O PS nos labirintos da sua Juventude
O discurso da nova líder da JS ou o do seu mentor nada têm a ver com o programa centrista de António Costa e do Governo. O PS debate-se aqui consigo próprio.
Que a nova líder da Juventude Socialista (JS) eleita este fim-de-semana com uns expressivos 72% dos votos se tenha apresentado com um currículo académico e estudantil retocado para melhor pode ser apenas um pormenor resultante de um erro, como na devida hora foi justificado. Não será, portanto, isso que interessa para o futuro da JS nem para o debate sobre a ascendência da ala esquerda no PS. O que interessa é sim dar conta de duas realidades incontornáveis: a primeira é que a ala de Pedro Nuno Santos domina com total conforto a JS; a segunda é que o faz com recurso a um discurso dogmático que impõe o regresso do PS ao mundo extinto das lutas operárias, das nacionalizações e do reforço da hegemonia do Estado.
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Que a nova líder da Juventude Socialista (JS) eleita este fim-de-semana com uns expressivos 72% dos votos se tenha apresentado com um currículo académico e estudantil retocado para melhor pode ser apenas um pormenor resultante de um erro, como na devida hora foi justificado. Não será, portanto, isso que interessa para o futuro da JS nem para o debate sobre a ascendência da ala esquerda no PS. O que interessa é sim dar conta de duas realidades incontornáveis: a primeira é que a ala de Pedro Nuno Santos domina com total conforto a JS; a segunda é que o faz com recurso a um discurso dogmático que impõe o regresso do PS ao mundo extinto das lutas operárias, das nacionalizações e do reforço da hegemonia do Estado.
Não admira que a militância dos jovens socialistas tenha mostrado uma óbvia impaciência com o discurso de Carlos César no Congresso. Porque ali, na nova vaga de jovens socialistas, o que exalta e mobiliza os ânimos é o combate à “ideologia ‘startupiana’”, o discurso dirigido para “os novos operários do século XXI” ou para os “derrotados da globalização”, apenas para usar expressões do discurso de Pedro Nuno Santos. Dizer que ali estava a juventude do partido que, no Governo, escancara as portas da sedução (e os cofres do Tesouro) ao fervor das startup’s da Web Summit valeria pouco. Afirmar ali que os operários portugueses do século XXI vão ter direito a um salário mínimo inferior aos dos funcionários públicos seria displicente. Lembrar que os derrotados da globalização não são os servidores públicos que foram o alfa e o ómega deste Governo, seria por certo supérfluo.
As juventudes partidárias sempre cultivaram em Portugal uma lamentável devoção pelas sinecuras do Estado (Maria Begonha tem já um bom currículo na especialidade) e uma saudável rebeldia programática. Mas, no caso do JS, é obrigatório notar que o programa que elegeu Maria Begonha se insere numa luta a prazo pelo poder no PS. O discurso da nova líder ou o do seu mentor nada têm a ver com o programa centrista de António Costa e do Governo. O PS debate-se aqui consigo próprio. O Primeiro-ministro já avisou que não chegou ainda a hora de se reformar. Mas há quem se vá preparando para esse dia, nem que seja através de discursos que afastam o PS do centro político, no qual o partido aposta para conquistar uma maioria nas próximas legislativas.