Mitsubishi substitui Ghosn: "Foi uma decisão dolorosa"
Gestor francês terá reclamado inocência, segundo TV japonesa. Chefe da Nissan diz que é momento de tornar "sustentável" a aliança com a Renault.
Sem surpresa, Carlos Ghosn foi destituído do cargo de chairman da Mitsubishi, nesta segunda-feira. O executivo francês, que na semana passada tinha sido destituído das mesmas funções na Nissan, será substituído pelo actual presidente-executivo da Mitsubishi, Osamu Masuko, segundo a decisão anunciada em Tóquio.
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Sem surpresa, Carlos Ghosn foi destituído do cargo de chairman da Mitsubishi, nesta segunda-feira. O executivo francês, que na semana passada tinha sido destituído das mesmas funções na Nissan, será substituído pelo actual presidente-executivo da Mitsubishi, Osamu Masuko, segundo a decisão anunciada em Tóquio.
"Foi uma decisão dolorosa", comentou Masuko, em declarações aos jornalistas que aguardavam na capital japonesa pelo veredicto do conselho de administração da Mitsubishi, que em 2016, passou a fazer parte da aliança Renault-Nissan, quando a Nissan comprou 34% do capital da Mitsubishi por 2100 milhões de dólares (1,8 mil milhões de euros ao câmbio actual). "A nossa prioridade foi decidir o que fazer para proteger a empresa, os nossos empregados e as famílias. Era uma decisão inevitável", acrescentou Masuko.
No comunicado enviado ao regulador da bolsa no Japão, a administração da Mitsubishi recorda que Ghosn "perdeu a confiança da Nissan e conclui que nesse cenário "se considera difícil que possa continuar a assumir as funções de chairman e de administrador-delegado" na Mitsubishi. Masuko assume essas funções de forma transitória, até à próxima assembleia-geral de accionistas.
Apesar de ficar sem funções, Ghosn mantém-se na administração tanto da Nissan como da Mitsubishi, porque só as assembleias gerais de accionistas têm o poder de o retirar desse órgão. Continua também na administração da Renault, que o manteve nos cargos de chairman e CEO, mas entregou de forma interina os poderes a dois outros executivos.
Chega assim ao fim o reinado de Carlos Ghosn à frente de dois dos maiores construtores japoneses. O gestor continua detido em Tóquio, desde segunda-feira, 19 de Novembro. Sobre ele recaem suspeitas de fraude fiscal e uso indevido de dinheiro.
Ghosn reclamou inocência, diz NHK
Ghosn terá reclamado inocência, noticiou o canal de TV do Japão NHK, sem identificar fontes. Terá negado que ocultou 39 milhões de euros de remunerações relativas aos anos de 2010 a 2015 e rejeitou o uso de verbas de uma subsidiária na Holanda para pagar casas de luxo no Brasil e no Líbano. A ser verdade, é a primeira vez que se sabe o que passa pela cabeça do gestor, desde que ficou privado de liberdade.
O gestor foi detido depois de aterrar no aeroporto de Haneda, em conjunto com o braço-direito Greg Kelly, um norte-americano que actuava como administrador-delegado. E pode continuar sob custódia das autoridades japonesas por mais 13 dias, para interrogatório. A ser condenado, enfrenta uma pena de prisão de até dez anos.
Ghosn, de 64 anos, contratou para defesa dele uma empresa de advogados de Nova Iorque (Paul, Weiss, Rifkind, Wharton & Garrison) e um ex-procurador de Tóquio, Motonari Otsuru, que ganhou projecção quando liderou a investigação às fraudes contabilísticas que ditaram a desgraça da Livedoor, uma fornecedora de Internet, gestora de portais web e de uma plataforma de blogging, que saiu da bolsa em 2006.
Nissan quer aliança e mudança
Na Nissan, a segunda-feira foi aproveitada pelo CEO Hiroto Saikawa para explicar aos funcionários a razão de terem dispensado Ghosn. Segundo fontes citadas pelo Nikkei e pelo Financial Times, Saikawa interveio numa sessão transmitida internamente para todo o mundo, alegando que "houve demasiada concentração de poder" em Carlos Ghosn. A primeira conferência de Saikawa, extremamente dura para Ghosn e Kelly, ajudou a alimentar dúvidas sobre a capacidade de a aliança sobreviver.
Saikawa terá dito ainda que iria passar a "falar directamente [com a Renault] no futuro". O grupo francês detém 43,4% do capital da Nissan, com poder de nomear gestores, ao passo que os japoneses detêm 15% das acções da Renault, mas sem poder de voto. A Nissan é maior do que a Renault e as recentes decisões e palavras do lado nipónico indiciam que este momento será aproveitado para mudar o statu quo da aliança entre fabricantes, que fará 20 anos a 27 de Março de 2019.
O chefe da Nissan terá garantido que a aliança "vai continuar", mas é vontade dele trabalhar num modelo "sustentável", escreve o Financial Times. Renault, Nissan e Mitsubishi vendem um em cada dez carros comercializados no planeta. Empregam mais de 400 mil pessoas em 200 países.
Entre 2009 e 2017, a aliança permitiu às três empresas sinergias de 32,5 mil milhões de euros, segundo as contas feitas pelo PÚBLICO a partir dos relatórios anuais. Antes de ser detido, Ghosn tinha promovido um plano em que elegia como meta sinergias anuais de 10 mil milhões de euros, o dobro da poupança conseguida em 2017.