Juiz censura Flynn por “ter vendido” os EUA mas aceita adiar condenação
Ex-conselheiro de Trump foi autorizado a prosseguir a colaboração com Mueller nas investigações às ligações entre a equipa do Presidente e o Kremlin. Juiz não exclui prisão, apesar da recomendação do procurador-especial.
Um tribunal de Washington aceitou adiar para Março do próximo ano a condenação de Michael Flynn, antigo conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, que admitiu ter mentido ao FBI sobre os seus contactos com dirigentes russos, antes da tomada de posse do actual Presidente dos Estados Unidos.
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Um tribunal de Washington aceitou adiar para Março do próximo ano a condenação de Michael Flynn, antigo conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, que admitiu ter mentido ao FBI sobre os seus contactos com dirigentes russos, antes da tomada de posse do actual Presidente dos Estados Unidos.
Numa audiência esta terça-feira, o juiz Emmet Sullivan criticou duramente a conduta de Flynn e acusou-o de ter “vendido o país”, mas acabou por aceitar o pedido da defesa, que solicitou mais tempo para o general na reforma poder completar a sua colaboração com as investigações às alegadas ligações entre elementos da equipa de Trump e agentes próximos do Kremlin, durante as presidenciais norte-americanas de 2016.
“Não vou esconder a repugnância e o desprezo que sinto perante esta ofensa criminal. [Mentir ao FBI e à Casa Branca] vai contra tudo o que aquela bandeira significa”, lamentou o juiz Sullivan numa ríspida e implacável intervenção, enquanto apontava para uma bandeira dos EUA içada na sala. “Indiscutivelmente, vendeu o seu país”, atirou.
O magistrado chegou a sugerir que Flynn poderia ter cometido um crime de traição e censurou-o por ter vestido a pele de “agente não-registado de um país estrangeiro”, enquanto estava ao serviço do Governo dos EUA. Mas acabou por pedir desculpa ao pelas suas alegações “imprecisas”.
Isto sem excluir, no entanto, um cenário de condenação a uma pena de prisão. “Não lhe posso garantir que não receberá uma sentença de encarceramento”, confessou Sullivan.
No início deste mês o procurador-especial Robert Mueller – responsável máximo pelo inquérito sobre a interferência russa nas eleições presidenciais – não tinha recomendado pena de prisão para Flynn, por entender que a sua colaboração com as investigações, distribuída por 19 depoimentos, foi “substancial”. Sem dar pormenores, Mueller revelou que a mesma incluiu “informações em primeira mão” e “particularmente valiosas”.
Mentir ao FBI é um crime passível de ser punido com uma pena máxima de cinco anos de prisão. Mas nos termos do acordo que fez com Mueller, o ex-conselheiro presidencial fica elegível apenas para uma detenção entre os zero e os seis meses.
A defesa de Flynn pede que o acusado seja condenado a uma pena que não o prive da liberdade, nomeadamente uma supervisão mínima da sua conduta por um ano. Para além disso, propõe ainda o cumprimento de 200 horas de serviço comunitário.
Horas antes de conhecida a decisão do juiz Sullivan, Donald Trump enviou uma mensagem de apoio ao homem que exerceu o cargo de conselheiro para a Segurança Nacional durante menos de um mês, aproveitando ainda para lançar críticas redobradas ao que rotula como a “maior caça às bruxas da História da política americana”.
“Boa sorte hoje no tribunal para o general Michael Flynn. Vai ser interessante ver o que tem para dizer, apesar da pressão tremenda a que está a ser sujeito por causa da conspiração russa durante a nossa excelente e altamente bem-sucedida campanha política. Não houve conspiração!”, escreveu o Presidente dos EUA no Twitter.
Flynn foi conselheiro da Administração Trump entre Janeiro e Fevereiro de 2017. Foi obrigado a demitir-se por alegadamente ter mentido ao vice-presidente Mike Pence sobre conversas que teve no ano anterior com o embaixador russo nos EUA Sergei Kisliak – com o qual terá discutido as sanções aplicadas pelo ex-Presidente Barack Obama a diplomatas russos e uma votação no Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre os colonatos israelitas em território palestiniano.
O ex-general não é, no entanto, a única pessoa próxima do Presidente envolvida na mega-investigação liderada por Mueller, que já atingiu 32 pessoas e três empresas russas. Há pelo menos seis pessoas com ligações à campanha de Trump que foram acusadas e que estão a colaborar com o procurador-especial para tentar reduzir as suas penas.
Michael Cohen (ex-advogado pessoal de Trump), Paul Manafort (ex-director de campanha), Rick Gates (ex-adjunto de Manafort) e George Papadopoulos (ex-conselheiro de política externa na campanha) fazem parte desse grupo.
Num caso distinto – mas que resultou dos inquéritos feitos por Mueller no âmbito da trama russa – dois antigos parceiros de negócios do general Flynn foram acusados, na véspera, de terem violado as leis federais relativas ao lobbying.
Bijan Kian e Ekim Alptekin terão participado activamente numa campanha secreta de lobby, encomendada pelo Governo da Turquia, para pressionar Washington a extraditar Fethullah Gülen, um rival político do Presidente Recep Tayyip Erdogan.