Toda a obra de Vermeer, num exemplo do museu do futuro
Google e museu de Haia criaram um tecto digital sob o qual se reúne pela primeira vez toda a pintura de Vermeer. Incluindo uma obra roubada há 28 anos.
Da meia centena de quadros atribuídos a Johannes Vermeer, 35 foram até agora unanimemente autenticados. Não foi dos pintores mais prolíficos da geração dele. Mesmo assim, ver a obra completa obrigaria a viajar por dois continentes. Mas o Google e o museu Mauritshuis (Haia) uniram esforços e reuniram todos os quadros – incluindo um que está desaparecido desde 1990 – num só museu e que cabe no bolso. Chamam-lhe "a exposição impossível" de Vermeer. Único requisito: ter um smartphone capaz de trabalhar com realidade aumentada.
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Da meia centena de quadros atribuídos a Johannes Vermeer, 35 foram até agora unanimemente autenticados. Não foi dos pintores mais prolíficos da geração dele. Mesmo assim, ver a obra completa obrigaria a viajar por dois continentes. Mas o Google e o museu Mauritshuis (Haia) uniram esforços e reuniram todos os quadros – incluindo um que está desaparecido desde 1990 – num só museu e que cabe no bolso. Chamam-lhe "a exposição impossível" de Vermeer. Único requisito: ter um smartphone capaz de trabalhar com realidade aumentada.
"Isto é um daqueles momentos em que a tecnologia permite algo que seria impossível de fazer na vida real, porque estes quadros nunca poderiam ser reunidos num sítio na vida real", comenta Emilie Gordenker, directora do Mauritshuis. Isto porque, segundo a mesma responsável, alguns destes quadros do século XVII não podem viajar devido ao estado de fragilidade em que se encontram.
A solução foi, por isso, pedir autorização para fazer imagens de alta resolução aos 18 museus e donos de colecções privadas que têm obras do pintor no espólio. E depois reuni-los num espaço virtual que se percorre como se fosse um museu real, graças à realidade aumentada.
Do esquecimento aos memes
Vermeer foi um artista "esquecido" durante quase dois séculos. A importância da obra dele foi resgatada em meados do século XIX, pelo crítico e coleccionador francês Théophile Thoré-Bürger, sendo hoje um autor popular e celebrizado por reproduções que vão desde memes na Internet ao cinema de Hollywood, sem esquecer roupas, mochilas ou guarda-chuvas.
Além dos quadros mais conhecidos, esta "galeria de bolso" acessível por telemóvel tem um aliciante extra: inclui o quadro O concerto, desaparecido há 28 anos, avaliado em 200 milhões de dólares. Foi roubado do museu Isabella Stewart Gardner, de Boston, a 18 de Março de 1990, em conjunto com mais 12 obras, num valor total de 500 milhões de dólares.
O museu tem uma página na Internet dedicada a esse episódio, que até hoje continua por resolver. Oferece uma visita virtual às obras roubadas e promete dez milhões de dólares a quem der informações que conduzam à identificação dos autores do roubo e à recuperação das obras, que estão na lista do FBI das obras de arte roubadas.
Ponto de inflexão para os museus?
Para começar é preciso instalar a aplicação Google Arts & Culture (iOSe Android). Dentro da app, escolhe-se a Pocket Gallery (Galeria de Bolso) que liga a câmara e requer ao utilizador que aponte a lente para uma superfície plana e bem iluminada e faça um movimento circular.
A partir desse momento, vê-se o layout do museu. A primeira sala é dedicada aos primeiros trabalhos de Vermeer. O resto é organizado tematicamente. Toca-se num ponto do ecrã para escolher uma sala ou corredor. É aí que começa a visita.
Uns passos para o lado e o ecrã diz-nos que estamos na sala n.º 7. Diante de nós, numa parede em tom azulado, está pendurado Rapariga com Brinco de Pérola. "Todos os quadros são em tamanho original e perfeitamente iluminados. À medida que se aproxima, o utilizador pode ver cada uma das obras de forma detalhada e saber mais acerca de cada uma delas", explicam os promotores do projecto.
A experiência confirma-o: assim que paramos em frente ao quadro, na parte inferior da imagem aparece uma curta legenda que se pode expandir para mais informações, com curadoria dos especialistas do Maurithsuis, que tem três das obras do "mestre da luz" a quem também chamam a "esfinge de Delft".
Mais uns passos para o lado e entramos num corredor que nos conduz à sala n.º 6. "Narração, Simbolismo e Alegorias" escreveram na parede esverdeada. Logo ao lado, a Arte da Pintura (também traduzido como o Estúdio do Artista), que se encontra em Viena. Mais adiante, está O Geógrafo, cujo original se encontra em Frankfurt, na Alemanha.
No início deste percurso, pode ser difícil de gerir movimento e câmara ao mesmo tempo. Cada passo real corresponde a um movimento, cada ângulo da câmara mostra uma coisa diferente. Mas assim que se ganha controlo, somos levados a perguntar se isto que vemos é também o futuro dos museus.
"É um ponto de inflexão. Tecnologia, arte, narrativa, realidade virtual e aumentada juntam-se nesta mesma criação", comenta Lauren Gaveau, responsável pelo laboratório de Google Arts and Culture, em Paris. O mesmo responsável comenta que se imagina a levar esta experiência mais longe. "Podemos pensar em qualquer tipo de museu que nunca tenha existido."