Bibliotecas "cheias de infância": sobre promoção do livro, da leitura e da literatura
São múltiplos os encontros e as conversas, motivados pelos livros e pela leitura, a que tenho assistido, nas bibliotecas municipais ou públicas do nosso país.
Sou “de literatura”. Dou por mim a afirmá-lo e a sentir essa frase a ecoar em mim nos mais diversos momentos da minha vida. Sou “de literatura” e sou de/dos livros, desde sempre, no meu espaço pessoal e íntimo e, há já mais de duas décadas, nas minhas vivências profissionais/académicas. Talvez porque, tentando e persistindo no encontro com as questões que o texto coloca a quem o lê, procurei dar-lhes sempre resposta (como preconiza Jacques Bonnet, em Bibliotecas cheias de fantasmas, acredito que “o importante não é ler depressa, mas ler cada livro à velocidade que ele merece”), sempre ciente de que “é literatura tudo aquilo que reflecte um universo pessoal, que transporta uma imagem do mundo, que converte em arte o quotidiano, o efémero, o banal”, como escreve Nuno Júdice, em ABC da Crítica (2010).
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Sou “de literatura”. Dou por mim a afirmá-lo e a sentir essa frase a ecoar em mim nos mais diversos momentos da minha vida. Sou “de literatura” e sou de/dos livros, desde sempre, no meu espaço pessoal e íntimo e, há já mais de duas décadas, nas minhas vivências profissionais/académicas. Talvez porque, tentando e persistindo no encontro com as questões que o texto coloca a quem o lê, procurei dar-lhes sempre resposta (como preconiza Jacques Bonnet, em Bibliotecas cheias de fantasmas, acredito que “o importante não é ler depressa, mas ler cada livro à velocidade que ele merece”), sempre ciente de que “é literatura tudo aquilo que reflecte um universo pessoal, que transporta uma imagem do mundo, que converte em arte o quotidiano, o efémero, o banal”, como escreve Nuno Júdice, em ABC da Crítica (2010).
E, assim, tenho para mim que todas as estratégias de aproximação ao livro e à leitura, desde idades precoces, tendo implícitas as ideias de que a leitura não pode ter apenas um objectivo utilitário e também de que esta exerce um papel crucial ao nível do desenvolvimento intelectual, do aprofundamento de conhecimentos, da estruturação da imaginação, da formação da sensibilidade, do conhecimento de si mesmo e dos outros, do estímulo à reflexão e à criatividade, e, genericamente, do crescimento/amadurecimento individual e social, todas as estratégias, dizia, poderão “fazer viver a leitura”. Como lembra José António Gomes, num artigo disponível no portal do projecto Gulbenkian/Casa da Leitura, recuperando algumas palavras de Lucette Savier (1988), acredito que “fazer viver a leitura” é “ligar o livro à vida da criança, sem o limitar à aprendizagem e ao espaço escolar. É longe de censuras e argumentos intelectuais, desvelar o interesse e o prazer da leitura, partilhá-los e discuti-los com ela. E é, finalmente, correr o risco de que, em qualquer lugar, a qualquer momento, o livro e o jogo da leitura possam estar presentes; sujeitos ao capricho da criança, para um breve encontro ou para uma longa conversa.”
Ora, são actualmente múltiplos os encontros e as conversas, motivados pelos livros e pela leitura, a que tenho assistido, nas bibliotecas municipais ou públicas do nosso país, espaços físicos, na maioria dos casos, esteticamente admiráveis, cenários confortáveis, vivos, dinâmicos e alegres ou felizes, com projectos de promoção da leitura cuidadosamente desenhados e pensados tendo em conta esse universo plural que é o dos seus utilizadores ou esse leitor muito particular que é o dos nossos dias (e uma reflexão, só por si, sobre o perfil do leitor contemporâneo daria um longo artigo de opinião).
Como eu ainda sou de um tempo em que, por exemplo, nas escolas, os livros (das duas uma...) ou se encontravam arrumados pelos professores ou permaneciam religiosamente colocados em armários, muitos com prateleiras inacessíveis, fechados à chave, em perfeita segurança (!), e apenas disponibilizados por uma amável funcionária da biblioteca, que, a pedido, os colocava à disposição dos alunos, não deixo de me congratular sempre que entro numa biblioteca e constato a existência de volumes próximos do olhar e das mãos dos leitores, por vezes, até, organizados por temáticas ou, em certos casos, revisitados graficamente por crianças que os puderam manusear autonomamente, ler ou ouvir ler, por exemplo.
Depois de, nos anos 50 do século passado, meninas e meninos (mas não apenas) de todo o país, em especial, daquele habitualmente apelidado de “Portugal profundo”, terem convivido com o livro, a leitura e a literatura por via do movimento generoso das célebres carrinhas – bibliotecas itinerantes – da Fundação Calouste Gulbenkian (cujo acervo, aliás, era criteriosamente seleccionado por Branquinho da Fonseca), agora, as bibliotecas municipais disponibilizam fundos consideráveis, postos em comum ou divulgados em iniciativas tão diversas como a hora do conto, actividades em bebetecas ou clubes de leitura/comunidades de leitores para pais e filhos, sessões com autores e ilustradores, concursos de leitura, exposições diversas, autor(es) do mês, encontros sobre livros e literatura para diferentes mediadores de leitura, sessões de apresentação/lançamento de novos livros, jantares literários, iniciativas resultantes da articulação com outros organismos, como academias de música, por exemplo, entre outros.
O país é pequeno (dizem), como é pequena a fatia do Orçamento do Estado destinada à cultura, mas as bibliotecas municipais, em concreto a sua dedicação aos leitores mais pequenos e o seu empenho nessa valiosa tarefa que é a promoção do livro e da leitura, são grandes, cada vez maiores, e cheias de infância.
Por vontade expressa da sua autora, este texto encontra-se escrito segundo a norma ortográfica da Língua Portuguesa anterior ao Novo Acordo Ortográfico.