México avisa que imigrantes que tentem entrar nos EUA à força serão deportados
No domingo assistiu-se a uma escalada de tensão na fronteira entre o México e os EUA, depois de centenas de imigrantes da América Central terem tentado forçar a passagem. Governo mexicano já deportou 98.
A tensão aumentou na fronteira entre o México e os Estados Unidos, depois de, no domingo, um grupo de 500 imigrantes em Tijuana ter forçado a entrada em solo americano. As autoridades de ambos os países responderam com gás lacrimogéneo. O México anunciou a deportação de 98 pessoas e as autoridades americanas detiveram outros 42 imigrantes.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
A tensão aumentou na fronteira entre o México e os Estados Unidos, depois de, no domingo, um grupo de 500 imigrantes em Tijuana ter forçado a entrada em solo americano. As autoridades de ambos os países responderam com gás lacrimogéneo. O México anunciou a deportação de 98 pessoas e as autoridades americanas detiveram outros 42 imigrantes.
Em reacção, o Presidente Donald Trump disse nesta segunda-feira que o México deve repatriar os imigrantes que estão na fronteira entre este país e os EUA.
“O México tem de levar os imigrantes, muitos deles são criminosos puros e duros, de volta aos seus países. Façam-no de avião, de autocarro, façam-no como quiserem, mas eles NÃO vão entrar nos EUA. Vamos fechar permanentemente a fronteira se for preciso”, escreveu Trump no Twitter, voltando a apelar ao Congresso que aprove os fundos necessários à construção do muro na fronteira entre EUA e México.
Uma caravana de imigrantes que partiu há mais de um mês das Honduras, composta por cerca de sete mil pessoas, começou a chegar nas últimas semanas a Tijuana e à fronteira que dá acesso à cidade norte-americana de San Diego.
Cerca de 500 migrantes forçaram a passagem e foram recebidos com gás lacrimogéneo.
No sábado, Trump tinha já deixado a ameaça de fechar a fronteira: “Se por qualquer razão for necessário, nós vamos fechar a fronteira do Sul. Não há forma de os Estados Unidos, depois de décadas de abuso, suportarem mais com esta situação onerosa e perigosa”.
O Departamento de Alfândegas e Protecção Fronteiriça dos EUA informou mais tarde que os seus homens usaram “gás lacrimogéneo para dispersar o grupo por causa do risco à segurança dos agentes”.
Na sequência desta escalada de tensão, a fronteira foi encerrada no distrito de San Ysidro, um dos pontos mais movimentados em toda a fronteira (que se estende ao longo de 3200 quilómetros). Apesar de o acesso ter sido reaberto horas depois, o caos provocado pela enorme quantidade de veículos que tentavam passar prolongou-se toda a noite. Em média, 70 mil veículos e 20 mil peões passam por este ponto de entrada diariamente.
O Governo mexicano anunciou que deportou para os países de origem 98 pessoas que tentaram passar a fronteira, e garantiu que vai fazer o mesmo a todos aqueles que tentarem chegar aos EUA de forma violenta.
Antes, o ministro do Interior mexicano, Alfonso Navarrete, tinha explicado: "Alguns grupos tentaram de forma violenta e intempestiva entrar por diversos meios e lugares no território norte-americano. Estas pessoas, longe de ajudar a caravana, afectam-na”.
Kirstjen Nielsen, secretária de Segurança Interna norte-americana, explicou em comunicado que os agentes fronteiriços norte-americanos foram atingidos por objectos lançados pelos imigrantes, garantindo que não vai “tolerar este tipo de ilegalidade” e que não hesitará “fechar pontos de entrada por razões de segurança pública”.
Nesta segunda-feira, o chefe da polícia fronteiriça de San Diego, Rodney Soctt, informou à CNN que 42 pessoas foram detidas quando tentavam entrar ilegalmente em solo americano, admitindo no entanto que muitas outras conseguiram escapar.
“Fizemos estas detenções, mas sabemos que há muitas pessoas que conseguiram passar a fronteira”, disse. “As pessoas conseguiram desfazer secções do muro e entraram a correr”, afirmou ainda, notando também que alguns polícias foram agredidos durante os incidentes.
A legislação americana concede o direito aos imigrantes que entram nos EUA, legal ou ilegalmente, a pedir asilo, por isso não é certo que sejam deportados. "O que eu vi na fronteira não foi pessoas a irem ter com os agentes fronteiriços a pedir asilo", explicou Rodney Scott, acrescentando que muitos são imigrantes económicos e, dessa forma, não têm direito a asilo e que do grupo que se envolveu nos confrontos existiam poucas mulheres e crianças.
Tudo começou na manhã de domingo, quando centenas de imigrantes participaram numa manifestação que se queria pacífica, no albergue de Benito Juárez, onde estão instalados cerca de cinco mil imigrantes, transportando cartazes, a agradecer ao México e apelar à solidariedade, e bandeiras do México, Honduras e EUA.
No entanto, um grupo de imigrantes irrompeu pela ponte pedonal de El Chaparral, que está a cerca de três quilómetros do território norte-americano e chegaram ao canal do rio Tijuana, já muito perto do ponto de entrada de San Ysidro. As autoridades mexicanas tentaram de imediato parar este grupo, iniciando-se os confrontos. Do outro lado, os guardas fronteiriços norte-americanos prepararam-se para fazer recuar as pessoas, apoiados por helicópteros que desde cedo monitorizaram os que participavam no protesto.
Por entre o caos gerado, vários imigrantes, incluindo famílias com crianças, tentaram saltar vedações e atravessar estradas, enquanto eram atingidos pelo gás lacrimogéneo.
Perante este cenário, o presidente da câmara de Tijuana, Juan Manuel Gastélum, apelou ao Governo mexicano e às instituições internacionais que ajudem na resolução deste impasse, criticando o Executivo liderado por Enrique Peña Nieto por nada fazer para solucionar o problema e por não levar a sério os avisos de Trump.
O caos instalado no domingo trouxe novamente para o centro das atenções a discussão sobre a forma de enfrentar a chegada de cada vez mais pessoas à fronteira dos EUA. Espera-se que nos próximos dias, segundo algumas estimativas, outros nove mil imigrantes se juntem aos que já lá estão.
Na própria cidade de Tijuana, as opiniões dividem-se relativamente a esta matéria. Na semana passada, foram organizadas duas manifestações, uma a exigir a deportação dos imigrantes e outra em seu apoio.
O Presidente eleito do México, Andrés Manuel López Obrador, toma posse no sábado, dia 1 de Dezembro, e tem já este problema em cima da mesa. Está marcada para o dia seguinte, domingo, uma reunião com os seus ministros para abordar este tema.
De acordo com o que foi sendo noticiado no México e nos EUA, o Governo de Obrador já começou a negociar com Washington um plano migratório. No sábado, o Washington Post avançou que ambas as partes tinham chegado a um acordo, mas a informação acabou por ser desmentida por fontes ligadas à Administração mexicana.