Doenças respiratórias matam duas pessoas por hora em Portugal
São a terceira principal causa de morte no país. Embora os internamentos globais tenham diminuído em 2016 em comparação com ano anterior, isso poderá não significar uma melhoria no acesso aos cuidados.
A cada hora que passa as doenças respiratórias matam, em média, em Portugal duas pessoas, refere o 13.º relatório do Observatório Nacional da Doenças Respiratórias (ONDR), apresentado esta quinta-feira em Lisboa. E embora os internamentos globais tenham diminuído em 2016 em comparação com ano anterior, isso poderá não significar uma melhoria no acesso aos cuidados, refere o responsável do ONDR, António Carvalheira Santos, que admite a redução de internamentos possa estar relacionada com mais doentes a escolherem hospitais privados do que públicos.
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A cada hora que passa as doenças respiratórias matam, em média, em Portugal duas pessoas, refere o 13.º relatório do Observatório Nacional da Doenças Respiratórias (ONDR), apresentado esta quinta-feira em Lisboa. E embora os internamentos globais tenham diminuído em 2016 em comparação com ano anterior, isso poderá não significar uma melhoria no acesso aos cuidados, refere o responsável do ONDR, António Carvalheira Santos, que admite a redução de internamentos possa estar relacionada com mais doentes a escolherem hospitais privados do que públicos.
As doenças respiratórias são a terceira causa de morte no país e um dos principais motivos de internamento. O relatório do ONDR salienta que os problemas respiratórios juntamente com o cancro do pulmão, traqueia e brônquios foram responsáveis por 17.548 mortes em 2016 (últimos dados disponíveis). “Podemos dizer que por dia morrem 48 pessoas por doenças respiratórias”, lê-se no documento. Ou seja, duas por hora em média.
O relatório, que recolheu informação junto de várias entidades como Instituto Nacional de Estatística, Direcção-geral da Saúde e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), analisa dados entre 2007 e 2016. Durante este período, salienta o documento, os internamentos por doenças respiratórias aumentaram cerca de 26%. Mas quando se faz comparação só entre os dois últimos anos aos internamentos globais, o movimento foi de contracção. Menos 3%, com os internamentos a passarem de 115.828 para 112.255.
Será este um sinal de melhoria no acesso aos cuidados? António Carvalheira Santos não tem essa certeza. "Sendo a doença respiratória crónica uma doença de idosos, deveríamos ter mais internamentos do que temos. Acho que há algum desvio para o sector privado. No princípio deste ano, o número de camas de internamento do Serviço Nacional Saúde (SNS) era igual ao número de camas do privado. Precisaríamos de informação para os dados serem consistentes”, admite o responsável do ONDR.
E acrescenta: “Se tivéssemos melhorado o acesso a taxa de mortalidade descia. Sabemos que muitos doentes de subsistemas vão ao privado, onde pagam menos, em detrimento do público."
Um dos exemplos em que o número de internamentos desceu, mas a taxa de mortalidade se manteve inalterada é a pneumonia. Está nos 20%. Também a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (8%), os cancros do pulmão, traqueia e brônquios (31%) a insuficiência respiratória (25%) não sofreram alterações significativas nas taxas de mortalidade entre 2015 e 2016.
Na pneumonia, 78% dos internamentos correspondem a doentes com 65 ou mais anos e a mortalidade destes doentes corresponde a 93% do total de óbitos em pessoas internadas por esta doença. Carvalheira Santos defende que a vacina contra a pneumonia devia fazer parte do Programa Nacional de Vacinação para este grupo de risco.
Maior aposta na prevenção
A distância dos serviços de saúde pode ter influência nos resultados, refere o relatório, que diz que as “maiores incidências de internamentos por pneumonia são em distritos do interior, nomeadamente Bragança, seguida por Castelo Branco, Vila Real e Portalegre”. “Em relação à mortalidade são os distritos de Beja com 25% de óbitos, seguidos por Setúbal com 24%, Portalegre 22% e Santarém e Faro com 21%.”
O relatório continua a apontar a necessidade de uma maior aposta na prevenção. “Não temos reabilitação respiratória e sem ela não há tratamento adequado para a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica. As neoplasias também requerem reabilitação, tal como as fibroses quísticas. Todas as doenças crónicas sintomáticas devem ter reabilitação. Enquanto esta não fizer parte integrante do tratamento do doente respiratório crónico, gastamos dinheiro e temos doentes cada vez mais doentes”, aponta o responsável.
Também na rede de espirometrias (exame essencial para avaliar a doença respiratória), lamenta que pouco ou nada se tenha feito. “Dos doentes registados com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica nos centros de saúde, só cerca de 40 mil fez espirometria. Isto diz tudo. A rede está prometida desde 2002, fiz parte do primeiro grupo que a ia implementar e nada avançou.”
Balanço positivo
Pela positiva, destacam-se os resultados da unidade de transplantes pulmonares do Hospital de Santa Marta, o único a fazê-lo em Portugal e que desde 1991 realizou 208 transplantes de pulmão. Valores que colocam o hospital “ao nível daqueles que mais transplantam a nível internacional” e com taxas de sobrevivência a três meses de 98%, a um ano de 81% e a cinco anos de 59% dos casos.
Também a tuberculose merece nota positiva. Entre 2007 e 2016 o número de doentes internados desceu 43,5%, passando de 1366 para 772. “Em 1987/88 levei aos Estados Unidos o primeiro estudo em Portugal sobre VIH/sida e tuberculose. Naquela altura estávamos com 30 novos casos por 100 mil habitantes. Espanha estava com 20 novos casos e a média europeia era de 18. Nestes 30 anos melhorámos de uma forma estrondosa”, afirma o médico.
Mas o relatório deixa dois alertas. “Um tem a ver com o tempo de diagnóstico que é superior a dois meses e o outro tem a ver com o aumento de casos nos imigrantes. São comunidades normalmente fechadas e só quando a situação está muito evoluída é que procuram os hospitais”, salienta o especialista.