Um prestigiante embaixador
Bruno Borralhinho e Christoph Berner dão um concerto este sábado em Évora, no Convento dos Remédios mas antes estiveram em Castelo Branco.
O duo Borralhinho/Berner deambulou nos últimos dias por terras lusas com a apresentação do seu novo disco, dedicado a Strauss, Mahler e Zemlinsky. Começando a pequena digressão na terra natal do violoncelista (Covilhã), na terça-feira, o recital, que incluía o repertório registado para a etiqueta alemã Ars Produktion e ainda a Página esquecida de Lopes Graça, passou por Castelo Branco (Centro de Cultura Contemporânea) e Lisboa (Centro Cultural de Belém), tendo lugar este sábado em Évora, no Convento dos Remédios (21h30).
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O duo Borralhinho/Berner deambulou nos últimos dias por terras lusas com a apresentação do seu novo disco, dedicado a Strauss, Mahler e Zemlinsky. Começando a pequena digressão na terra natal do violoncelista (Covilhã), na terça-feira, o recital, que incluía o repertório registado para a etiqueta alemã Ars Produktion e ainda a Página esquecida de Lopes Graça, passou por Castelo Branco (Centro de Cultura Contemporânea) e Lisboa (Centro Cultural de Belém), tendo lugar este sábado em Évora, no Convento dos Remédios (21h30).
Em Castelo Branco, o ambiente não poderia ser melhor: no confortável auditório do Centro de Cultura Contemporânea (ideal para música de câmara), a viagem musical iniciou-se com uma transcrição para violoncelo e piano dos Lieder eines fahrenden Gesellen, de Gustav Mahler (1860-1911), elaborada por Bruno Borralhinho (músico que tem ganho o hábito de realizar bons arranjos para o seu instrumento e para agrupamento). Apesar do arranjo funcionar tão maravilhosamente como o expectável, a sua interpretação – limpa e clara – não beneficiou da total entrega que as restantes obras viriam a revelar. Foi pena não se ter ouvido nenhuma dessas canções sequer como extra, para testemunhar a beleza do trabalho numa execução mais apaixonada.
Com a interpretação da sonata de Alexander von Zemlinsky (1871-1942), recentemente descoberta, o duo começou a entrar num diálogo mais empenhado. Antecedendo-a, Bruno Borralhinho partilhara algumas ideias sobre o programa e o disco, organizado com obras de juventude dos três compositores, escritas no final do século XIX. Estava-se já perante o som de um duo com uma história conjunta, com a evidente cumplicidade, mais do que visível, escutada. Após um breve intervalo, a Página esquecida, de Fernando Lopes Graça (1906-1994) – porque Bruno Borralhinho faz questão de permanecer embaixador da música portuguesa – preparou o terreno para o culminar de todo aquele percurso: a extraordinária Sonata para violoncelo e piano em Fá Maior, op. 6, de Richard Strauss (1864-1949). Motivo de grande orgulho para o Portugal que Borralhinho faz questão de não esquecer deverá ser o berço de um músico tão completo e exigente (violoncelista, músico da Orquestra Filarmónica de Dresden, maestro e director artístico do Ensemble Mediterrain), capaz de uma interpretação tão profunda e envolvente como a que nos ofereceu, com o pianista austríaco Christoph Berner (seu cúmplice também no Ensemble Mediterrain). A sensibilidade do público ao excelente desempenho do duo foi bem visível nos efusivos aplausos, de pé, que lhe mereceram ainda um número extra de Rachmaninov.
O retrato parcial do trabalho que Borralhinho e Berner generosamente têm partilhado com o público nos últimos dias encontra-se disponível através da Ars Produktion (ARS 38 554).