O exemplo de Bettany Hughes...
Só poderemos dar à cultura um lugar central na nossa vida se favorecermos a sua transversalidade.
O Ano Europeu do Património Cultural aproxima-se do seu termo. Importa tirar lições para o futuro. Não se trata de prolongar a iniciativa, mas de lançar sementes que permitam valorizar a cultura e o património, em nome do respeito mútuo e da preservação do que recebemos em herança histórica. Só assim poderemos ligar a educação, a cultura e a ciência, num conceito aberto e dinâmico de Humanidades. Só poderemos dar à cultura um lugar central na nossa vida se favorecermos a sua transversalidade e se entendermos a complexidade. Daí que, aproximando-se eleições europeias, se torne indispensável que todos se pronunciem sobre a cultura, não como orientação do gosto ou como correção política, mas como exigência na qualidade na educação ou na investigação científica, na proteção do património material e imaterial, natural e paisagístico, digital e técnico e na consideração da criação contemporânea.
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O Ano Europeu do Património Cultural aproxima-se do seu termo. Importa tirar lições para o futuro. Não se trata de prolongar a iniciativa, mas de lançar sementes que permitam valorizar a cultura e o património, em nome do respeito mútuo e da preservação do que recebemos em herança histórica. Só assim poderemos ligar a educação, a cultura e a ciência, num conceito aberto e dinâmico de Humanidades. Só poderemos dar à cultura um lugar central na nossa vida se favorecermos a sua transversalidade e se entendermos a complexidade. Daí que, aproximando-se eleições europeias, se torne indispensável que todos se pronunciem sobre a cultura, não como orientação do gosto ou como correção política, mas como exigência na qualidade na educação ou na investigação científica, na proteção do património material e imaterial, natural e paisagístico, digital e técnico e na consideração da criação contemporânea.
Não deixar o património ao abandono, fazer inventários fiáveis e exaustivos, recorrer aos melhores especialistas para a sua preservação e estudo, mobilizar a sociedade civil e incentivar o interesse do público para os diversos domínios da vida cultural, artística, científica ou técnica – eis o que está em causa. Daí que os especialistas, os investigadores, os professores e formadores, os técnicos e os profissionais devam assumir uma cultura de exigência, no estudo, avaliação, comunicação, proteção, cooperação internacional, de modo a entender o património cultural, a herança e a memória como fatores de desenvolvimento, de cidadania inclusiva e de democracia. Nesse sentido, a educação e as escolas, em ligação estreita com as famílias e as comunidades, deverão constituir-se em polos ativos de promoção de uma cultura capaz de transformar a informação em conhecimento e o conhecimento em sabedoria. A Rede das Bibliotecas Escolares, a Rede de Leitura Pública e o Programa Nacional de Leitura, o concurso escolar são exemplos de uma participação necessária.
A atribuição do Prémio Europeu Helena Vaz da Silva 2018 a Bettany Hughes constitui uma ilustração sobre o que se pretende na defesa do património cultural como valor comum da humanidade. Bettany Hughes é uma reconhecida historiadora que dedicou os últimos 25 anos à comunicação do passado (por exemplo, na BBC). Mas não se trata de uma visão retrospetiva centrada num tempo pretérito, mas sim de uma leitura dinâmica das raízes, da História, do tempo, das culturas, dos encontros e desencontros, numa palavra: da complexidade. É a pedagogia do património cultural que permite compreendermos melhor a cultura, a paideia ou a humanitas, de que falava Cícero. A História e as Humanidades permitem realizar uma verdadeira pedagogia de cidadania e de humanidade.
Quando lemos Istanbul – A Tale of Three Cities, de Bettany Hughes, compreendemos como a encruzilhada da História nos permite entender a incerteza e a mudança, a complexidade e as diferenças. Bizâncio, Constantinopla, Istambul são três referências que nos levam às necessárias pontes entre o Oriente e o Ocidente. Se Istambul é mais do que uma cidade, mas uma história, estamos diante de um mosaico fantástico de fenícios, genoveses, venezianos, judeus, vikings... E ao invocar este caleidoscópio mágico vem à memória o testemunho de Calouste Gulbenkian que, em Lisboa, nos últimos anos de vida, pedia para usufruir da paisagem da cidade sobre o Tejo, uma vez que considerava ser a que mais se assemelhava à de Istambul de sua infância. Também Ohran Pamuk disse que entre Lisboa e a antiga Constantinopla havia semelhanças extraordinárias. E quanto às raízes, aqui estiveram os fenícios que criaram a cidade, aqui chegaram os celtas desde a Capadócia, aqui passaram os vikings e os marinheiros do Mar do Norte, resultando a caravela da confluência das experiências do Atlântico e do Mediterrâneo e a navegação pelos astros e o astrolábio dos saberes vindos da Ásia trazidos por judeus e árabes.
É de um património cultural vivo que falamos, desejando que todos se mobilizem para que as raízes se não esqueçam e se tornem fatores de democracia e de desenvolvimento. O património cultural deve, assim, favorecer a paz e a segurança, o desenvolvimento sustentável, o conhecimento, a filantropia e a solidariedade.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico