May foi a Belfast ouvir o DUP teimar: “Deite fora o backstop e terá ‘Brexit’”

Primeira-ministra visitou País de Gales e Irlanda do Norte para promover o acordo do “Brexit”. Unionistas que suportam o Governo insistem que a “versão actual” do acordo de saída é “inaceitável”.

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Arlene Foster, líder do DUP, recebeu May em Belfast Reuters/CLODAGH KILCOYNE

Theresa May lançou-se numa verdadeira campanha eleitoral para vender o acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia e com o país em contagem decrescente para a votação do documento no Parlamento, no dia 11 de Dezembro, visitou esta terça-feira o País de Gales e a Irlanda do Norte, para se encontrar com líderes políticos, empresários, agricultores e estudantes locais.

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Theresa May lançou-se numa verdadeira campanha eleitoral para vender o acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia e com o país em contagem decrescente para a votação do documento no Parlamento, no dia 11 de Dezembro, visitou esta terça-feira o País de Gales e a Irlanda do Norte, para se encontrar com líderes políticos, empresários, agricultores e estudantes locais.

O encontro mais esperado, em Belfast, com a líder do Partido Unionista Democrático (DUP) Arlene Foster, não trouxe novidades sobre a posição do partido que sustenta o Governo britânico: ou May “deita fora o backstop” ou não há forma de os dez deputados do DUP aprovarem o acordo do “Brexit”.

“A versão actual do acordo de saída é inaceitável e May não conseguirá persuadir o DUP a apoiá-la”, esclareceram os unionistas em comunicado. “Insistimos com a primeira-ministra para que abdique dos seus planos de promoção do acordo e, ao invés disso, comece a trabalhar para encontrar uma solução. Se o backstop for removido, poderemos chegar a um consenso”.

Com o DUP, de um lado, a insistir há várias semanas que “nunca poderá” apoiar um acordo que inclui a solução backstop para a ilha irlandesa, e com May, do outro, a garantir que sem essa cláusula de garantia para evitar a reposição da fronteira entre Irlanda do Norte e República da Irlanda “não há acordo possível” com Bruxelas, era difícil que a primeira-ministra conseguisse trazer algo de positivo do encontro com Arlene Foster.

Até porque a líder dos unionistas deu uma entrevista à BBC na manhã desta terça-feira, na qual rotulou a visita de May à Irlanda do Norte como uma “perda de tempo” e descreveu a sua digressão pelo país para promover o acordo como uma “excursão de propaganda”. “O que mais me decepciona é a primeira-ministra ter desistido. Desistiu de continuar a negociar e de procurar um acordo melhor”, lamentou Foster.

O backstop foi inserido no tratado jurídico e implica a constituição de uma nova área aduaneira comum entre o Reino Unido e a UE e o alinhamento total da Irlanda do Norte com as regras do mercado único, caso os dois blocos não fecharem um acordo de parceria e cooperação económica até ao fim do período de transição, em Dezembro de 2020 (extensível até ao fim de 2022), ou não encontrarem uma solução tecnológica para evitar a reposição dos controlos alfandegários na ilha.

Os unionistas rejeitam esta disposição, por temerem que se desenhe uma nova fronteira no mar da Irlanda, que os afastará do resto do território britânico. E a sua posição conta, uma vez que os seus dez deputados suportam o Governo tory no Parlamento.

A duas semanas da votação que decidirá o futuro do divórcio, todos os partidos com assento na Câmara dos Comuns de Westminster têm representantes que já assumiram publicamente que vão chumbar o documento do “Brexit”, incluindo mais de 80 deputados do Partido Conservador. Mas ainda que sejam eles que tenham de ser convencidos pelo Governo sobre os benefícios do acordo alcançado no domingo em Bruxelas, May aponta a um público mais alargado: a população britânica.

Em entrevista ao Sun, publicada esta terça-feira, a primeira-ministra britânica confirmou a disponibilidade para um debate televisivo com o líder do Partido Trabalhista, para discutirem o acordo. “Vou explicar porque é que este é o melhor acordo para o Reino Unido e estou preparada para o debater com Jeremy Corbyn. Porque eu tenho um plano e ele não tem nenhum”, afiançou May, que em 2017 rejeitou debater com o trabalhista na campanha para as legislativas antecipadas.

A estratégia do líder do executivo é ambiciosa e o seu sucesso imprevisível. Ao alargar o debate ao país, May vai tentar puxar algumas fatias do eleitorado para o seu lado e, com isso, levar os deputados que as representam em Westminster a sentir-se pressionados a apoiar o seu acordo.

Partido Nacional Escocês, Liberais-Democratas, Verdes e Plaid Cymru também mostraram vontade de entrar no confronto televisivo, mas a primeira-ministra prefere um frente-a-frente com Corbyn, já fez saber os nacionalistas-escoceses, os liberais-democratas, os ecologistas e os sociais-democratas galeses disso mesmo. 

Os conservadores eurocépticos, por outro lado, olham para o evento com cepticismo, por entenderem que May e Corbyn não representam as visões adequadas da batalha do “Brexit”. “Os debates são óptimos para a democracia. Mas este, em vez de alargar o diálogo, só o reduz, porque oferece uma escolha errada entre o acordo fracassado de May e as propostas vagas de Corybn. Nenhuma das duas é um ‘Brexit’”, escreveu o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros Boris Johnson no Twitter.

Os media britânicos estão a apontar o evento para o dia 9 de Dezembro (domingo), dois dias antes da votação do acordo no Parlamento. 

Ainda em território galês e antes de embarcar para a Irlanda do Norte, May contrariou o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que na segunda-feira defendeu que o acordo de saída é mais benéfico para a UE do que para o Reino Unido, uma vez que, tal como está, impede Londres de fazer acordos comerciais com outros países.

“Abandonando a União Europeia, vamos ter a capacidade para tomar decisões em proveito próprio em matéria de política comercial. Essas decisões deixaram de ser tomadas por Bruxelas”, insistiu a primeira-ministra.

A campanha do Governo de promoção do acordo do “Brexit” continua na quarta-feira, com a apresentação, em conjunto com o Banco de Inglaterra, de um relatório sobre o impacto do mesmo na economia britânica.