“Estamos a homenagear mulheres que fizeram do canto a sua arma”
Mulheres do Sul, o novo espectáculo de Adriana Queiroz, junta três vozes e a guitarra de Javier Patino para celebrar o repertório de cinco grandes cantoras sul-americanas. Estreia-se esta terça-feira no Teatro Ibérico, em Lisboa.
Mulheres do Sul a cantarem mulheres do Sul, eis o novo espectáculo de Adriana Queiroz, cantora que é também actriz e foi destacada bailarina. Nos anteriores, havia uma só voz, a sua, a acompanhar os músicos ou as orquestras. Neste, porém, ela quis convidar mais duas cantoras para partilharam o palco consigo. E é assim que, esta terça-feira, no Teatro Ibérico, em Lisboa (21h), ouviremos cantar a seu lado Lara Li e Luanda Cozetti. Três vozes e a guitarra de Javier Patino, um músico de Jerez de La Frontera com provas dadas no flamenco.
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Mulheres do Sul a cantarem mulheres do Sul, eis o novo espectáculo de Adriana Queiroz, cantora que é também actriz e foi destacada bailarina. Nos anteriores, havia uma só voz, a sua, a acompanhar os músicos ou as orquestras. Neste, porém, ela quis convidar mais duas cantoras para partilharam o palco consigo. E é assim que, esta terça-feira, no Teatro Ibérico, em Lisboa (21h), ouviremos cantar a seu lado Lara Li e Luanda Cozetti. Três vozes e a guitarra de Javier Patino, um músico de Jerez de La Frontera com provas dadas no flamenco.
A ideia deste espectáculo não é de agora, nem surgiu como reacção às eleições brasileiras ou à emergência de novos focos ditatoriais no mundo. “Infelizmente, tornou-se oportuno”, diz Adriana. “Mas não é sobre ditaduras, é sobre a resistência das mulheres, estamos a homenagear mulheres que fizeram do canto a sua arma. Por isso não escolhi canções de intervenção, mas canções que mudaram a mentalidade dos povos e que passaram através das malhas da censura.” Essas mulheres são, todas elas, grandes cantoras: Chavela Vargas, Elis Regina, Maria Bethânia, Mercedes Sosa, Violeta Parra. E, nas canções escolhidas, há muitas que já fazem parte do cancioneiro universal, como Todo cambia, Alfonsina y el mar, Gracias a la vida, Maria Tepozteca, Asa branca ou O bêbado e a equilibrista, maioritariamente escritas por homens mas celebrizadas nas vozes destas mulheres.
O conceito surgiu-lhe mal acabou de estrear o seu primeiro espectáculo KW — Kurt Weill, em 2014 (haveria outro, em 2017, com novos arranjos, de Filipe Raposo): “Era um concerto do Pedro Jóia comigo, com violoncelo e flauta.” Mas dificuldades de agenda impediram-no. E Adriana, não querendo desafiar outro guitarrista português para o substituir, escolheu o espanhol Javier Patino. O repertório, foi-o afinando com o tempo. “Comecei pela América do Sul e depois passei aos outros continentes. Mas concluí que, se escolhesse de todos, ia ser uma colectânea de world music. Então concentrei-me no lugar onde comecei. Além disso, tenho um fascínio pela América do Sul. As mulheres sul-americanas têm um peso enorme na maneira como lidam com as suas revoluções, sociais e políticas.”
Cores de Frida Kahlo
As três cantoras nunca saem de cena, num cenário composto por cajons pintados de cores fortes. Adriana: “Começa como um totem, às cores, cajons empilhados, pintados com as cores latino-americanas, as cores da Frida Kahlo.” Depois, distribuídos pelo palco, vão tomando outras formas consoante os temas, no decorrer do espectáculo. Como Javier não conhecia este repertório, acabou por ser Luanda Cozetti, mais familiarizada com ele, a ter um papel fulcral na direcção musical. “O trabalho dela, a nível de coros, de vozes, e a ensinar ao Javier esta cultura, este repertório que ele não conhecia, foi essencial.”
Porquê Luanda? Porquê Lara Li? “A Lara Li, já há muito que queria convidá-la a trabalhar comigo”, diz Adriana. “A Luanda [cantora brasileira radicada em Portugal com Norton Daiello, juntos na vida e no duo Couple Coffee] é a minha madrinha de canto, foi a primeira pessoa que cantou comigo e me convidou a cantar com ela, nos Couple Coffee, ainda eu nem disco tinha. A princípio, achei que ela não ia querer, mas acabou por aceitar.”
Luanda explica porquê: “Esse é o meu repertório de alento, de ouvir, não de cantar. Mas o universo acabou conspirando, e talvez este seja mesmo o momento de eu encarar este repertório, pela minha história pessoal e pelo que está acontecendo no Brasil e no mundo. Nos ensaios choro muito, e tal, mas quem sabe se a catarse deste show não é p’ra mim?”
Lara Li, por sua vez, explica assim o que a liga a este espectáculo. “Em cada momento da nossa vida, estamos sempre a contribuir para fazer de maneira diferente, e de preferência melhor, e estamos a ganhar mais grãos para nos deixarmos envolver, por exemplo, por um repertório fantástico como este. É uma oportunidade extraordinária poder cantá-lo.”
Num espaço cénico concebido por Adriana Queiroz e Francisco Rousseau, os figurinos são de José António Tenente, com desenho de som de Tó Pinheiro da Silva, adereços de Paula Rousseau e desenho de luz de João Bombico. A lotação da sala já está esgotada.