Cessar-fogo em Hudheida é primeiro êxito das negociações sobre o Iémen

António Guterres espera que este acordo seja “o ponto de partida para o fim da crise humanitária”, a mais grave emergência dos últimos anos em todo o mundo.

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O chefe da delegação huthi, Mohammed Abdul-Salam, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Khaled al-Yaman, apertam as mãos junto a Guterres Reuters/TT NEWS AGENCY

O governo reconhecido internacionalmente do Iémen chegou esta quinta-feira a um acordo com os huthis para uma trégua na cidade portuária de Hudheida, a principal ligação ao mundo de um país onde já morreram à fome pelo menos 85 mil crianças com menos de cinco anos e 20 milhões de pessoas enfrentam o mesmo risco.

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O governo reconhecido internacionalmente do Iémen chegou esta quinta-feira a um acordo com os huthis para uma trégua na cidade portuária de Hudheida, a principal ligação ao mundo de um país onde já morreram à fome pelo menos 85 mil crianças com menos de cinco anos e 20 milhões de pessoas enfrentam o mesmo risco.

Os huthis defendiam que Hudheida deveria ser declarada uma zona neutra e o executivo de Abd-Rabbu Mansour Hadi queria que ficasse sob controlo das forças que lhe são leais. Finalmente, segundo o enviado especial da ONU, Martin Griffiths, ambos os lados vão retirar os seus combatentes, primeiro do porto e depois da cidade, em cujos arredores a coligação criada pela Arábia Saudita em 2015 para apoiar Hadi mantêm milhares de tropas. A retirada de todas as forças armadas vai incluir o porto de Salif, usado para cereais, e o de Ras Isa, para petróleo, ambos sob controlo huthi.

“Isto é um enorme avanço. Alcançaram mais do que o esperado”, comentou Elizabeth Dickinson, analista especializada na Península Arábica do  International Crisis Group. "A Arábia Saudita adoptou uma posição firme com o governo de Hadi e este mostrou-se mais cooperante."

Os huthis, uma tribo xiita com laços ao Irão, controlam a maioria parte dos centros urbanos do Iémen, como Hudheida, a cidade portuária no mar Vermelho, e Sanaa, a capital, de onde expulsaram em 2014 o executivo de Hadi – escolhido com o apoio dos sauditas depois da revolta contra o ditador Ali Abdullah Saleh, na sequência da vaga de protestos no mundo árabe iniciada com a revolução na Tunísia.

A monarquia liderada agora pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman decidiu envolver-se no conflito a pretexto de travar a influência xiita iraniana na sua fronteira sul: desde então, bombardeamentos destruíram grande parte das infra-estruturas do país e provocaram directa ou indirectamente (fome e doenças) a morte de centenas de milhares de civis, no que a ONU descreve como a maior emergência humanitária actual.

As Nações Unidas conseguiram pela primeira vez em dois anos reunir as duas partes em conversações na cidade sueca de Rimbo, entregando-lhes um “pacote final” de acordos sobre o estatuto de Hudheida, o aeroporto de Sanaa, o apoio ao banco central e um esboço de solução política.

O aperto de mão entre os membros das duas delegações acontece no fim destas negociações, no mesmo dia em que o secretário-geral da ONU, António Guterres, se juntou ao seu enviado especial. “Chegaram a um acordo sobre o porto de Hudheida e a cidade vai ser cenário de um reposicionamento mútuo de forças e do estabelecimento de um cessar-fogo geral na província”, afirmou na Suécia o ex-primeiro-ministro português.

Caberá ao representante especial para o Iémen anunciar os pormenores do que foi acordado e uma data para novas consultas. De acordo com jornalistas na Suécia, terá sido ainda possível negociar uma troca de prisioneiros e o reinício de exportações de petróleo e gás para voltar a fazer entrar dinheiro nos cofres do banco central iemenita e permitir o pagamento de salários em todo o país.

Certo é que “a ONU vai desempenhar um papel crucial no porto e isto vai facilitar o acesso humanitário e o fluxo de bens para a população civil, e vai melhorar a vida de milhões de iemenitas”, disse ainda Guterres. O secretário-geral espera que este acordo seja “o ponto de partida para o fim da crise humanitária”.