Direito ao futuro
Alcançar o que muitos dizem impossível depende de quantas vezes nos desafiamos a fazê-lo.
Por ocasião das comemorações dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, Michelle Bachelet citava, no seu discurso, o primeiro artigo desta declaração: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”
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Por ocasião das comemorações dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, Michelle Bachelet citava, no seu discurso, o primeiro artigo desta declaração: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”
Citou para dizer que sim, que é verdade que todas as pessoas nascem assim. O problema coloca-se depois, quando em muitos lugares do mundo esses direitos e dignidade continuam a não ser alcançáveis.
E agora? É a pergunta que nos surge a todos e que não tem resposta simples.
E quando sabemos das crises humanitárias na Síria, no Iémen ou na Venezuela, de países onde ser mulher é ser cidadão de segunda, de regimes onde ser pobre e negro, ou simplesmente de outra etnia, é estar condenado à perseguição, à tortura ou a atrair uma qualquer “bala perdida”... perante essas realidades, parece mesmo por vezes não termos resposta nenhuma. E qual é então a força de uma declaração política? Qual é o poder de um papel? Todo.
Se andarmos para trás na história podemos estar certos de um mundo pior: com mais desigualdade, menos direitos e menos dignidade. Podemos estar certos de uma Europa com guerra, genocídios, fronteiras e conflitos. Hoje não nascemos assim, não partimos do zero. E isso acontece porque alguém teve a iniciativa de lutar por um mundo melhor e a iniciativa de influenciar os outros a serem melhores também.
O poder de uma declaração política é o poder de influência nas pessoas: por concordarem, por discordarem, mas acima de tudo por discutirem.
Existem todas as razões para festejar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, para a recordar e para a promover. Exatamente como há razão para nos desafiarmos sempre a pensar sobre o que queremos ter no futuro. Porque o futuro acontece. Não se condiciona. Não se prevê. Simplesmente acontece. E nós não temos medo dele. Olhamos para a frente com entusiasmo de fazer melhor e de reagir à denúncia de Michelle Bachelet.
Não queremos um mundo em que as crianças são forçadas a trabalhar, em que as mulheres não têm direitos iguais, em que as pessoas não vivem com dignidade, em que não é permitido a alguém viver como deseja, em que não se permite às pessoas que sejam felizes à sua própria maneira.
Queremos todos os direitos cumpridos e ainda mais. Queremos o direito ao planeta, ao ambiente, o direito a nascer sem dívidas que nos condicionem, o direito a estar online, a estar offline, a ter eletricidade ou água potável.
Olhamos para o futuro sem certezas absolutas, mas com vontade de, todos os dias, deixar o mundo um pouco melhor do que o encontrámos, e isso acontecerá na medida em que tivermos condições para decidir agora, em vez de reagir daqui por uns anos. Hoje existem mais pessoas a aceder aos seus direitos do que há 70 anos, e isso aconteceu porque assim quisemos. Alcançar o que muitos dizem impossível depende de quantas vezes nos desafiamos a fazê-lo. Porque o impossível é muito igual a ser jovem: passa com o tempo. Basta que o desafiemos.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico