A importância de Tomás Correia e de Marta Soares
Nenhum destes dois homens está minimamente interessado noutra coisa que não a manutenção do poder nas estruturas que dirigem, porque só assim poderão continuar a ser – lá está – pessoas importantes.
Há uma linha que une Tomás Correia, o presidente reeleito da Associação Mutualista Montepio Geral, a Jaime Marta Soares, o tonitruante presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses: são dois septuagenários cujo talento ao longo da vida consistiu em convencer muita gente de que eles eram pessoas importantes e em distribuir favores de acordo com essa percepção.
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Há uma linha que une Tomás Correia, o presidente reeleito da Associação Mutualista Montepio Geral, a Jaime Marta Soares, o tonitruante presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses: são dois septuagenários cujo talento ao longo da vida consistiu em convencer muita gente de que eles eram pessoas importantes e em distribuir favores de acordo com essa percepção.
Por estranho que possa parecer, em Portugal, quem for suficientemente bom a parecer que é uma pessoa importante pode fazer carreira como se fosse uma pessoa importante. Não é uma coincidência que o intrujão Artur Baptista da Silva tenha passado, em 2012, por grande especialista económico da ONU, ao ponto de ser entrevistado em horário nobre por um dos mais experientes jornalistas portugueses – nós somos encandeados pelo paleio dos vendedores de banha da cobra como os coelhos são encandeados pelos faróis dos automóveis. Com frequência, em ambos os casos acabamos atropelados.
Dado que ser uma pessoa importante é mais relevante para a carreira do que efectivamente ter feito alguma coisa importante na vida, o país valoriza muito mais o penacho do que o mérito, já que o único local onde exigimos talento e provas dadas é nos campos de futebol. Não havendo relva à vista, pouco nos importa.
Um país meritocrático jamais reelegeria Tomás Correia como presidente da Associação Mutualista Montepio Geral, porque, para além de os casos suspeitos em que esteve envolvido atentarem gravemente contra o nome da instituição, foi durante os seus mandatos que as contas se afundaram e a solvência do Montepio esteve em causa. Um país meritocrático concluiria sem dificuldade que aquele senhor não tinha qualquer competência para se manter no lugar (isto sem falar no problema da idoneidade) e que o seu afastamento da associação era imprescindível. Não foi o que aconteceu. Tomás Correia foi reeleito (pela quarta vez!) e tem à sua frente mais três anos de mandato. Porquê? Porque para muitos associados ele é uma pessoa importante e para as pessoas importantes que o apoiaram ele tem um enormíssimo mérito: fez-lhes favores.
Um país meritocrático também reconheceria que existem problemas graves de coordenação nos bombeiros. E que, por muito boa vontade que as corporações voluntárias tenham, morreram mais de 100 pessoas em 2017, e é, por isso, imprescindível que a protecção das populações seja repensada de cima a baixo.
Quem nessa altura ouviu Jaime Marta Soares percebeu rapidamente que os problemas eram de toda a gente menos dos bombeiros, tal como na altura em que Bruno de Carvalho caiu em desgraça os problemas no Sporting eram de toda a gente menos do presidente da mesa da assembleia geral. A agressividade com que este fim-de-semana Marta Soares se dirigiu ao ministro da Administração Interna é estapafúrdia, tal como o é a decisão de cortar a comunicação com a Protecção Civil por os bombeiros estarem descontentes com a nova lei orgânica que está a ser debatida no Parlamento.
Infelizmente, nenhum destes dois homens está minimamente interessado noutra coisa que não a manutenção do poder nas estruturas que dirigem, porque só assim poderão continuar a ser – lá está – pessoas importantes. Saber o que é melhor para o Montepio, ou o que é melhor para as populações que são servidas pelos bombeiros é um problema muito secundário nas suas cabeças. E, pelos vistos, nas nossas, que continuamos não apenas a aturar estas figuras duvidosas e espaventosas, como a votar diligentemente nelas.