Cidadãos considera “irresponsável” excluir Vox de um governo na Andaluzia
Líder da extrema-direita garante que o seu partido não quer lugares e diz que vai esperar pelas negociações entre o PP e o C’s.
É oficial: não há cordão sanitário em Espanha para impedir que a extrema-direita do Vox faça parte de um governo, pelo menos autonómico, pelo menos na Andaluzia. Primeiro, foi o Partido Popular de Pablo Casado a sugerir que a formação que tem nos 12 deputados andaluzes os seus primeiros eleitos pode apoiar uma coligação de direita ou até integrar o executivo. Chegou a vez do líder do Cidadãos admitir exactamente o mesmo.
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É oficial: não há cordão sanitário em Espanha para impedir que a extrema-direita do Vox faça parte de um governo, pelo menos autonómico, pelo menos na Andaluzia. Primeiro, foi o Partido Popular de Pablo Casado a sugerir que a formação que tem nos 12 deputados andaluzes os seus primeiros eleitos pode apoiar uma coligação de direita ou até integrar o executivo. Chegou a vez do líder do Cidadãos admitir exactamente o mesmo.
“Nesta altura, seria pouco responsável descartar seja o que for”, afirmou Albert Rivera na conferência de imprensa em que anunciou que a liderança do Cidadãos decidiu, por unanimidade, iniciar negociações com o PP para chegar a um pacto de governo na Andaluzia.
Coube aos jornalistas forçar Rivera a esclarecer a sua posição face ao Vox, primeiro sobre se admite negociar com o partido, depois sobre a possibilidade de este incluir um executivo de coligação à direita. “A nossa prioridade absoluta é que Juan Marín lidere a Junta da Andaluzia. A partir daí, com cinco partidos seria uma irresponsabilidade descartar todos os cenários que estão em cima da mesa”, repetiu.
Rivera insiste que cabe ao candidato do Cidadãos, Juan Marín, presidir à comunidade, não por ter sido o vais votado – foi terceiro – mas por ser o único que subiu nas urnas; o partido considera ainda que entre Cidadãos (18,3% e 21 deputados) e PP (20,8%, 26 deputados) se verificou um empate técnico. Vontade a que o PP se irá certamente se oporá, como tem deixado claro.
“O resto dos espanhóis castigaria qualquer formação que actuasse com umbiguismo ou cálculos eleitorais face a esta possibilidade de mudança na Andaluzia”, afirma Juan Manuel Moreno Bonilla, presidente do PP andaluz. “Seria difícil explicar que aqueles que passaram a campanha a pedir mudança agora tentem algum tipo de geometria variável. Teria a sua repercussão eleitoral”, diz Casado, indicando claramente que para o PP só o seu candidato, Juanma Moreno, pode governar.
“Há uma regra fundamental em democracia que todos devemos cumprir, o que sai das urnas tem de ser assumido com respeito, e das urnas saiu a mudança”, diz o próprio Moreno.
A soma do PP e do Cidadãos não chega para a maioria absoluta (55 deputados) mas Rivera admitiria diferentes cenários. Para formarem governo bastaria que o PSOE (primeiro, com 27,9% e 33 deputados) se abstivesse no debate de investidura, o que não está completamente posto de parte. A partir daí, o executivo teria de negociar apoios a cada proposta.
À partida, a chamada direita constitucionalista não terá de se preocupar em incluir o Vox no governo. Se quiser contar com o apoio da formação de Santiago Abascal para tomar posse vai ter é de aceitar cumprir algumas das suas propostas eleitorais, o que não se avizinha menos controverso.
O Vox não quer “cargos”, vai é combater “por ideias” e pelo fim de 36 anos de “regime socialista” na comunidade, disse Abascal depois da reunião do Comité Nacional que analisou os resultados. E já tem uma lista de condições para apoiar a formação de um governo: o fim do Canal Sur (a televisão autonómica, que o PP admite extinguir), uma reforma do estatuto andaluz para devolver ao Estado central as competências de saúde e educação, uma auditoria “pela fraude no Plano de Fomento de Emprego” na região e um estudo para identificar “organismos supérfluos” são as exigências principais.
Parece muito mas não chega: pelo menos para início de negociações, o Vox exige ainda uma defesa da caça e da tauromaquia, a derrogação das leis de Violência de Género e Memória Histórica e o fim do imposto sucessório. Para já, Abascal quer aguardar pelas conversações entre os partidos de Casado e Rivera. Ao Cidadãos, a quem custará mais contar com o seu apoio do que ao PP, pede que “esteja à altura”.