Macron preocupado com a imagem de França, mas não recua no imposto sobre o combustível
O Presidente francês apresenta terça-feira o seu “pacto social”. Os “coletes amarelos”, que já elegeram representantes e exigem reunir-se com Macron, esperam para decidir os próximos passos da contestação.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, está preocupado com o que se passa nas ruas de França e, no Conselho de Ministros desta segunda-feira, disse que os protestos violentos - "cenas de guerra", disse - podem prejudicar a imagem internacional do país. Pressionou os ministros a ir ao encontro das preocupações dos eleitores, mas não recuou na medida que foi o rastilho para os protestos dos "coletes amarelos", o aumento do imposto sobre os combustíveis.
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O Presidente francês, Emmanuel Macron, está preocupado com o que se passa nas ruas de França e, no Conselho de Ministros desta segunda-feira, disse que os protestos violentos - "cenas de guerra", disse - podem prejudicar a imagem internacional do país. Pressionou os ministros a ir ao encontro das preocupações dos eleitores, mas não recuou na medida que foi o rastilho para os protestos dos "coletes amarelos", o aumento do imposto sobre os combustíveis.
“Não devemos subestimar o impacto destas imagens dos Campos Elísios, com cenas de batalha que foram transmitidas pelos media em França e no estrangeiro”, disse o porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, na reunião do Conselho de Ministros.
Griveaux acrescentou que “por detrás desta raiva existe algo mais profundo a responder”, que perdura há muito. A perda de poder de compra não é o combustível dos protestos, pois já se fazia sentir ao tempo dos governos de Nicolas Sarkozy e de François Hollande. Ainda assim, a reforma fiscal de Emmanuel Macron está a penalizar os mais pobres, de acordo com as sondagens.
Na reunião dos ministros foram discutidas uma série de medidas que Macron vai apresentar na terça-feira. Os jornais franceses chamam-lhe “pacto social” para acompanhar a transição ecológica que a subida dos impostos dos combustível, que visa sobretudo o diesel, pretende efectuar.
Houve apenas um recuo em relação ao previsto: a ministra dos Transportes, Elisabeth Borne, disse que a introdução de portagens para controlar as filas de trânsito e os níveis de poluição, anunciada no mês passado, não vai estar no novo plano de mobilidade.
Face ao clima de contestação, disse Borne, as portagens trariam “novas divisões territoriais”, pelo que o foco será em melhorar a conexão entre cidades pequenas que no passado foram deixadas para segundo plano com a construção de linhas para comboios de alta velocidade entre grandes cidades. Propostas como andar de bicicleta e partilhar viaturas privadas serão também uma prioridade.
Quanto aos “coletes amarelos”, esperam o que Macron dirá sobre o “pacto social” que vai apresentar. Mas nesta segunda-feira, o movimento "apartidário" escolheu os seus representantes, uma “delegação” de oito pessoas, para dar início a "um contacto sério com os representantes do Governo”, diz um comunicado que emitiram. Exigem "ao Presidente da República, ao primeiro-ministro e ao seu Governo um primeiro encontro".
Querem fazer duas propostas: a “diminuição de todos os impostos” e a “criação de uma assembleia de cidadãos” para discutir a transição ecológica, o aumento do poder de compra e a insegurança. O objectivo das reivindicações é fazer com que as decisões do Governo sejam tomadas de acordo com a vontade dos cidadãos, através de “um referendo popular”, diz o comunicado.
O movimento está, assim, activo em toda a França, mas não foram marcadas novas manifestações e bloqueios. Depende do que ouvirem a Macron.
“Decidiremos em função das declarações de Emmanuel Macron na terça-feira. Neste momento não existe terceiro acto”, disse o porta-voz dos “coletes amarelos”, Benjamin Cauchy.
O eco do “campo de batalha” de 24 de Novembro ainda se fazia sentir nesta segunda-feira nos Campos Elísios, com a autarquia de Paris a mobilizar 200 trabalhadores para reparar os estragos nas lojas.
Os “coletes amarelos” paralisaram a avenida mais conhecida da capital francesa no sábado. Exigiam a demissão de Macron, lançando pedras e tochas contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogéneo.
A segunda paralisação do movimento mobilizou mais de 100 mil pessoas – oito mil só em Paris, segundo o Ministério do Interior, e 31 pessoas ficaram feridas (24 manifestantes e sete polícias). Houve 103 detenções e 47 pessoas foram apresentadas no tribunal.
O movimento começou como um protesto contra a subida do imposto sobre os combustíveis - medida que Macron, um Presidente com uma popularidade baixa, recusa alterar até porque precisa do apoio de Os Verdes para enfrentar as eleições europeias de Março do ano que vem. Mas representa também um sentimento de revolta de muitos franceses que se dizem esquecidos pelas elites políticas de Paris e das grandes cidades de França e dos que perderam poder de compra.