Aumento de casos de VIH em homens que fazem sexo com homens não é surpresa, diz Abraço
Segundo o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge observou-se um aumento de 29% no número de casos em casos de homens que fazem sexo com homens.
A associação Abraço afirmou nesta terça-feira que o aumento do número de casos de VIH em homens que fazem sexo com homens não constitui uma surpresa, defendendo que é preciso encontrar novos métodos preventivos para controlar a doença.
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A associação Abraço afirmou nesta terça-feira que o aumento do número de casos de VIH em homens que fazem sexo com homens não constitui uma surpresa, defendendo que é preciso encontrar novos métodos preventivos para controlar a doença.
Segundo o relatório Infecção VIH e sida relativo a 2017, do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), observou-se um aumento de 29% no número de casos em casos de homens que fazem sexo com homens, que desde 2015 são em número mais elevado que os registados relativos a homens heterossexuais.
Em declarações à agência Lusa, a vice-presidente da Abraço, Cristina Sousa, afirmou que estes números não são "uma surpresa", adiantando que "o investimento que está a ser feito nos últimos anos nesta população ainda precisa de ser mais analisado".
Por conseguinte, defendeu, tem de se intervir neste grupo em específico, um trabalho que já está a ser feito pela Abraço e pela Direcção-Geral da Saúde. "Realmente tem-se verificado um número crescente de infecção VIH nesta população e tem-se intervindo junto delas através do rastreio, mas também com a introdução agora da PREP [profilaxia pré-exposição do VIH] que será visto mais como um método preventivo de forma a tentarmos controlar a doença nesta população", salientou.
Cristina Sousa adiantou que esta população sempre "ouviu falar muito mais" de sida, porque é uma doença que, desde o seu início, está associada à população homossexual.
Por esta razão, mais facilmente a assume como uma doença crónica e, "apesar de todos os receios que possa ter em relação a contrair a doença", percebeu que há outras formas de a prevenir.
A PREP veio ajudar a que não haja novos casos de infecção nesta população que "rejeita muito o preservativo" e ao fazê-lo acaba por correr maior risco.
Para Cristina Sousa, este medicamento foi um passo importante no combate à doença e os números do INSA vêm provar isso. "Não podemos fugir a esta realidade e temos que encontrar outros métodos preventivos para conseguir controlar e colmatar a situação presente".
Advertiu, no entanto, que os homens que fazem sexo com homens não são diferentes do "resto da população que não usa preservativo", considerando que a grande preocupação está na população em geral. "O heterossexual continua a considerar que é uma infecção de grupos específicos, que é algo que não lhe acontece a ele, e estes dados do INSA podem dar a entender a um leigo mais uma vez isto, mas não é verdade".
Em Portugal, "continuamos a não encontrar os diagnósticos tardios": os novos casos que aparecem na faixa etária dos 25/40 anos são "infecções recentes na população de homens que fazem sexo com homens que procuram o teste assim que sabem que têm um comportamento de risco".
"O que nos continua a falhar em Portugal é detectar aqueles que não sabem que estão infectados" e, "na minha opinião, esses estão na população em geral, no grupo dos heterossexuais, que desconhecem o seu estado serológico há cinco, dez anos" e continuam a não se proteger e a infectar.
O relatório do INSA adianta que mais de mil novos casos de infecção por VIH surgiram em Portugal no ano passado, sendo o grupo etário entre os 25 e os 29 anos o que teve taxa mais elevada de novos diagnósticos.
No ano passado registaram-se 261 mortes em pessoas com VIH, 134 delas em estádio sida, a fase mais avançada da infecção. A idade mediana à data da morte foi de 52 anos.