Draghi termina compras mas mostra preocupação com a economia
No dia em que reviu em baixa as previsões de crescimento e de inflação, o presidente do BCE confirmou que as compras líquidas de activos chegaram ao fim.
No mesmo dia em que confirmou que o BCE irá no final do ano concluir as compras líquidas de dívida pública com que tem estimulado a economia, Mário Draghi teve de apresentar novas projecções que apontam para uma revisão em baixa do crescimento do PIB e da taxa de inflação na zona euro em 2019. E, por isso, na conferência de imprensa que se seguiu à decisão, o presidente do BCE pareceu mais alguém que estava preocupado em dar mais apoios à economia do que alguém que, efectivamente, tinha acabado de retirar uma parte importante dos apoios até agora em vigor.
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No mesmo dia em que confirmou que o BCE irá no final do ano concluir as compras líquidas de dívida pública com que tem estimulado a economia, Mário Draghi teve de apresentar novas projecções que apontam para uma revisão em baixa do crescimento do PIB e da taxa de inflação na zona euro em 2019. E, por isso, na conferência de imprensa que se seguiu à decisão, o presidente do BCE pareceu mais alguém que estava preocupado em dar mais apoios à economia do que alguém que, efectivamente, tinha acabado de retirar uma parte importante dos apoios até agora em vigor.
Ao fim de quatro anos e meio em que o Banco Central Europeu juntou ao seu balanço mais de 2,6 biliões de euros de activos (principalmente títulos de dívida pública emitidos pelos países da zona euro), o presidente da instituição confirmou aquilo que já se estava à espera. A partir de Janeiro já não serão feitas novas compras. Aquilo que o BCE vai passar a fazer é somente reinvestir o dinheiro que recebe quando os títulos que detém atingem a maturidade e são amortizados.
A medida era antecipada há vários meses e vinha sendo pedida há ainda mais tempo por aqueles que consideravam que o BCE estava a ir longe demais nos estímulos que dava à economia, arriscando um regresso das pressões inflacionistas. Mário Draghi e a maioria dos membros do conselho do BCE foram resistindo, reduzindo apenas progressivamente o volume de compras, mas, a partir do início deste ano, com a economia a crescer e a inflação a aproximar-se dos 2%, agendaram o final de 2018 como a data para o fim do programa.
Chegados à decisiva reunião de Dezembro, os responsáveis do banco central não recuaram, mas a conjuntura económica que agora se vive forçou-os a transmitir aos mercados a ideia de que o fim das compras líquidas de activos não significa o fim das políticas expansionistas do BCE.
A comprovar que a conjuntura não é agora tão positiva como era na primeira metade do ano, as previsões feitas pelos técnicos do BCE e tornadas públicas esta quinta-feira por Draghi registam uma revisão em baixa tanto do crescimento da economia como da taxa de inflação. Em 2019, o banco prevê agora um crescimento na zona euro de 1,7%, quando antes apontava para 1,8%. E no que diz respeito à inflação, que o BCE quer manter abaixo mas próximo de 2%, a previsão baixou para 2019, sendo agora de 1,6% contra 1,7% anteriormente.
Mário Draghi assumiu que, ao contrário do que estava à espera, o abrandamento da actividade económica não está a ser temporário. “A conjuntura tem estado mais fraca já há algum tempo”, disse. E, por isso, para garantir que os mercados percebiam que o BCE, embora concluindo o seu programa de compra de activos, ia continuar a oferecer estímulos monetários à economia, deu sinais de estar preparado para agir.
Fez isso, por exemplo, afirmando diversas vezes que uma subida das taxas de juro não foi discutida na reunião. E salientou a importância que tem o facto de o BCE continuar, “por um período longo de tempo” e “para além da data em que se inicie a subida das taxas de juro de referência do BCE”, a reinvestir o dinheiro que receber quando os títulos de dívida que comprou chegarem ao fim do seu prazo, uma medida que permite que o impacto do fim do programa de compras seja minimizado.
O presidente do BCE não escondeu as preocupações que tem com o “clima geral de incerteza” a que se assiste na economia mundial, assinalando a existência de riscos que vão do Brexit à situação orçamental de Itália e França, passando pelo conflito comercial entre os Estados Unidos e a China.
Mario Draghi mostrou, como o tem feito desde que em 2012 disse que faria “o que for preciso” para salvar o euro, estar disponível para tomar acções drásticas para o caso de estes riscos se concretizarem. E uma das acções possíveis é, precisamente, voltar a comprar dívida. “Faz parte do nosso conjunto de instrumentos e pode ser considerada como utilizável em contingências”, afirmou.
Em género de balanço, o presidente não evitou o auto-elogio, afirmando que o programa de compra de activos do BCE “foi, em alguns momentos, o único motor da recuperação da economia”.