Charlotte Prodger fez um filme autobiográfico com o iPhone e ganhou o Prémio Turner

Apesar de ter já uma carreira com 20 anos, a artista de Glasgow está longe do estrelato. Terça-feira à noite recebeu um dos prémios mais prestigiados das artes do Reino Unido. O primeiro Turner para um filme feito num smartphone. Em 2019 representará a Escócia na Bienal de Veneza.

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Charlotte Prodger tem 44 anos e é a primeira artista a ganhar o Turner com um filme gravado num smartphone Charlotte Prodger

São pequenos clips que captam momentos do seu quotidiano feitos com um iPhone. É um meio de filmar barato, fácil de usar, que está sempre à mão e que, para quem passa muito tempo sozinha como ela, chega a parecer uma extensão do próprio corpo. Foi assim que Charlotte Prodger, a artista escocesa que esta terça-feira à noite ganhou o Prémio Turner, justificou o recurso ao seu smartphone na criação.

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São pequenos clips que captam momentos do seu quotidiano feitos com um iPhone. É um meio de filmar barato, fácil de usar, que está sempre à mão e que, para quem passa muito tempo sozinha como ela, chega a parecer uma extensão do próprio corpo. Foi assim que Charlotte Prodger, a artista escocesa que esta terça-feira à noite ganhou o Prémio Turner, justificou o recurso ao seu smartphone na criação.

“Sinto-me muito honrada, arrebatada, na verdade. É bastante surreal”, disse a artista de 44 anos que vive e trabalha em Glasgow ao receber aquele que é um dos mais prestigiados prémios de arte do Reino Unido, aqui citada pelo diário The Guardian.

Prodger estava na shortlist do Turner com dois filmes em que se vê a paisagem escocesa a partir da janela de um comboio ou uma T-shirt em cima de um radiador. BRIDGIT  e Stoneymollan Trail fizeram parte da sua exposição a solo no Bergen Kunsthall, um dos principais centros para a arte contemporânea na Noruega, e foi com eles que deixou para trás os outros três nomeados para a fase final: Luke Willis Thompson, Naeem Mohaiemen e o colectivo Forensic Architecture. A artista que recorre por norma à imagem e movimento, à escultura, à performance e à escrita vai receber agora 28 mil euros, ao passo que os três restantes concorrentes levarão para casa cerca de seis mil euros.

Todos os finalistas trabalhavam com vídeo, filme e imagem digital, e todos com uma abordagem política, frisou o júri na cerimónia de entrega deste prémio que vai já na 32.ª edição e que se destina aos artistas britânicos que no último ano tenham visto a sua obra em destaque.

BRIDGIT tem a duração de 32 minutos e pode ser visto agora na Tate Britain, onde está exposto o trabalho dos quatro finalistas. Filmada ao longo de um ano em ambiente doméstico, mas também nas muitas viagens que fez, é uma obra em que estão presentes muitos dos temas que costuma abordar: classe, identidade queer, tecnologia, paisagem. A acompanhar as imagens há uma voz, a da artista, que vai dando conta de passagens da sua vida, falando de como foi assumir a sua homossexualidade no começo dos anos 90, da música de Jimi Hendrix ou do facto de muitas pessoas não perceberem à primeira se ela é uma mulher ou um homem.

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De acordo com o júri este filme autobiográfico devedor do diário da artista e de outras leituras, feito com um smartphone, o primeiro a ganhar o Turner, escreve o diário The Telegraph, representa um rasgo, uma nova forma de trabalhar, mais ampla. Para Alex Farquharson, director da Tate Britain e presidente do colectivo de jurados do Turner, o trabalho de Prodger “é muito impressionante na forma como lida com uma experiência pessoal”, ao mesmo tempo que evoca a tradição no tratamento da paisagem. “Acaba por ser tão surpreendentemente franco. E isto não é o que costumamos esperar de um clip filmado com o iPhone”, disse. A sua obra, concluiu o director da Tate e segundo a BBC, tem potencial para ser muito importante para gerações mais novas porque “lida com o género como algo que não está determinado, como algo fluido, como algo que nem sempre se encaixa nas normas sociais”.

Escreve Adrian Searle, um dos críticos de artes plásticas do The Guardian, que, através das histórias que conta, estando ela no centro ou cedendo o protagonismo a outros, Prodger mostra “quão mutável, fluida e dependente das coisas que estão à nossa volta, as influências, os desejos, pode ser a noção que temos de nós mesmos”.

Charlotte Prodger fora já a escolhida para representar a Escócia na Bienal de Veneza do próximo ano.