Trabalhadores da Amazon na Europa: “Nós não somos robôs”

Trabalhadores da Amazon na Europa aproveitaram a azáfama da Black Friday para reivindicar melhores condições de trabalho.

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A Black Friday pode ser a altura certa para comprar produtos mais baratos – mas também é a altura certa para os trabalhadores da Amazon organizarem protestos contra o que, há anos, dizem ser condições de trabalho extenuantes.

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A Black Friday pode ser a altura certa para comprar produtos mais baratos – mas também é a altura certa para os trabalhadores da Amazon organizarem protestos contra o que, há anos, dizem ser condições de trabalho extenuantes.

Na Alemanha, Espanha, França, Itália e Reino Unido, os trabalhadores dos armazéns da Amazon fizeram paralisações e greves. “O que queremos dizer é ‘Jeff Bezos, você é o homem mais rico do mundo, tem a fortuna e a capacidade para assegurar que os seus trabalhadores são tratados com respeito e dignidade. Enquanto homem mais rico do mundo, tem preferido gastar o dinheiro em viagens espaciais, em vez de nas pessoas que criam a sua fortuna”, explicou um dos funcionários à agência Bloomberg. Era uma referência à Blue Origin, a empresa de foguetões de Bezos, com a qual o multimilionário acalenta o sonho de impulsionar o turismo espacial e de criar zonas industriais na órbita da Terra.

Já nos EUA, onde os trabalhadores da Amazon não são sindicalizados, foi esta semana notícia que um pequeno grupo de funcionários – muitos dos quais muçulmanos de origem somali – se organizaram para protestar. Em causa estava o facto de a empresa os deixar fazer pausas para rezar, cumprindo assim a lei. Mas obrigava-os a acelerar o ritmo de embalamento de produtos para que chegassem à meta de 230 produtos por hora.

O grupo conseguiu o feito raro de trazer gestores da empresa à mesa de negociações e obter algumas concessões. Porém, a Amazon classificou as conversas não como uma negociação laboral, mas com um esforço de inclusão, semelhante ao que faz com trabalhadores de outras minorias

As exigências de trabalho nos centros da Amazon são conhecidas há muito – pelo menos desde que um jornalista da BBC, como parte de uma investigação, conseguiu um emprego num destes armazéns e narrou como as tarefas são controladas ao segundo, com os funcionários a empurrarem carrinhos pelos corredores fora, sempre em contra-relógio. Há armazéns mais modernos, em que os funcionários já não andam pelo meio dos corredores. Em vez disso, robôs levantam as prateleiras e levam-nas ao “colega” humano, que retira o produto e o embala.

Há algum tempo, a Amazon patenteou uma pulseira electrónica que permite a um sistema informático saber o ponto exacto onde o trabalhador tem a mão e que é capaz de vibrar para indicar ao funcionário a direcção certa para chegar a um determinado item. Em Fevereiro, reagindo a notícias, a empresa disse que não tinha planos para usar a patente.

Mesmo na sede da Amazon, em Seattle, nos EUA, o ambiente já foi descrito por antigos funcionários como um cenário de darwinismo empresarial. A imprensa americana relatou uma cultura de competição cerrada e de incentivo à denúncia de colegas menos produtivos, com o objectivo de identificar e reter os funcionários mais eficientes. Em 2014, a Confederação Sindical Internacional considerou Bezos o pior patrão do mundo.

Nesta Black Friday, os trabalhadores na Europa arranjaram um slogan de protesto, que exibiram em faixas: “Nós não somos robôs”.