em palco, percebe-se com facilidade que faz parte de uma geração que se foi pacificando com o passado da música portuguesa, personificado pelo fado, ao mesmo tempo que incorporou a narrativa de que Portugal, e em particular, Lisboa, é um lugar onde se sente uma presença musical vibrante das novas gerações afrodescendentes.

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Follow Creative Studio

E é assim que, na sua música, e na forma como canta, se pressentem traços de fado, de melodias orientalizadas, mas também de linguagens como o hip-hop, e derivações como o trap, ou de kuduro, kizomba, afro-house, tarraxo e demais nomenclaturas que remetem para músicas físicas e erotizantes, que por vezes apenas ouvidos experimentados conseguem destrinçar. Em simultâneo, na sua postura, tanto entrevemos o intérprete introspectivo, virado para dentro, como o performer arrebatado, que é capaz de fazer acontecer festa em colectivo.

No fim de contas, é como se Pedro Mafama tivesse activado, através da sua música, uma bricolagem sociocultural que há pouco mais de dez anos era mais desejo do que realidade, fazendo-a sua, de uma maneira dinâmica, plural, festiva e rica. Vítor Belanciano

Ivo Rosa

O juiz que tem o futuro de Sócrates nas mãos

Talvez por ironia, o sobrenome do juiz que tem o futuro do ex-primeiro-ministro José Sócrates nas mãos coincide com a cor que o Partido Socialista escolheu para o identificar. Ivo Rosa, juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), é o responsável pela instrução da Operação Marquês, que certamente marcará o próximo ano.

Esta fase facultativa pretende avaliar se há indícios suficientes para levar os 28 acusados deste mediático processo a julgamento. E se o magistrado concluir que é mais provável os suspeitos serem absolvidos, encerra o caso. Apesar disso, Ivo Rosa nunca terá a palavra final sobre este processo. Se o enviar como está para julgamento, colocará nas mãos de outros colegas a tarefa de considerar ou não provadas as acusações do Ministério Público. Se arquivar o caso ou diminuir as acusações, a decisão será recorrível e a última palavra caberá ao Tribunal da Relação de Lisboa.

Mesmo assim, os holofotes estão apontados a Ivo Rosa. O juiz, seleccionado por sorteio electrónico, agradou às defesas, nomeadamente à de Sócrates, que nem escondeu o entusiasmo.

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Sergio Lemos/Correio da Manhã

E não é de admirar. O madeirense de 52 anos é persona non grata de muitos procuradores, conhecido por não autorizar muitos dos pedidos dos titulares da acção penal, como aconteceu inúmeras vezes na investigação às rendas pagas pelo Estado à EDP. Também não é a primeira vez que o juiz diminuiu de forma significativa os crimes que o Ministério Público imputa aos arguidos ou arquiva simplesmente uma investigação complexa. Exemplo disso é o recente caso de um marroquino acusado de oito crimes ligados ao terrorismo por pertencer e recrutar para o Estado Islâmico em Portugal. As graves acusações foram resumidas por Ivo Rosa a falsificação de documento e contrafacção, o que lhe valeu uma reprimenda do Tribunal de Relação, que anulou a sua decisão.

Apesar de ser conhecido pela rapidez, Ivo Rosa, que está em exclusividade com este megaprocesso, só marcou um máximo de quatro sessões por mês. O arranque da instrução está previsto para o final de Janeiro e já há diligências marcadas até Maio. Mas até lá a Operação Marquês ainda promete fazer correr muita tinta. Mariana Oliveira

Passe único

Viajar pela Grande Lisboa vai custar um máximo de 40 euros

É uma medida que promete revolucionar a mobilidade nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto em 2019: um passe vai permitir circular entre concelhos destas áreas (18 em Lisboa, 17 no Porto), sem ser preciso pagar mais.

Os créditos desta “medida revolucionária” têm sido atribuídos ao autarca de Lisboa, Fernando Medina, que é também presidente da Área Metropolitana de Lisboa (AML) mas a criação de um passe de transportes único intermodal para a Grande Lisboa é um pedido de longa data da Comissão de Utentes dos Transportes de Lisboa. E a AML começou a estudá-la um ano antes de Medina a ter anunciado.

A criação deste passe único acabou por ser acordada em Março num encontro que juntou as duas áreas metropolitanas. Quando a medida foi anunciada por Medina, houve protestos de alguns autarcas que acusaram o Governo de, mais uma vez, investir nas grandes cidades esquecendo o resto do país. O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, esclareceu então que a medida seria para aplicar em todo o território. Mas não se sabe ainda como se concretizará.

A previsão é que os passes estejam disponíveis em Abril, o que não deve acontecer em todo o país, ao mesmo tempo. Em Lisboa, o passe para circular dentro do concelho custará 30 euros. Para viajar por toda a área metropolitana, custará 40 euros. As famílias pagarão no máximo o valor de dois passes, ou seja, 80 euros. As crianças até aos 12 anos não pagam.

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Carlos Lopes

O Governo vai reservar 83 milhões de euros para a redução do preço dos passes em todo o país. No entanto, está ainda por saber como será feita a distribuição pelas áreas metropolitanas e pelas comunidades intermunicipais. Para Lisboa, esse valor deverá rondar os 50 milhões de euros. Mas já se sabe que este valor será insuficiente para compensar a redução nas tarifas, pelo que os municípios terão de alocar parte dos seus orçamentos para financiar a criação do passe único. Além do cepticismo dos autarcas, também os operadores privados de transporte olham para a medida com cautela.

