Linha do Douro sujeita a dois transbordos e uma hora de atraso

As obras entre Caíde e Marco de Canaveses tiveram início a 26 de Novembro e levaram ao consequente fecho desse troço. A CP reduziu o número de comboios a partir desta última até ao Pocinho.

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O apito dá o sinal de arranque. Os sofás são do início dos anos 60. Algo mudou na Linha do Douro dos Comboios de Portugal (CP). A viagem entre a estação de Porto-Campanhã e a Régua tem, por estes dias, um leve sabor a túnel do tempo. Tudo porque o troço entre Caíde e Marco de Canaveses está cortado desde 26 de Novembro. Desde aí e durante três meses, quem viaja naquela linha terá que fazer dois transbordos e, a partir do Marco de Canaveses, regressar ao passado, uma vez que a automotora que a CP disponibiliza foi concebida ainda nos anos 60 e passou a destinar-se ao transporte turístico — comboio de turismo Miradouro —, mas, devido à necessidade, agora faz a ligação até à Régua e, no início e no fim do dia, até ao Pocinho.

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O apito dá o sinal de arranque. Os sofás são do início dos anos 60. Algo mudou na Linha do Douro dos Comboios de Portugal (CP). A viagem entre a estação de Porto-Campanhã e a Régua tem, por estes dias, um leve sabor a túnel do tempo. Tudo porque o troço entre Caíde e Marco de Canaveses está cortado desde 26 de Novembro. Desde aí e durante três meses, quem viaja naquela linha terá que fazer dois transbordos e, a partir do Marco de Canaveses, regressar ao passado, uma vez que a automotora que a CP disponibiliza foi concebida ainda nos anos 60 e passou a destinar-se ao transporte turístico — comboio de turismo Miradouro —, mas, devido à necessidade, agora faz a ligação até à Régua e, no início e no fim do dia, até ao Pocinho.

“O primeiro é directo, mas o segundo vai às estações e apeadeiros”, indicava o pessoal responsável a quem seguia viagem e ainda não sabia qual o autocarro onde devia entrar em Caíde. O tal que vai directo nem meia hora demora para chegar ao Marco, mas, aí, os passageiros têm ainda que esperar pelo outro que pára nas estações e apeadeiros para poderem seguir viagem. Entre a estação de Caíde até ao arranque do comboio no Marco de Canaveses soma-se uma hora e dois transbordos.

Uma vez no comboio cujas carruagens pertencem ao turístico Miradouro, ouve-se muita gente surpreendida por “quase voltar atrás no tempo”. “Faz-me lembrar quando fazia a viagem em criança”, “é mais espaçoso”, “isto sim são sofás”, diziam os passageiros que partilhavam esta nova experiência por um troço de linha a que tão bem estão habituados.

Do acostumado que estão ao percurso com vista directa para o Douro e apesar dos atrasos e redução de viagens a que estão sujeitos, alguns deles, como foi o caso de Noelma Gregório, não ponderaram trocar o comboio pelo autocarro — que agiliza o percurso — nas suas deslocações. “A minha linha é esta e já a faço desde criança, na altura com a minha mãe. Fazia a viagem ainda com os antigos comboios e levava muitas mais horas e, desde então, já houve muito progresso”, evidenciou a passageira.

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André Rodrigues

A esperança dos que viajam na Linha do Douro é que as obras não levem mais que os três meses previstos e que, depois disso, tudo volte ao normal. António Valente faz muitas vezes a viagem nos dois sentidos nas suas deslocações entre casa — em Mosteirô — e o trabalho, no Porto. “Consegui conciliar os horários porque fiz o turno da noite, mas gasto muito tempo”, explicava o passageiro que diz acabar por perder qualidade de vida por causa das viagens. “Demora mais tempo, há menos comboios e os horários não são muito ajustados às horas de trabalho, vou continuar a fazer a viagem até arranjar outra solução”, rematou.

Já Maria Teresa Cardoso deslocava-se de Ermesinde à Régua sem ter conhecimento do atraso — comparativamente ao horário que estava habituada a ter — de mais de uma hora que a esperava. Apesar de saber que em Caíde teria que trocar para um autocarro e no Marco de Canaveses regressar ao transporte ferroviário, não contava que a sua chegada à Régua ficasse condicionada em uma hora de espera. “Quem me vinha buscar teve que voltar para casa e regressar uma hora depois porque não sabiam da mudança. Isso é um transtorno muito grande para as famílias que trabalham”, explicou. No dia seguinte, Maria Teresa iria regressar ao Porto mas desta feita já com a noção dos condicionamentos da linha e da redução de horários.

Já quem segue viagem a partir da Régua, em direcção ao Pocinho, passa a usufruir apenas de dois horários por dia. “Ainda ontem, vinha uma senhora dos Estados Unidos que queria ir para o Pocinho, mas como cortaram as viagens, ela não conseguiu continuar o percurso”, contava uma passageira. Para viajar entre as duas estações passam a existir quatro opções, no total, das antigas dez: duas na direcção Porto-Campanhã-Pocinho às 9h15 e às 17h15. Já no sentido oposto, o das 07h22 e das 15h22 são as duas opções que os passageiros dispõem.

A actual situação de supressão de um troço da linha e diminuição de horários já gerou contestação por parte das autarquias que a CP abrange com o seu transporte. Numa nota de imprensa enviada pela Junta de Freguesia do Pinhão, a autarquia dá conta do desagrado com a diminuição de horários e “exige a manutenção do número de comboios”. Segundo o documento, a autarquia considera a situação “incompreensível, num momento em que se fala da aposta no interior e que foi anunciada a intenção de prolongar o investimento na linha, pelo menos, até àquela vila”.

As obras foram consignadas em Julho ao consórcio Opway/ DST por 10 milhões de euros e cobrem o troço de 16 quilómetros. A empreitada prevê a modernização da linha, assim como a electrificação dos túneis naquele troço e a renovação integral da via (substituição de carris, travessas e balastro), mas não prevê trabalhos de aumento de velocidade das locomotivas que vão continuar a circular a 80 e 90 quilómetros/hora.