Varoufakis vai disputar as eleições europeias na Alemanha
Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças grego, lidera uma lista para as eleições europeias na Alemanha.
O grego Yanis Varoufakis vai concorrer às eleições para o Parlamento Europeu... na Alemanha.
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O grego Yanis Varoufakis vai concorrer às eleições para o Parlamento Europeu... na Alemanha.
A notícia surpresa foi anunciada na apresentação do partido político alemão ligado ao Movimento Democracia na Europa 2025 (DiEM25) no domingo, e do seu cabeça de lista, que é Varoufakis.
Na lista do partido alemão está ainda o filósofo croata Sreko Horvat, co-fundador do movimento que foi apresentado em 2016 justamente em Berlim, na praça Rosa Luxemburgo.
"Aceito a nomeação porque simboliza a nova política transnacional de que precisamos na Europa", disse Varoufakis numa conferência de imprensa em Berlim, onde os seus colegas partidários apresentaram uma faixa com a frase "Primavera Europeia". Este é o nome dos vários partidos que se associam ao movimento pan-europeu: em Portugal, é o Livre, de Rui Tavares.
"Peço a todos que se unam a nós nesta busca pela democracia na Europa e na Alemanha como condição para a prosperidade e para uma democracia autêntica", pediu em Berlim o ex-ministro das Finanças grego.
O movimento pretende ser o primeiro exemplo de uma lista transnacional às eleições para o Parlamento Europeu, apesar de este tipo de listas (uma ideia defendida também pelo Presidente francês, Emmanuel Macron), terem sido rejeitadas pelo Parlamento Europeu em Fevereiro.
Em reacção a esta rejeição, o DiEM 25 decidiu, num encontro em Nápoles, fazer uma lista com uma série de características que permitisse que esta fosse transnacional. Uma das possibilidades então aprovadas era que candidatos da lista concorressem noutro país que não o seu.
Num encontro seguinte, em Lisboa, foi decidido que o nome da "ala eleitoral" seria "Primavera Europeia". Rui Tavares disse ao PÚBLICO que depois da definição do programa da Primavera Europeia, assente num programa de investimento, uma espécie de "New Deal verde", em Portugal o Livre vai ter, no início de 2019, um processo de primárias abertas para definir a candidatura.
O movimento pan-europeu também ainda não decidiu quem será a cara internacional da Primavera Europeia para as eleições, no processo que ficou conhecido como Spitzenkandidat, ou seja, da candidatura à presidência da Comissão Europeia, como Manfred Weber por parte do Partido Popular Europeu (PPE) ou Frans Timmermans do lado dos Socialistas e Democratas (S&D).
Poderá ser um candidato, um duo, como no caso dos Verdes, ou até uma equipa. Certo é que será decidido com a participação dos membros do movimento.
Precedentes de candidatos de países diferentes
Varoufakis abandonou o cargo de ministro das Finanças da Grécia em 2015 por não estar de acordo com os termos de saída do resgate europeu, rejeitado pelos gregos em referendo, e no ano seguinte fundou o movimento DiEM 25. O nome quer dizer: Movimento para a democracia na Europa até 2025, e junta partidos e movimentos; do Génération.s de Benoît Hamon, o dinamarquês Alternativet, o polaco Razem ou o português Livre.
Varoufakis garante que cumpre os requerimentos para representar a Alemanha, que incluem a hipótese de se candidatarem cidadãos de outros países da União Europeia residentes na Alemanha, e há vários precedentes.
No Parlamento Europeu há quem lembre casos semelhantes: a deputada italiana Monica Frassoni que em 1999 concorreu na Bélgica pelos Verdes, ou o italiano Guiletto Chiesa que concorreu por um partido pró-Rússia da Letónia (ambos já deixaram o PE).
Actualmente no Parlamento há ainda outros casos, como o de Laszlo Tokas (Partido Popular Europeu/PPE), romeno de origem húngara (os húngaros são a maior minoria da Roménia) que foi eleito pelo partido Fidezs, da Hungria (o partido do primeiro-ministro Viktor Orbán) em 2014, Florent Marcellesi, francês eleito pelo partido espanhol Equo (ecologista), e Corazza Bildt, italiana que concorreu na Suécia (também do PPE).
Ligação à Alemanha
A ligação do DiEM25 à Alemanha é grande: foi no teatro berlinense Volksbühne ("o palco do povo") totalmente esgotado, que Varoufakis e Horvat apresentaram, em Fevereiro de 2016, o movimento.
Em várias entrevistas, o antigo ministro grego sempre disse com satisfação que o país em que o movimento tem mais sucesso é na Alemanha, apesar de não ter ainda, na altura, um partido local alemão, como tinha noutros países, por exemplo na Grécia (o MeRA25).
Durante o seu tempo no Governo de Alexis Tsipras, Varoufakis foi visto como o principal opositor do então ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, e das políticas de austeridade que este defendeu.
A crítica de Varoufakis à austeridade não se foca apenas na Grécia, mas estende-se também à Alemanha: “Em teoria, a Alemanha está a nadar em dinheiro”, disse. “Mas os alemães estão a ser vítimas da mesma austeridade que o resto da Europa. O resultado são níveis baixos de investimento.”
Varoufakis pretende fazer campanha para as eleições europeias (que têm lugar em Maio) na Alemanha mas estar também noutros países, como a Grécia e outros países europeus, cita o jornal alemão Die Zeit. Para o candidato, trata-se de acabar com um mito "tóxico" de que há uma luta entre o Norte e o Sul ou entre o Leste e o Oeste. A luta, diz Varoufakis, é entre os europeus progressistas e os autoritários.