Na Grande Lisboa, o sistema de bilhética está a ser redefinido. Haverá um novo mapa da rede, tendo em conta os movimentos pendulares entre os concelhos, e integrando também as ligações a meios de transporte, como o comboio, metro ou barco. É expectável um aumento da procura, obrigando a um reforço da oferta. Os utilizadores vão reivindicar um melhor serviço, pontual e com mais frequência. Será o suficiente para tornar mais atractivos os transportes públicos? Cristiana Faria Moreira

Mário Centeno

Um ano inesquecível?

É inevitável que a pessoa a seguir em 2019, na Economia, seja o responsável político que serve de barómetro às ambições eleitoralistas em Portugal, mas também às crises europeias que espreitam a cada mudança de governo nos Estados-membros da zona euro. O próximo ano promete ser inesquecível na vida de Mário Centeno.

O mandato do actual ministro das Finanças chega ao fim no próximo ano. E a pré-campanha eleitoral que marcou a negociação do Orçamento do Estado para 2019 deverá estender-se desde o primeiro dia de Janeiro até ao dia das eleições, marcadas para 6 de Outubro.

Todos os sinais que Centeno for emitindo da Praça do Comércio marcarão o ritmo no equilíbrio entre o cumprimento de metas definidas com Bruxelas e a satisfação de necessidades do Estado português ou dos direitos dos contribuintes. Esses sinais também marcarão o ritmo de protestos, greves, reclamações de funcionários públicos, pensionistas, empresas e particulares, que atingiram um pico no final de 2018, mas que se prevê que voltem a acelerar com a aproximação das eleições.

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Nuno Ferreira Santos

Mário Centeno deverá ainda enfrentar tensões internas no Governo do PS, a que pertence como independente e que procura não só renovar o seu ciclo de poder, mas fazê-lo de forma solitária, com uma maioria absoluta. Para isso, serão intensas as movimentações no sentido de anunciar mais medidas eleitoralistas ou simplesmente de justiça social que chocam com os objectivos de equilíbrio de contas públicas traçado desde o primeiro dia por Centeno. Um processo que poderá culminar com a sua recondução na pasta das Finanças, um desejo já assumido internamente pelo primeiro-ministro mas que terá de ser validado não só pelos portugueses, mas sobretudo pelo próprio.

Na Europa, onde o ministro português preside ao Eurogrupo, a tarefa não será mais simples. O final de 2019 poderá ser muito diferente do seu arranque, entre um “Brexit” de consequências imprevisíveis em termos económicos para toda a região e as fragmentações que se prevêem na sequência dos processos de política interna na Alemanha, França e Itália, sobretudo. Em paralelo, a reforma do euro continua sem ultrapassar os obstáculos de sempre (sem consensos sobre orçamento único e sistema europeu de garantia de depósitos) e, quando o ano chegar ao fim, Centeno estará já muito perto do fim do seu mandato (meados de 2020, se ficar como ministro das Finanças), enquanto espera pela reforma deste organismo, que criará uma presidência permanente, cargo que poderá ser seu, independentemente das funções que desempenhe em Portugal. Pedro Ferreira Esteves

João Félix

O miúdo fininho que o Benfica aproveitou

O talento nem sempre é óbvio para todos. E em 2015 ninguém no departamento de formação do FC Porto se esforçou muito para manter um rapaz de 16 anos chamado João Félix Sequeira, habilidoso, mas baixinho e fininho. Jogava pouco e o seu sonho de futebol não era esse. Por isso saiu e rumou a sul, em direcção ao Seixal. “É pegar num pau e dar na cabeça a quem o deixou sair”, disse há uns meses na SIC Notícias Rodolfo Reis, antigo capitão dos “dragões”. O que o FC Porto deixou passar, o Benfica aproveitou e, três anos depois, João Félix é tido como uma das grandes esperanças do futebol português, um talento que fomos vendo a espaços nos últimos meses de 2018 e que iremos ver com maior frequência em 2019.

Se há mérito em Rui Vitória nestes anos ao comando do Benfica é o de olhar com muita atenção para o que sai do Seixal. Sejam soluções de emergência que se tornam definitivas, ou promoções planeadas, a verdade é que o Benfica tem colhido os frutos desportivos e financeiros da sua formação e João Félix pode ser mais um desses casos, a juntar-se a nomes como Renato Sanches ou Bernardo Silva. E em boa hora Luís Filipe Vieira lhe renovou contrato até 2022 e lhe meteu uma cláusula de rescisão de 120 milhões de euros.

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MANUEL DE ALMEIDA/EPA/Lusa

Por enquanto, João Félix tem tido uma utilização intermitente, sobretudo no lado esquerdo do ataque, com 453 minutos em 13 jogos, cinco deles como titular. Depois de ser um fenómeno de culto para quem acompanhava a formação do Benfica, João Félix apresentou-se verdadeiramente marcando o golo que daria o empate ao Benfica no seu primeiro derby frente ao Sporting, na Luz. Para além de ter marcado no primeiro confronto lisboeta da época, João Félix também marcou no primeiro jogo em que foi titular no campeonato (ao Aves) e tornou-se no mais jovem marcador do Benfica na Taça da Liga (ao Paços de Ferreira).

João Félix já não é o miúdo fininho que saiu da formação do FC Porto. Cresceu e ganhou um corpo mais preparado para servir uma técnica superlativa, que se percebe a cada finta, a cada passe e a cada remate. E é alguém que gosta de arriscar, de ser imprevisível, fazer no campo coisas que ninguém espera. Essa também é uma marca dos sobredotados. Marco Vaza