Desperdício zero: a startup que faz dos retalhos alta-costura

Chama-se The Thinker and The Sinner e aproveita os tecidos e o patchwork para lhes dar uma nova vida. Pelo caminho, 10% das receitas são revertidas para duas associações: Movimento Mulheres de Vermelho e APAV.

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Começou com as nossas avós a juntarem os trapinhos que andavam lá por casa e a cosê-los uns aos outros e há ainda quem diga que a técnica era famosa no antigo Egipto. Muitas mantas, pegas para tachos e até sacos para o pão nasceram do patchwork. A marca portuguesa The Thinker and The Sinner transformou esta tradição em alta-costura.

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Começou com as nossas avós a juntarem os trapinhos que andavam lá por casa e a cosê-los uns aos outros e há ainda quem diga que a técnica era famosa no antigo Egipto. Muitas mantas, pegas para tachos e até sacos para o pão nasceram do patchwork. A marca portuguesa The Thinker and The Sinner transformou esta tradição em alta-costura.

A empresa foi lançada por António Peres e Paulo Julião e as peças são feitas por Julião e sete costureiras que trabalham no pequeno atelier nas Olaias, Lisboa. Os tecidos, doados por associações, marcas, amigos e familiares dos criadores, são a alma do negócio.

António Peres cresceu rodeado de tecidos, linhas e dedais. Resultado de um desafio proposto pela mãe, costureira de longa data, nasceu uma almofada que foi o início de tudo. A empreitada ocupou os tempos livres da mãe, mas não foi fácil: "Confesso que é obra coser um pedaço de seda de dois milímetros!".

Foi a semente da The Thinker and The Sinner. "Tinha centenas de gravatas em casa, levei-as para o atelier e, hoje em dia, reconheço muito daquilo que é a minha memória e que está ligada àqueles tecidos”, conta António.

Paulo Julião, designer de moda e director da marca, juntou-se a António e lançaram a The Thinker and The Sinner, com um investimento inicial de 50 mil euros. Ficou surpreendido com a qualidade daquelas primeiras almofadas, que lhe lembravam produtos italianos ou parisienses de luxo.

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Almofada oferecida pela marca à cantora pop Madonna The Thinker and The Sinner

As missangas e pequenos tecidos são minuciosamente bordados à mão em missões que podem durar dias. Uma das três costureiras principais da marca confessa que já desfizeram peças vezes sem conta até ficarem perfeitas. "O desafio começa em pegar numa técnica que já existe, reinventar e reavivá-la", afirma Paulo Julião. 

Vivem sob a máxima do "zero desperdício", aproveitando gravatas, vestidos e lenços para construir almofadas e, no futuro, uma linha de acessórios. Os preços das almofadas vão dos 90 aos 200 euros.

"Uma causa pessoal"

O nome desta nova e pequena empresa nasceu das duas dimensões que, para António Peres, caracterizam mais a natureza humana: o pensamento e o pecado. “Somos pecadores e só não o somos mais porque o pensador em nós não nos deixa. Ter uma almofada destas é um pecado perdoado.” 

Querem criar almofadas monomarca, mas, para isso, os gigantes da alta-costura não podem simplesmente esquecer as políticas de reciclagem. As grandes marcas de alta-costura, seguindo a política de não fazerem promoções ou saldos, "são acusadas de queimar os restos de tecido que sobram e este é o problema que tem de ser resolvido”, afirma António. “Teria toda a importância para nós.”

Os criadores decidiram reverter 5% das receitas para o Movimento Mulheres de Vermelho — criado em 2006 com o objectivo de alertar a comunidade feminina para os problemas cardíacos — e 5% para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).

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The Thinker and The Sinner

Paulo conta que, quando António lhe mostrou o projecto, não aceitou apenas por gostar do design. Doente oncológico desde 2016, sente o dever social de ajudar: "Fui ajudado por tantas pessoas. Isto é uma causa pessoal." Muitas das peças foram pensadas para as causas e serão leiloadas em eventos específicos.

A apresentação da marca à comunicação social foi feita esta quarta-feira na Sala de Arquivo da Câmara de Lisboa, onde foi oferecida à autarquia uma almofada com a caravela portuguesa como protagonista. No decurso de seis meses de trabalho intenso, a equipa de sete costureiras desenvolveu dezenas de peças, incluindo a almofada que será oferecida à cantora Madonna, actualmente residente em Lisboa, para “agradecer o que ela tem feito pelo país, a visibilidade que deu a Portugal”, afirma António Peres.

As peças ainda não foram expostas aos consumidores e o site estará disponível em Janeiro do próximo ano.

Texto editado por Pedro Rios