Guterres convoca nova cimeira para Nova Iorque

Nova Iorque, Setembro de 2019: o secretário-geral da ONU convocou os líderes políticos para uma nova cimeira do clima.

Foto
António Guterres na Cimeira do Clima Reuters/KACPER PEMPEL

O secretário-geral da ONU, António Guterres, foi à abertura da Cimeira do Clima de Katowice defender que o mundo está hoje “em sérios apuros com a alteração climática” e que esta é uma “questão de vida ou de morte”. Ignorá-la é “suicida”, disse uns dias mais tarde, de volta à cidade polaca onde ainda decorria a conferência.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, foi à abertura da Cimeira do Clima de Katowice defender que o mundo está hoje “em sérios apuros com a alteração climática” e que esta é uma “questão de vida ou de morte”. Ignorá-la é “suicida”, disse uns dias mais tarde, de volta à cidade polaca onde ainda decorria a conferência.

O empenho e proximidade de Guterres a este tema, tendo mantido um contacto permanente com o curso dos trabalhos, foram notados nestes dias que culminaram com a sua convocação de uma Cimeira do Clima em Setembro de 2019 em Nova Iorque e em moldes diferentes dos actuais. Os países presentes na conferência de Katowice aplaudiram a iniciativa.

“A forma como se manteve a par do que acontecia na cimeira foi importante para desbloquear pontos”, disse um negociador próximo ao PÚBLICO. A Guterres, que sucedeu ao diplomata Ban Ki-moon igualmente preocupado com o clima, é-lhe reconhecida a experiência de ex-Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados na gestão das crises com os refugiados climáticos.

Para Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, que acompanhou os trabalhos em Katowice, Guterres “está a impor um discurso e um alerta”, com “rigor” e “envolvimento”.

A cimeira de Nova Iorque está a gerar a expectativa de uma mudança na forma como a própria ONU tem lidado historicamente com estes plenários mundiais do clima anuais e que a conferência de Katowice terá acentuado. As cimeiras têm oscilado entre ciclos de bons e fracos resultados, como Paris e Copenhaga, por exemplo, como tem oscilado também a natureza dos temas tratados, uns mais técnicos e outros mais políticos.

Há vários anos que na diplomacia destas negociações se propõe que as conferências anuais (as COP) deviam renovar de modelo, sob risco de uma banalização: ter um funcionamento permanente para a parte “tecnocrática” e uma reunião bienal ou trienal de líderes políticos em Nova Iorque.

No balanço dos trabalhos da COP24, Jorge Moreira da Silva, Director da Cooperação para o Desenvolvimento na OCDE, escreveu que “a dramatização e o mediatismo conferidos a estas COP geram incentivos perversos, dando a ideia aos cidadãos de que ainda estamos dependentes dos resultados destas negociações para começar a agir. E dando também o pretexto ideal para que alguns governos adiem decisões corajosas contando com a condescendência dos cidadãos”.

Entre os ambientalistas, Guterres é uma voz aliada que tem em conta os mais vulneráveis, os que estão em maior risco devido à subida do nível da água do mar e que marcaram momentos fortes na cimeira. Vanuatu anunciou que iria colocar a indústria de combustíveis fósseis em tribunal para pagar os custos da alteração climática, e o líder da delegação das Maldivas, o ex-presidente Mohamed Nasheed, declarou que os habitantes deste país do Oceano Índico querem viver “nas suas terras, com as suas comunidades, com a sua cultura, com o seu povo”. E acrescentou: “Não pensamos que isto seja pedir de mais. Estamos apenas a dizer: não nos matem”.