O expresso enérgico de Palma, enquanto o novo disco não vem
Volta esta noite à Casa da Música o Expresso do Outono de Jorge Palma, depois de encher por completo o Tivoli lisboeta. A digressão termina em Coimbra, a 7 e 8 de Dezembro.
Desde que lançou Com Todo o Respeito (2011), Jorge Palma anda a trabalhar num disco de estúdio que talvez em 2019 veja a luz do dia. Mas enquanto o disco não vem, ele fez tudo menos estar parado. Andou em digressão com Sérgio Godinho (num muito bem-sucedido encontro que já foi editado em CD+DVD), celebrou os 25 anos de Só, a voz e piano, com vários concertos (e também daqui, além da reedição do disco original, nasceu um muito recomendável CD+DVD) e fez a sua primeira experiência com orquestra, nos coliseus, em 2017, que só ficou aquém do esperado devido à inadequação de vários dos arranjos. Agora, neste final de ano, fez-se à estrada com o título Expresso do Outono, que encheu no dia 19 a Casa da Música, no Porto (palco a que volta esta segunda-feira dia 26) e o Tivoli BBVA, em Lisboa, também com lotação esgotada. O encerramento da digressão será em Coimbra, no Teatro Académico de Gil Vicente, nas noites de 7 e 8 de Dezembro. Sempre às 21h30.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Desde que lançou Com Todo o Respeito (2011), Jorge Palma anda a trabalhar num disco de estúdio que talvez em 2019 veja a luz do dia. Mas enquanto o disco não vem, ele fez tudo menos estar parado. Andou em digressão com Sérgio Godinho (num muito bem-sucedido encontro que já foi editado em CD+DVD), celebrou os 25 anos de Só, a voz e piano, com vários concertos (e também daqui, além da reedição do disco original, nasceu um muito recomendável CD+DVD) e fez a sua primeira experiência com orquestra, nos coliseus, em 2017, que só ficou aquém do esperado devido à inadequação de vários dos arranjos. Agora, neste final de ano, fez-se à estrada com o título Expresso do Outono, que encheu no dia 19 a Casa da Música, no Porto (palco a que volta esta segunda-feira dia 26) e o Tivoli BBVA, em Lisboa, também com lotação esgotada. O encerramento da digressão será em Coimbra, no Teatro Académico de Gil Vicente, nas noites de 7 e 8 de Dezembro. Sempre às 21h30.
O que é este Expresso? Uma viagem enérgica pelo cancioneiro de Palma, que da guitarra acústica à eléctrica e desta ao piano percorre abordagens sonoras diversas, sublinhando ou recriando os arranjos originais. Com ele, no palco, esteve em Lisboa (concerto a que se refere este texto) a banda que o acompanha, com Pedro Vidal (guitarras e direcção musical), Gabriel Gomes (acordeão), Vicente Palma (guitarra e teclados), Nuno Lucas (baixo) e João Correia (bateria), além de Tomás Pimentel, em trompete e fliscorne.
O arranque, primeiro com uma atmosfera pinkfloydiana e depois, já com Jorge Palma mo palco, com um vigoroso ataque de guitarras, fez-se com No tempo dos assassinos, que se vai ecoando nos nossos ouvidos consoante as épocas e os poderes, sem nunca perder actualidade: “Vivemos no tempo dos assassinos/ tempo de todos os hinos/ ouvimos dobrar os sinos/ quem mais jura é quem mais mente.” Depois vieram o furor folk de Dormia tão sossegada e, já com Palma na guitarra eléctrica, Cara de anjo mau. Da guitarra ao piano, seguiram-se Disse fêmea e Dá-me lume, já com Tomás Pimentel ao trompete e, depois, passando ao fliscorne em Norte. Um problema técnico passageiro (ausência de som na monição ao ouvido, o moderno mas por vezes ingrato in ear) criou um interregno sonoro de escassos minutos, a que se seguiram, ainda com Palma ao piano, Boletim meteorológico e Só, neste caso acompanhado pela banda mas já sem Tomás Pimentel.
Voltaria a voz e piano em Quem és tu, de novo, entre dois temas com direito a explicação: Trapézio, que ele escreveu respondendo a um pedido de Paco Bandeira, que estava na altura a fazer um trabalho musical sobre circo; e Passos em volta, canção que foi “roubar” o título a um célebre livro de Herberto Helder. Palma contactou-o, explicando o “roubo”, ao que o poeta respondeu “desculpando-o” e oferecendo-lhe o seu Photomaton & Vox. Seguiram-se A canção de Lisboa (com Palma ao piano, acompanhado de acordeão), Passeio dos prodígios, Estrela do mar e O meu amor existe, chamando Palma o filho Vicente para o piano, tocando-o ambos alegremente a 4 mãos. Acorda, menina linda abriu caminho a Encosta-te a mim (Palma de volta à guitarra acústica), Frágil, Deixa-me rir e um Portugal, Portugal a evoluir num crescendo rítmico a sublinhar a sua vocação de hino.
Não ficou por ali, longe disso. Com a audiência de pé, em contínuos aplausos, veio um primeiro encore, primeiro só Jorge Palma ao piano, a mostrar como soa a canção (nova) que escreveu para esta digressão, intitulada precisamente Expresso do Outono (esperemos que integre o novo disco), seguindo-se, já com todos os músicos em palco, No bairro do amor e A gente vai continuar. E continuaram: num segundo encore, embalado entre a country e o ragtime, desfilaram Jeremias o fora-da-lei e dois temas de um disco marcante de Jorge Palma que em 2019 vai fazer 40 anos, Qualquer coisa pá música (1979): Quero o meu dinheiro de volta e Qualquer coisa para a música.
Um final eufórico e festivo, num concerto onde Palma foi um herói, porque aguentou estoicamente 25 canções apesar da inoportuna irritação na garganta que o fez tossir, de quando em quando, entre músicas. Mas não há irritações que o domem, e no palco Palma é Palma, como se viu e ouviu.