Promotor do Martim Moniz desiste de vedação e acrescenta verde aos contentores
O projecto continua a ser criar um recinto comercial de contentores, mas as críticas dos moradores da zona foram tidas em conta, garantem os empresários envolvidos.
Duas semanas depois de ser revelado aos lisboetas o projecto para o novo mercado no Martim Moniz e de ele ter sido unanimemente criticado por moradores da zona numa reunião pública, a empresa promotora decidiu fazer-lhe ligeiras alterações. Já não haverá vedação em redor do recinto, a mancha verde vai ser maior e o número de bancos, mesas e cadeiras foi revisto em alta.
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Duas semanas depois de ser revelado aos lisboetas o projecto para o novo mercado no Martim Moniz e de ele ter sido unanimemente criticado por moradores da zona numa reunião pública, a empresa promotora decidiu fazer-lhe ligeiras alterações. Já não haverá vedação em redor do recinto, a mancha verde vai ser maior e o número de bancos, mesas e cadeiras foi revisto em alta.
No essencial, o projecto de mercado mantém-se tal como foi apresentado. A Moonbrigade Lda., nova concessionária da placa central da praça, tenciona criar um recinto comercial de contentores marítimos, adaptados de modo a receberem lojas e serviços.
“O contentor é só a base. Tentamos descascar os contentores e revesti-los com outros materiais. No final não vai ter, de todo, o aspecto de um contentor”, explicou esta quinta-feira Geoffroy Moreno, accionista da Moonbrigade, empresa que detém com o irmão, Arthur. Os dois são também os donos da Stone Capital, companhia que está a desenvolver inúmeros projectos imobiliários em Lisboa e que quis envolver-se neste mercado para dar “mais meios” à iniciativa que existiu no Martim Moniz até há pouco tempo, o Mercado de Fusão.
Num encontro com jornalistas, Geoffroy disse que “este mercado tem a ambição de reflectir a diversidade do bairro” e de ser “muito democrático”, acolhendo negócios diversos. “Vamos ter alguns restaurantes de comida do mundo, com comerciantes que já estão estabelecidos na zona. Vamos ter padaria, cabeleireiro, talho, florista”, exemplificou o empresário. Paulo Silva, futuro coordenador do mercado, que na sessão pública foi quem deu o corpo às balas pela proposta, disse que está “em fase adiantada de negociações” com uma chapelaria e uma loja de discos de vinil.
Geoffroy Moreno, francês que vive em Lisboa há década e meia, explicou que a ideia para o mercado se inspirou no tempo em que o Martim Moniz não existia, em que o casario da Mouraria se espraiava por ali abaixo. “Quisemos reproduzir essa malha urbana para voltar a dar uma escala humana à praça”, disse. “Antes de pensar em usar contentores, fomos à procura de todos os formatos possíveis”, assegurou Moreno, acrescentando que os contentores depois de uma análise a outros mercados de contentores existentes em várias cidades. “É um formato utilizado no mundo inteiro.”
O empresário confirmou que a intenção inicial da Moonbrigade era ter um gradeamento à volta do mercado para que fosse possível fechá-lo à noite. Perante as críticas dos moradores, retrocedem: “Vai ser um mercado totalmente aberto, dia e noite. Foi decidido tirar a vedação. Vai ser um espaço público permeável, sem barreiras, sem fronteiras.”
“Totalmente aberto” não significa que o mercado funcione ininterruptamente, disse também Geoffroy Moreno, garantindo estar atento às preocupações com o ruído e a higiene urbana. O espaço deverá funcionar entre as 10h e as 22h ou até à meia-noite, no caso dos restaurantes. “Vamos fazer um controlo centralizado do som ambiente. Vamos fazer uma gestão centralizada dos resíduos”, afiançou.
Três milhões para 14 anos
Neste encontro com jornalistas esteve também presente José Filipe Rebelo Pinto, da NCS – Produção, Som e Vídeo, Lda., empresa que detinha a concessão da placa central da praça desde 2012. A câmara de Lisboa tem repetido a ideia de que foi por causa das dívidas desta companhia à autarquia que o contrato de concessão foi renegociado e ampliado. Geoffroy Moreno disse que Rebelo Pinto fará parte da estrutura accionista da Moonbrigade, tal como um “conjunto de sócios que ainda não está totalmente fechado”, e que a Stone Capital “vai ficar com uma participação minoritária” de 10%. José Filipe Rebelo Pinto ausentou-se do encontro por motivos urgentes sem que fosse possível questioná-lo sobre as alegadas dívidas à câmara.
De acordo com Moreno, o projecto vai implicar um investimento de três milhões de euros. “É preciso ter tempo para recuperá-lo, sobretudo quando a ideia não é fazer um mercado Time Out, mas um mercado mais local”, disse. Daí que, na renegociação da concessão, esta tenha sido atribuída por 14 anos, até 2032.
O empresário tentou contrariar a ideia de que o novo recinto comercial terá um impacto excessivo na praça, como temem as pessoas que intervieram na reunião de há duas semanas. “Estamos a ocupar 28% da área total da placa central. É uma redução de 40% face à actual concessão. De cada lado temos uma área livre equivalente ao Largo do Intendente.”
Por outro lado, defendeu que o impacto visual também não será grande, uma vez que os contentores têm 2,5 metros de altura e só “pontualmente” haverá um primeiro piso, aumentando a altura para os cinco metros. Ainda assim, do lado do Hotel Mundial vai existir uma espécie de pórtico com seis metros que receberá arte urbana, instalações artísticas e um “minimiradouro”, disse Moreno.
Obras em Janeiro
“O espaço vai ser humanizado, não vai ser um amontoado de contentores”, sustentou Paulo Silva. “Vamos reforçar as zonas verdes dentro do mercado, com árvores, floreiras, canteiros”, disse Geoffroy, que prometeu igualmente “reforçar [o número de] mesas, cadeiras e bancos para que as pessoas possam desfrutar livremente”. Sem necessidade de consumir, garantiu.
“Não queremos ser um OVNI que cai no meio do bairro”, disse Moreno, convicto de que “este é um bom projecto” que “toma em conta as preocupações dos moradores”. Na reunião de há duas semanas, uma maioria de habitantes da zona rejeitou os contentores e pediu antes um espaço verde, de silêncio, um refúgio num centro histórico dominado por diferentes formas de animação. “Estamos em diálogo com os moradores e as associações”, afirmou Geoffroy, que quer “começar a obra no início do ano” para ter o mercado a funcionar no Verão de 2019.
Desde que este projecto foi revelado que se têm sucedido as reacções adversas. Depois da reunião pública, o BE, o PCP e o PSD apresentaram moções na câmara que, genericamente, defendem o fim da concessão e o lançamento de um concurso de ideias para o Martim Moniz. O Fórum Cidadania Lx e o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, mostraram-se desagradados com a iniciativa. Manuel Salgado, o vereador do Urbanismo, prometeu analisar as críticas – mas não garantiu o sucesso das reivindicações.