Uma grande oportunidade para a Europa
Até 2050 é necessário cortar emissões de CO2 até zero para evitar danos irreversíveis ao nosso planeta. A pressão é maior do que nunca.
Esta semana, 90 países encontram-se em Katowice, na Polónia, para alcançar um acordo sobre o melhor caminho para reforçar os compromissos em termos de clima. Até 2050 é necessário cortar emissões de CO2 até zero para evitar danos irreversíveis ao nosso planeta. A pressão é por isso maior do que nunca.
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Esta semana, 90 países encontram-se em Katowice, na Polónia, para alcançar um acordo sobre o melhor caminho para reforçar os compromissos em termos de clima. Até 2050 é necessário cortar emissões de CO2 até zero para evitar danos irreversíveis ao nosso planeta. A pressão é por isso maior do que nunca.
Há uns meses atrás, quando Paul Romer ganhou o Prémio Nobel da Economia, disse: "O perigo das previsões alarmistas –? para as quais existe um fundamento real –? é que vão tornar as populações apáticas e sem esperança." Acrescentou ainda que, no futuro previsível, é de facto possível reduzir emissões e melhorar a nossa qualidade de vida.
Partilhamos o seu otimismo. Apesar de termos muito pouco tempo, já identificamos pelo menos as medidas necessárias para descarbonizar a nossa economia. As palavras-chave são: investigação e inovação. Num relatório recente propomos uma série de ideias fortes para melhorar de facto a nossa qualidade de vida num mundo descarbonizado. Aqui deixamos alguns exemplos.
Em primeiro lugar, é preciso produzir energia limpa. Com efeito, os atuais modos de consumo de energia são responsáveis por 75% das emissões de gás com efeito de estufa na Europa. Dito isto, vários países europeus produzem energia solar e eólica com os mesmos custos de produção que os combustíveis fósseis, e vemos um número recorde de infraestruturas de energias renováveis. No entanto, ainda é preciso desenvolver condições favoráveis para tal, como melhorar as redes energéticas e capacidade de armazenamento de energia, criar redes e infraestruturas inteligentes e investir em soluções como a produção de hidrogénio por eletrolise. Nada disto é impossível, mas é preciso fazer um esforço concertado para conseguir resultados no curto prazo que nos resta.
Em segundo lugar, é preciso consumir energia de forma mais razoável. O sector dos transportes é um exemplo disso já que continua a depender muito de combustíveis fósseis. A solução óbvia seria, então, apostar nos veículos elétricos que consomem energia limpa. Paradoxalmente, esta transição está a ser feita mais rapidamente na China do que na Europa. Temos de superar dificuldades técnicas, regulamentares e económicas. No setor aéreo, o desafio é ainda maior, mas já existem tentativas de sucesso. Tal é o caso da Noruega, país que apesar de ser fortemente dependente do petróleo, visa fazer a transição para aviões elétricos em todos os voos domésticos de curta distância até 2040.
Em terceiro lugar, deveríamos aproveitar da economia circular. Nos atuais sistemas de produção alimentar, de saúde, de construção, etc., a reciclagem é a nova tendência. Porquê extrair gás natural para fabricar adubos quando podemos reciclar resíduos urbanos e usá-los para o mesmo fim? Porquê usar energia na exploração de cobre, utilizado nos telemóveis, quando podemos recicla-lo de dispositivos antigos? São perguntas importantíssimas, e as soluções estão ao nosso alcance.
Em quarto lugar, temos que pensar mais em sistemas e processos. Ao mudar apenas uma componente de um processo induzimos consequências para todo o sistema em que se encaixa. É preciso demonstrar sucessos na descarbonização em casos reais, por exemplo, em zonas de exploração mineira. Estas indústrias têm que se adaptar à nova realidade, caso contrário, não sobreviverão. Isto requer processos complexos e envolver cidadãos através da inovação social.
O progresso científico trará alternativas limpas e mais económicas que os combustíveis fósseis, e isto já se começa a ver no setor das renováveis. Aqueles que já lideram têm vantagem em termos de crescimento e criação de emprego. Estudos recentes demonstram que haverá mais criação de emprego na Europa se apostarmos nos transportes elétricos, desde que a produção de baterias seja feita na UE e não no exterior. Atualmente, a produção de baterias é feita maioritariamente na China e na Coreia do Sul.
Em vez de sucumbir à indiferença perante os sinais de alerta sobre o estado do ambiente, devíamos arregaçar as mangas e lançar-nos ao trabalho. Se queremos criar empregos e indústrias que estejam preparados para o futuro, temos que aumentar investimentos na área da investigação e no desenvolvimento. Na Europa, atravessamos o Renascimento e depois o Iluminismo... Hoje, a Europa entra numa nova época histórica.
Os autores escrevem segundo o novo Acordo Ortográfico