Carlos Costa: "Há elementos pertubadores no horizonte" como a digitalização

O governador considera que o União Bancária está - apesar de presente no quotidiano dos portugueses -, incompleta, faltando o mecanismo único de garantia de depósitos.

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Miguel Manso

A abrir o seminário sobre os "4 anos de mecanismo único de supervisão: lições e desafios futuros" promovido pelo Banco de Portugal (BdP), e na presença dos presidentes dos principais bancos, o governador elogiou o projecto europeu de criar uma União Bancária, decisão que, passados quatro anos, está "a funcionar em pleno".

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A abrir o seminário sobre os "4 anos de mecanismo único de supervisão: lições e desafios futuros" promovido pelo Banco de Portugal (BdP), e na presença dos presidentes dos principais bancos, o governador elogiou o projecto europeu de criar uma União Bancária, decisão que, passados quatro anos, está "a funcionar em pleno".

Hoje, disse, a União "faz parte" do dia-a-dia da vida dos bancos portugueses. "Um desafio colossal" que já contribuiu para a melhoria da sustentabilidade da banca.

“Embora possamos afirmar que a banca europeia está hoje melhor preparada para enfrentar os desafios, a União está ainda incompleta, sem o mecanismo único de garantia de depósitos, o que considera ser uma fragilidade”, explicou.

Para Carlos Costa "completar a União Bancária é crucial para avançar na construção europeia".

O governador avisou ainda que o processo de concentração no espaço europeu será tanto mais rápido quanto mais preparadas estiverem as instituições, nomeadamente dos países de pequena e média dimensão.

O governador notou também que um dos riscos que a banca dita tradicional hoje enfrenta é a concorrência das empresas tecnológicas, as ditas fintech, que competem no mercado sem supervisão e pouca regulação.

Embora destaque que o sistema está hoje em condições mais favoráveis para enfrentar crises futuras, Carlos Costa sublinha que há "elementos perturbadores a perfilarem-se no horizonte”, como, por exemplo, o "crescimento do sector das fintechs e da digitalização da economia".

"Alguns grandes bancos tradicionais, que estão sujeitos a regulação intensa, valem hoje menos em bolsa do que algumas fintechs", nota Carlos Costa: "o que dá uma ideia das novas potenciais fontes de risco".

"É imperioso separar as funções de supervisão das de regulação" como "garante de independência face ao poder político", defendeu ainda Carlos Costa. 

BCP pede tempo

Para Miguel Maya, do BCP, a arquitectura do Mecanismo Único de Supervisão deu imensa confiança e credibilidade ao sistema, mesmo sem Fundo de Garantia de Depósitos.

Os bancos europeus não partiram para União Bancária todos em condições idênticas, e, por esta razão, o presidente do BCP defende que a banca portuguesa deve beneficiar de um período gradual de resolução dos NPEs (60% são créditos em incumprimento e os outros 40% são empresas em reestruturação e que são viáveis mas a quem os bancos não podem dar crédito).

O presidente do BCP alertou ainda para o risco de Portugal deixar de ter bancos com sede em território nacional, que não sejam sucursais ou filiais, numa referência à presença de bancos espanhóis como o Santander e o CaixaBank (BPI).

Miguel Maya voltou a referir que a contribuição de 40 milhões para o fundo de resolução para pagar os resgates ao Novo Banco (Lone Star) e Banif (Santander) constitui um fardo para o BCP.

Por seu turno, Fernando Ulrich, do BPI (Caixabank), aproveitou para salientar a "obra notável" que foi feita com o Mecanismo Único de Supervisão.

Notícia actualizada às 17h30 com mais informação