Governo em “alerta vermelho” com manifestações de sexta-feira
Executivo e polícias acreditam que protesto que imita em Portugal o movimento "coletes amarelos" de França terá grande adesão e temem que manifestações possam ser infiltradas por movimentos extremistas e por criminosos comuns, que provoquem violência, destruição e roubos.
O Governo está “muito preocupado” e em “estado de alerta” com a manifestação marcada para a próxima sexta-feira, sob o lema “Vamos Parar Portugal”. A organização do evento está a convocar os cidadãos através das redes sociais para virem para a rua em vários pontos do país, que faz revindicações de vária ordem e que tenta imitar o movimento dos "coletes amarelos" de França.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O Governo está “muito preocupado” e em “estado de alerta” com a manifestação marcada para a próxima sexta-feira, sob o lema “Vamos Parar Portugal”. A organização do evento está a convocar os cidadãos através das redes sociais para virem para a rua em vários pontos do país, que faz revindicações de vária ordem e que tenta imitar o movimento dos "coletes amarelos" de França.
Um membro do Governo admitiu ao PÚBLICO a sua preocupação com a possibilidade de os protestos virem a ter uma adesão significativa, nomeadamente na sequência da revolta dos "coletes amarelos" em França e com a reacção de Macron. Ou seja, o facto de o Presidente francês ter cedido a algumas das revindicações feitas pelos manifestantes, nomeadamente o aumento de 100 euros no salário mínimo, pode eventualmente levar os portugueses a acharem que vale a pena protestarem porque há exemplos de governos a cederem sob a pressão da rua.
O Governo também teme que a manifestação - que se diz independente dos partidos (até agora não teve a adesão de nenhum deles) e da qual as centrais sindicais também já se demarcaram - seja infiltrada por movimentos extremistas e até por criminosos comuns e que estes, tal como aconteceu em França, provoquem desacatos, destruição de propriedade e até pilhagens.
O facto de os manifestantes estarem a ser convocados para alguns locais considerados sensíveis em termos de segurança, como é o caso das portagens da Ponte 25 de Abril, é outro dos factores de apreensão.
As preocupações dos governantes estão espelhadas nas informações que as forças policiais têm revelado nos últimos dias sobre as medidas de segurança adoptadas para o dia das manifestações, que a PSP acredita serem “de grande dimensão”. Todas as folgas e créditos horários dos agentes foram suspensos no dia 21, de forma a conseguir ter espalhado por todo país um efectivo de cerca de 20 mil agentes, segundo estimou o presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP/PSP), Paulo Rodrigues. Também na GNR haverá um contingente de prevenção.
“Vamos ter manifestações de grande dimensão em todo o país e mandam as regras do bom senso ter pessoal operacional”, disse à Lusa o porta-voz da Direcção Nacional da PSP, intendente Alexandre Coimbra, na passada sexta-feira.
Já nesta segunda-feira, a direcção nacional da PSP emitiu um comunicado em que diz estar a preparar um "dispositivo adequado" para dia 21 e no qual apela ao respeito pela lei. A direcção da força policial lembra que os promotores das manifestações “têm de comunicar aos presidentes das câmaras municipais, por escrito e com a antecedência mínima de dois dias úteis, a intenção de realizar a manifestação”. A PSP apela ainda “a todos os cidadãos que decidam exercer o seu direito de manifestação, que o façam de forma pacífica e em respeito pela lei”.
Segundo a Lusa, a PSP já se reuniu com os promotores das iniciativas previstas para Braga e Porto, estando agendado para terça-feira uma reunião com os organizadores do protesto de Lisboa.
Os apelos às manifestações começaram a ser feitos nas redes sociais, especialmente no Facebook, há cerca de três semanas, por cidadãos anónimos que apenas assumiam ser da zona Oeste do país.
Ao longo do tempo algumas pessoas têm-se assumido como promotores de algumas das acções de protesto e começaram a ser convocadas manifestações em Lisboa, Porto, Faro, Beja e Viseu. Porém, nos últimos dias, na página do Facebook do movimento, tem-se multiplicado o número de pessoas a fazer convocações de manifestantes para outras cidades, vilas do país e até estradas.
No apelo inicial ao protesto, os promotores pedem manifestações sem violência, “de forma humana e civilizada” e com “respeito, sem xenofobia e racismo”. “Somos um dos países que recebe menos e paga mais imposto etc, etc e ficamos caladinhos como sempre. Temos países a receber o dobro de nós, assim que existe algo que não agrade, reclamam, exigem, protestam até serem ouvidos. E nós portugueses? Chega, vamos dizer basta ao aumento de combustíveis, portagens e tudo o resto que está mal”, diz a convocatória inicial.
“Percebam uma coisa, isto não é nenhuma manifestação. Isso já se fazem 200 por ano e nada. Isto é um bloqueio! Protesto! Revolta do povo unido até o povo ser ouvido! Não somos nenhum partido político, nem algo do género. Apenas somos o povo português, que quer um país mais justo”, acrescenta.