A eterna dança dos Amor
Música de dança que não é forçosamente para dançar, tocada por músicos exímios, que se inspira na época dourada do disco, num misto de referências clássicas, mas trabalhadas com sentido de ousadia.
Não são propriamente o colectivo mais convencional do mundo. No centro da acção está o escocês Richard Youngs, conhecido por abordagens experimentais a solo ou em colectivos, e a ladeá-lo figuram o artista inglês Luke Fowler (nomeado para um Turner Prize), o contrabaixista norueguês Michael Francis Duch e o baterista dos Franz Ferdinand, Paul Thompson.
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Não são propriamente o colectivo mais convencional do mundo. No centro da acção está o escocês Richard Youngs, conhecido por abordagens experimentais a solo ou em colectivos, e a ladeá-lo figuram o artista inglês Luke Fowler (nomeado para um Turner Prize), o contrabaixista norueguês Michael Francis Duch e o baterista dos Franz Ferdinand, Paul Thompson.
São eles os Amor que, depois de dois singles o ano passado, se estreiam agora com este álbum de cinco longos temas, construídos à volta de ritmos ‘disco’, linhas de baixo funk, percussões dinâmicas, a voz de Youngs e uma atmosfera geral algo melancólica. Ou seja, música de dança que não é forçosamente para dançar, tocada por músicos exímios, que se inspira na época dourada do disco e primórdios do house (de Arthur Russell ao cenário do Paradise Garage), mas também desenvolve pistas deixadas pelos Talking Heads ou pelos contemporâneos Golden Teacher — aliás, Richard McMaster, destes últimos, participou nas gravações.
Há melodias expansivas, tonalidades harmónicas, ciclos rítmicos repetitivos e ecos e reverberações, numa abordagem de grande precisão acústica, envolvendo a voz de Youngs que, por vezes, parece longínqua. É um álbum desafectado, que não quer afirmar nada de especial, mas que nessa forma de estar inteligível acaba por conquistar, evocando velhos ideais comunitários da música de dança, sem deixar de projectar optimismo, intemporalidade e um marcado gosto pela transcendência.
Aqui o estúdio é utilizado como instrumento, sendo colocado ao serviço de uma sonoridade espaçosa, promovendo encontros entre minimalismos rítmicos, cascatas melódicas, sons de piano e técnicas e atributos do dub, abrindo espaço para soluções compactas, densas e evolutivas, em temas onde paira a sensação de eterno contínuo.
Não existe por aqui carnaval festivo ou erotismo sem nexo. Há canções contidas, de harmonias temperadas, com sentido das proporções, onde cada som parece habitar na sua bolha mas que capta, sem grande esforço, a energia sintética da metrópole, num misto de referências clássicas, mas trabalhadas com sentido de ousadia.