O que pensará a História de nós?
Não foram os problemas que desapareceram. Foram os moderados que desistiram de procurar soluções.
O que pensará a História de nós é algo que me tenho perguntado constantemente no último ano. Quando digo 'nós', não quero somente dizer nós do PSD, nós no centro-direita, nem apenas nós portugueses. O tempo não está para claustrofobias na ação política. Quando digo 'nós', digo nós democratas, nós europeus e nós moderados – seja ao centro-esquerda, seja ao centro-direita.
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O que pensará a História de nós é algo que me tenho perguntado constantemente no último ano. Quando digo 'nós', não quero somente dizer nós do PSD, nós no centro-direita, nem apenas nós portugueses. O tempo não está para claustrofobias na ação política. Quando digo 'nós', digo nós democratas, nós europeus e nós moderados – seja ao centro-esquerda, seja ao centro-direita.
2019, que está aí à porta, será um ano marcante no nosso contexto nacional – por razões conhecidas – e também um tempo único no nosso contexto continental. Em que medida? Pela primeira vez desde a sua fundação, o Parlamento Europeu arrisca-se a perder a sua maioria moderada. E como? As suas duas grandes famílias políticas – o PPE e os Socialistas-Democratas – estão cada vez menos grandes, menos familiares e menos políticas. A pergunta é: porquê?
Em Bruxelas, há uma longa tradição de responsabilizar os populistas pelos erros da União Europeia, em vez de assumir os erros da União Europeia como catalisadores desses populismos. A Europa deixou de ambicionar vencer os seus desafios para meramente contentar-se com sobreviver a cada crise. E a onda populista que ameaça as suas instituições é uma consequência disso mesmo. Um célebre senador da Roma Antiga costumava dizer que "a maneira mais fácil de descobrir um ignorante numa sala é perguntar quem vai ganhar uma eleição". Este texto não se propõe dizer quem vai ganhar; vem antes avisar quem está a perder. E somos nós, moderados, que estamos sob fogo cerrado. Escondidos na trincheira do imobilismo, do pessimismo e do medo da mudança. E o que pensará a História de nós, continuando assim?
Houve um tempo em que 'o centro' era mais do que um sonho – precisamente por responder aos sonhos de cada um. Houve um tempo em que o centro-direita e o centro-esquerda detinham algo que gosto de referir como "monopólio da realidade". E esse tempo esgotou-se quando os partidos ditos tradicionais esqueceram a sua tradição mais valiosa. Prescindiram, pouco a pouco, daquele que sempre foi o seu papel: ouvir e responder às preocupações da maioria. Os operários, os pequenos empresários, as famílias numerosas, os jovens empreendedores, deixaram de ver respostas naqueles que antes as tinham. Mas as suas preocupações continuaram lá. E continuam lá.
A inversão dos papéis deu-se em toda a escala. Antes, eram os extremos – à direita e à esquerda – que eram dados como "utopias", que promoviam visões da sociedade opostas à sociedade e que estavam longe da realidade e dos eleitores. Hoje, já não é assim. Os populistas têm, com as novas plataformas, uma ligação direta aos instintos e às ambições dos seus concidadãos, substituindo os moderados na posse daquilo que referi como "monopólio da realidade" por uma razão simples: não têm medo de falar dela. Aqueles que chamamos 'populistas' falam de fronteiras, de desemprego, de patriotismo e até de futuro com um à vontade que já não se vê nos partidos ao centro. As suas propostas podem ser ilusórias ou erradas, mas a verdade é que as apresentam.
É preciso dizê-lo: não foram os problemas que desapareceram; foram os moderados que desistiram de procurar soluções para esses problemas. O centro reduziu-se a um sonho e o populismo tomou conta da realidade. E é preciso corrigir esta inversão. É preciso lutar e recuperar o monopólio da realidade. É preciso parar de confundir pessimismo com preocupação, politicamente correto com politicamente necessário e reforma com ilusão. Nós, sociais-democratas, não podemos fugir às nossas responsabilidades nesse combate. Não podemos confundir o debate contra o medo com o medo de debater. Não podemos desistir de vencer – e governar – em nome de reformas que só se fazem quando se lideram governos.
Apresentemos, sem hesitações, um programa de mutualização progressiva da dívida a nível europeu. Defendamos, com coragem, um aumento gradual e sustentado do salário mínimo – acompanhado de um alívio fiscal para as empresas. Aumentemos a representação portuguesa na Europa, mudando a secretaria de Estado dos Assuntos Europeus para Bruxelas e sob direta alçada de cada primeiro-ministro. E façamos tudo isto, não em nome de uma página de jornal, mas não esquecendo as páginas da nossa História. Dizem-nos elas que a Democracia cai quando os democratas se esquecem dela. Não a deixemos cair. Social-democrata
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico