Exposições: o melhor do ano

Escolhas de José Marmeleira e Luísa Soares de Oliveira.

  

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Eye Massage

Ana Manso

LISBOA. Galeria Pedro Cera

A quarta exposição de Ana Manso na galeria lisboeta mostrou uma série extensa de trabalhos nos quais as pinturas pareciam em movimento, deslocando-se em sobreposições, em vários planos e cores. Um trabalho de prazer que despertou não apenas o sentido da visão, mas também o do tacto, afirmando Ana Manso (Lisboa, 1984) como uma das artistas portuguesas que melhor explora e sublima as imagens da pintura. J.M.

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9

Azimute

Pedro Vaz

LISBOA. Galeria 111. De 05.05 até 23.06

Pedro Vaz continuou a interrogar o conceito de paisagem na contemporaneidade. Esta exposição, com curadoria de Sérgio Fazenda Rodrigues, incluía um vídeo que reproduzia o trajecto de um vedor num campo nevado na sua procura mágica de uma fonte de água. Ruína do que a pintura dela fez desde a sua autonomia no século XVII, mas também e sobretudo experiência no tempo (como a de outros caminhantes, de Ulisses a Richard Long), a exposição confirmava o trabalho de Vaz como um dos mais sérios no seu campo de pesquisa. L.S.O.

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8

Elefante

André Príncipe

LISBOA. Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia

A primeira exposição do artista e cineasta num espaço institucional em Lisboa incluiu uma instalação e fotografias isoladas e em painéis (escolhidas do seu arquivo, e com a curadoria de Ana Anacleto e João Pinharanda). Propondo a fotografia como arte das aparições, entre a vida e a morte, o real e a ficção, Elefante, de André Príncipe, ofereceu-nos retratos da passagem do tempo contra o olvido e o anonimato. J.M.

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7

INNER 8000er

João Marçal

LISBOA. Pavilhão Branco, Museu da Cidade

Com a curadoria de Sara Antónia Matos e Pedro Faro, INNER 8000er, de João Marçal (Coruche, 1980), despertou, em simultâneo, o deleite e o pensar do espectador, explorando questões como a abstracção e a realidade, a história da arte contemporânea e a vida mundana de todos os dias. Com uma selecção de pinturas de vários formatos, num encontro com a inteligência, a imaginação e as memórias do artista. J.M.

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6

A Vocação dos Ácaros

José Loureiro

LISBOA. Fundação Carmona e Costa. De 22.09 a 03.11

O ácaro e os ácaros eram o único motivo desta antológica de desenho de José Loureiro, que apresentava declinações do trabalho plástico sobre a linha, a mancha, a ocupação da folha de papel, o limite, e finalmente a cor. O título, no seu aparente non-sense, captava uma característica formal dos desenhos (a associação entre forma fechada e várias linhas) para reafirmar aquela que tem sido a grande premissa sua: a demonstração da impossibilidade da colagem entre discurso verbal e prática artística. L.S.O.

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5

No Tempo Todo

Álvaro Lapa

PORTO. Museu de Serralves. De 08/02 a 20/05

Com curadoria de Miguel Von Hafe Pérez, a grande retrospectiva de Álvaro Lapa apresentou-nos a obra deste pintor, formado em filosofia, para quem a pintura foi simultaneamente imagem e texto, e a prática artística também pensar sobre e a partir da imagem. Com uma obra enigmática, embora próxima da de outros artistas seus contemporâneos. Lapa trabalhou os géneros antigos da paisagem e do retrato, quase sempre com recurso à ficção escrita e à inclusão da palavra desenhada. L.S.O.

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4

Mundo Flutuante – Trabalhos: 1996-2018

Pedro AH Paixão

GUIMARÃES. Centro Internacional das Artes José de Guimarães, Guimarães

Uma corrente de máscaras e desenhos, esculturas e filmes, objectos e sons, animada pelo desenho, um desenho meticuloso, intenso, fisicamente exigente, feito pela e à mão, a grafite e a lápis de cor, de Pedro A. H. Paixão. No Centro Internacional das Artes José de Guimarães, a antológica do artista português (Lobito, Angola, 1971), com curadoria de Nuno Faria, foi uma exposição magnífica, iluminada pelo verbo desenhar. J.M.

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3

Pedro Costa Companhia

Pedro Costa

PORTO. Museu de Serralves. De 19.10 a 27.01.19

Pedro Costa mostrou-se em Serralves, num mergulho total na experiência do cinema e sobretudo na experiência do realizador enquanto criador. O museu transformou-se numa sucessão de espaços negros onde o realizador nos proporcionou um percurso labiríntico por outros realizadores, pela fotografia, pela pintura e pela escultura, sem esquecer a sua própria obra. Não era um diário, não era um trabalho de anamnese psicanalítico, não era o expor-se sem rede que qualquer antológica deve ser. Mas, paradoxalmente, era tudo isso também. L.S.O.

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2

X

Michael Biberstein

LISBOA. Culturgest. De 18.05 até 16.09

Foi a primeira grande retrospectiva da obra de Michael Biberstein, artista suíço-americano que viveu em Portugal durante as últimas décadas da sua vida. A exposição foi dividida pelo curador, Delfim Sardo, em dois grandes núcleos: o primeiro, até 1978, correspondendo à interrogação e à definição do lugar do espectador na percepção da obra de arte. O segundo, até à data da morte, em 2013, sobre o extravasar da pintura para o espaço e a consequente sobrevivência do conceito de paisagem. L.S.O.

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Um Realismo Necessário

José Pedro Cortes

LISBOA. Museu do Chiado

2018 foi ano que em a obra de José Pedro Cortes (Porto, 1976) entrou no white cube. Nos espaços expositivos, viram-se imagens inéditas e reconhecíveis dos seus livros, retratos recentes e produzidos na década passada, provenientes do seu arquivo. Foi uma apresentação panorâmica, compreensiva que começou em Planta Espelho, na Galeria Francisco Fino, e que em Um Realismo Necessário, no Museu do Chiado, com a curadoria de Nuno Crespo, teve o seu maior momento. Nesta exposição, em que cada constelação dialogava com a seguinte, manifestaram-se esplendidamente alguns dos traços do fazer e da obra de José Pedro Cortes: a importância consagrada a uma experiência visual do mundo, um realismo que não festeja a realidade em si mesma, nem propõe uma fuga da sua experiência, mas que afirma a sua contingência e pluralidade fenoménica. Reunindo escalas, planos, motivos distintos, o artista deixou-nos detalhes de corpos e de objectos, retratos do convívio e do lazer humanos. Superfícies riscadas, coisas quebradas ou abandonadas pelos homens, sorrisos suspensos, reflexos de luz. Mãos, dedos, corpos, poses. Um conjunto de melodias, sons, acentos, desacordes compostos na suspensão de fluxo vivo da vida, do seu instante, dos seus acasos. Que, capturadas ao mundo, foram-nos devolvidas pelas fotografias de José Pedro Cortes, regressando assim ao mundo. O modo como o artista assegurou este movimento, fundando-o na sensibilidade generosa do seu olhar, e a selecção do curador, sensível à multiplicidade de imagens que esse mesmo olhar fixou, fizeram de Um Realismo Necessário a exposição do ano. J.M.