A ameaça à Europa que vem do Leste
O choque entre a Rússia e a Ucrânia às portas do mar de Azov veio outra vez lembrar que no Leste há uma ferida aberta que o tempo está a agravar.
Não bastava a emergência do populismo, a crise dos refugiados, a tragédia do Brexit ou a quebra dos elos transatlânticos que estiveram na base da segurança da Europa nas últimas sete décadas: o choque entre a Rússia e a Ucrânia às portas do mar de Azov veio outra vez lembrar que no Leste há uma ferida aberta que o tempo está a agravar.
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Não bastava a emergência do populismo, a crise dos refugiados, a tragédia do Brexit ou a quebra dos elos transatlânticos que estiveram na base da segurança da Europa nas últimas sete décadas: o choque entre a Rússia e a Ucrânia às portas do mar de Azov veio outra vez lembrar que no Leste há uma ferida aberta que o tempo está a agravar.
A Rússia ocupou ilegalmente a Crimeia e não aconteceu nada; os dois países mantêm uma guerra de baixa intensidade que, segundo alguns observadores, já causou mais de dez mil mortes, e não aconteceu nada; e a Rússia permite-se ao direito de abrir fogo e de aprisionar embarcações ucranianas que, de acordo com a lei internacional e as convenções celebradas pelos dois países, circulavam em águas livres sem que se vislumbre o que possa vir a acontecer.
O que se passou na Crimeia, se repete na região do Donbass ou agora no estreito de Kerch não pode continuar a ser visto como a repetição de actos longínquos ou inconsequentes. A Rússia tem inscrito na sua genética nacional claros instintos imperialistas e não deixará de aplicar o seu poder a todos os vizinhos que não sigam a política de deferência da Bielorrússia.
Mas será maniqueísmo acreditar que Moscovo veste a ancestral pele do urso predador e que não há responsabilidades na Ucrânia, na Europa ou na NATO pelo que se está a passar. Querer levar as fronteiras atlânticas até às portas da Rússia foi um erro estratégico que fez despertar o orgulho ferido do gigante e estimulou, com os custos que sabemos, a agressividade do regime de Putin.
O problema maior que enfrentamos é a total ausência de respostas para o conflito que continua a ferver e a agravar-se em lume brando. Não passa pela cabeça de ninguém recorrer ao poder militar para suster o apetite da Rússia pelo leste da Ucrânia. A ONU está paralisada pelo veto russo no Conselho de Segurança.
Na Europa acomodada e desorientada está fora de causa sequer subir de tom dos protestos. Para lá dos embargos, das sanções e de banais represálias diplomáticas, o fluir do tempo continua a ser favorável à Rússia. Um dia, mais cedo do que tarde, a Europa descobrirá que a velha tese do apaziguamento de Neville Chamberlain continua a não ser resposta para potências expansionistas. Nessa altura será tarde de mais para acudir à Ucrânia.