E vão quatro, um póquer de despedimentos para Mourinho
A saída do Manchester United traduz mais uma interrupção abrupta na carreira do português. O PÚBLICO compilou essas saídas pela “porta pequena”.
O universo futebolístico foi abalado pela notícia do fim da ligação de dois anos e meio entre o Manchester United e José Mourinho. Depois de Chelsea (por duas vezes) e Real Madrid, o treinador português voltou a ver interrompido um projecto num dos tubarões do futebol europeu. O PÚBLICO juntou as quatro saídas — e respectivas causas — do “special one” numa carreira que conta com 25 títulos em quatro países.
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O universo futebolístico foi abalado pela notícia do fim da ligação de dois anos e meio entre o Manchester United e José Mourinho. Depois de Chelsea (por duas vezes) e Real Madrid, o treinador português voltou a ver interrompido um projecto num dos tubarões do futebol europeu. O PÚBLICO juntou as quatro saídas — e respectivas causas — do “special one” numa carreira que conta com 25 títulos em quatro países.
Benfica, o primeiro conflito
A primeira saída atribulada de José Mourinho de um clube deu-se em 2000, ano em que o “special one” se estreou como treinador principal. Após apenas 11 partidas — nas quais se conta um triunfo sobre o Sporting por 3-0 —, Mourinho apresentou a demissão do comando técnico das “águias”. A imprensa apressou-se a ver uma ligação entre a saída de Mourinho e a cadeira deixada vaga por Augusto Inácio, que tinha sido demitido de treinador do Sporting na sequência da pesada derrota no Estádio da Luz.
Numa biografia lançada em 2015, o técnico justificaria a saída dos “encarnados”, explicando que o Benfica “não estava pronto” para ele. Ao contrário do que foi anunciado - “Parece-me que já estava tudo combinado com Mourinho”, acabaria por admitir Augusto Inácio, em entrevista à RTP -, Mourinho nunca chegou a ser treinador do Sporting, saindo das “águias” para o União de Leiria, clube no qual relançou a carreira de treinador.
Os anos de turbulência no Bernabéu
“Ninguém foi despedido. Esta decisão partiu de um entendimento mútuo”. Estas foram as primeiras palavras oficiais que confirmaram a saída de José Mourinho do Real Madrid, proferidas pelo presidente do clube. A relação entre Mourinho e Florentino Pérez nunca foi a melhor: a carência de troféus deteriorou o relacionamento entre os dois e levou à interrupção de contrato entre o clube espanhol e o técnico português.
O treinador esteve no Real Madrid entre 2010 e 2013, vencendo um campeonato, uma Taça e uma Supertaça de Espanha. A relação com alguns jogadores também deixou a desejar: o português remeteu Iker Casillas, histórico guardião do emblema espanhol, para a condição de suplente. Sergio Ramos e Cristiano Ronaldo também terão feito parte da lista de jogadores que entraram em conflito com Mourinho.
Após deixar o clube “merengue”, o “special one” criticou por algumas vezes a gestão dos “galácticos”. Em entrevista à ESPN, Mourinho disse que o dia-a-dia no Bernabéu envolvia mais “política do que futebol”. Depois da passagem pela capital espanhola, o português voltaria a Londres, cidade onde obtivera enorme sucesso com o Chelsea.
Chelsea, de Special a Happy
Depois de brilhar no FC Porto, o Chelsea estava preparado para confiar em José Mourinho para montar uma equipa, recheada de jogadores de grande valia, com o objectivo de conquistar o título inglês. O treinador português sentiu-se especial em fazer parte do projecto de Roman Abramovich. Os dois primeiros anos significaram dois campeonatos (2005 e 2006), mas o terceiro já não (ficou em segundo lugar). No início da quarta época, a 20 de Setembro de 2007, já tinha sido despedido pelo multimilionário russo devido aos “maus resultados”. Seguiu para Itália, para treinar o Inter de Milão.
A segunda incursão de Mourinho nos “blues” não foi tão próspera como a primeira passagem por Londres, mas o técnico estava feliz por regressar a Stamford Bridge. O título só chegou na segunda temporada, em 2014/15, e a época seguinte significou uma queda a pique. Quando foi despedido, a 17 de Dezembro de 2015, o Chelsea era o campeão em título e terminou o campeonato no 10.º lugar.
O desejado em Manchester
Alex Ferguson e muitos adeptos do Manchester United admiravam Mourinho desde os tempos do Chelsea e a chegada a Old Trafford acabou por ser um passo natural. Mas a verdade é que em Manchester as expectativas não se cumpriram e o pior arranque no campeonato dos últimos 28 anos (sete vitórias, cinco empates e cinco derrotas) ditou o afastamento do treinador.
No reinado de José Mourinho, os gastos com transferências ultrapassaram os 400 milhões de euros, que não só não se traduziram no sucesso desportivo projectado como impediram o desenvolvimento de alguns jogadores da academia do United. A relação com alguns dos futebolistas também esteve longe de ser perfeita e algumas críticas foram tornadas públicas.
Por exemplo, em Novembro, Anthony Martial, Marcus Rashford e Luke Shaw foram rotulados pelo português como “rapazes com potencial, mas com falta de maturidade”, numa entrevista feita pelo ex-jogador do Barcelona e colega de Mourinho na Catalunha, Hristo Stoichkov. Quando foi eliminado da Taça da Liga pelo Derby County, em Setembro, admitiu saber que ia ter “sarilhos com Phil Jones e Eric Bailly” no eixo da defesa.
No meio destes e outros remoques, os problemas e alegadas brigas com Paul Pogba também marcaram os dias do português em Old Trafford. O jogador francês chegou ao United poucos meses depois do treinador português em 2016 a troco de 100 milhões de euros à Juventus. Em alguns casos ficava muito inconformado com Mourinho quando o deixava no banco de suplentes.
Enquanto os rivais mais directos vão mostrando momentos de bom futebol (Mauricio Pochettino no Tottenham, Maurizio Sarri no Chelsea, Jürgen Klopp no Liverpool, Unai Emery no Arsenal e Pep Guardiola no Manchester City), o estilo do Manchester United não cativou os adeptos e a crítica. Acusações como park the bus (estacionar o autocarro) e “bola para a frente” foram algumas das expressões mais utilizadas para definir o futebol dos "red devils".
Os resultados mostram inconsistência e bater os principais adversários tornou-se numa miragem. Esta temporada, Mourinho nunca conseguiu guiar o United a uma vitória frente a um “grande" inglês (derrotas por 0-3, 3-1 e outra vez 3-1 frente a Tottenham, Manchester City e Liverpool; e empates a dois golos diante de Arsenal e Chelsea). Para o registo ficou apenas uma vitória por 0-1, em Turim, frente à Juventus, na fase de grupos da Liga dos Campeões.
José Mourinho já foi confrontado com o dado estatístico de que nunca consegue alcançar o sucesso quando treina uma equipa pela terceira temporada consecutiva. Foi o que aconteceu no Chelsea e no Real Madrid. Cumprida a sina, José Mourinho está livre para orientar outro clube.