Os bifes, a descarbonização e o futuro
O plano para a descarbonização é um bom começo. Mas, perante tantas dificuldades e face ao vício nacional de governar para ciclos eleitorais, estará o país habilitado para o levar a sério?
O plano para atingir a neutralidade carbónica em 2050 é um conjunto de magníficas intenções que variam entre o desejo de reduzir os incêndios florestais, a meta de cortar no consumo de combustíveis fósseis ou a ambição de diminuir o efectivo de bovinos em Portugal entre 25% e 50%. Numa equação que combina gasóleo, ordenamento do território e consumo de bifes, o consenso é praticamente impossível.
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O plano para atingir a neutralidade carbónica em 2050 é um conjunto de magníficas intenções que variam entre o desejo de reduzir os incêndios florestais, a meta de cortar no consumo de combustíveis fósseis ou a ambição de diminuir o efectivo de bovinos em Portugal entre 25% e 50%. Numa equação que combina gasóleo, ordenamento do território e consumo de bifes, o consenso é praticamente impossível.
Mas para um país que tanto se queixa da falta de reflexão sobre o presente e de pensamento sobre o futuro, o plano apresentado pelo Governo abre espaço a uma nova oportunidade de empenho cívico. Pelo menos para os que acreditam na existência de uma base científica nas explicações sobre o aquecimento global, cujas consequências previsíveis colocam Portugal no topo da lista dos territórios mais ameaçados.
O primeiro dado a destacar sobre o plano é o de não assinalar as devidas distâncias entre os impactes esperados pelas suas diferentes medidas – porque, uma coisa é reduzir as emissões através do encerramento das centrais de carvão, outra é reduzir o efeito de estufa através da redução do número de vacas.
Sendo um problema universal ao qual nenhum país se deve furtar, as emissões de metano ou o consumo brutal de recursos necessários à criação de um bife impõem a obrigatoriedade de todos termos de reduzir o seu consumo. As metas propostas pelo Governo, que apontam para um abate até metade do efectivo bovino, são, no entanto, excessivas.
Mais importante do que os detalhes é fundamental olhar para a dimensão dos investimentos que é urgente desbloquear e as políticas de ordenamento, ambientais e fiscais que vai ser necessário aplicar. Também aqui se adivinham resistências – porque para se aumentar o sequestro do carbono da floresta vai ser necessário “descriminalizar” o eucalipto.
Para se acelerar a produção de energia renovável vai ter de se encarar de outra forma a relação do Estado com as empresas que investem para a produzir. Para se cumprirem as metas para a circulação de automóveis eléctricos vai ser necessária uma política fiscal que encoraje a sua compra.
Tal como está, o plano para a descarbonização é um bom começo. Mas, perante tantas dificuldades e face ao vício nacional de governar para ciclos eleitorais, estará o país habilitado para o levar a sério?