Antropólogos estudam forma de recuperar corpo de missionário sem conflito com a tribo

Uma das hipóteses apontadas pelas autoridades pode passar por esperar que a tribo desenterre o corpo e o pendure na ilha, o que já fez em 2006.

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O norte-americano queria converter a tribo à religião cristã e violou a proibição de se aproximar da ilha DR

As autoridades indianas estão a estudar formas de recuperar o corpo de John Allen Chau, o missionário norte-americano de 26 anos morto por uma tribo isolada numa ilha no Mar de Andamão, no Oceano Índico.

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As autoridades indianas estão a estudar formas de recuperar o corpo de John Allen Chau, o missionário norte-americano de 26 anos morto por uma tribo isolada numa ilha no Mar de Andamão, no Oceano Índico.

As operações para tentar recuperar o corpo arrancaram este domingo e as autoridades indianas estão a consultar antropólogos e psicólogos para avançar com o resgate do corpo.

Antes de qualquer decisão, existem factores a ponderar, entre os quais está a psicologia dos residentes da ilha, explicam as autoridades locais.

Em 2006, quando dois pescadores que adormeceram se aproximaram demasiado da ilha, também foram mortos e enterrados pela tribo. Uma semana depois, os corpos foram desenterrados e pendurados em canas de bambu, virados para o oceano. Caso a tribo decida fazer o mesmo com o corpo de Chau, essa poderá ser a melhor — e talvez única — oportunidade para identificar e recuperar o cadáver.

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John Allen Chau foi visto pela última vez na última semana, depois de ter ido para a ilha com o objectivo de converter a tribo ao cristianismo. Quer as notas de Chau quer a sua família indicam que o norte-americano estava consciente do perigo a que se estava a expôr (e à tribo) por decidir entrar no território da ilha.

De acordo com um dos amigos do missionário, John Middleton Ramsey, citado pela CNN, Chau queria partilhar “a palavra de Deus” e eventualmente traduzir a Bíblia.

John Allen Chau chegou ao arquipélago de Andamão em Outubro e planeou a viagem detalhadamente. Num diário, descreveu os passos que teve que dar até conseguir chegar à ilha da tribo. 

Chau pagou 350 dólares (aproximadamente 308 euros) aos pescadores que o levaram de barco até à ilha, a 15 de Novembro. Regressou ao final do dia com ferimentos provocados por flechas, mas decidiu regressar. Foi morto por sentinelas, que terão usado arcos e flechas, as armas que têm.

A ilha tem sensivelmente a mesma área da ilha Graciosa, nos Açores. Tem à sua volta um perímetro de segurança de cinco quilómetros traçado pelo governo indiano, que interditou a ilha para proteger a tribo e devido ao historial de incidentes provocados pelo contacto entre os indígenas e estrangeiros. A hostilidade da tribo em relação ao exterior é explicada pelas suas experiências anteriores, incluindo a ocupação britânica, que dizimou centenas de membros, explicou o director da Survival International, associação que defende a protecção das tribos nas ilhas Andamão, Stephen Corry.

Na sexta-feira e no sábado, as autoridades indianas navegaram até às proximidades da ilha, juntamente com os dois pescadores que transportaram John Allen Chau.

“Mapeámos a zona com a ajuda destes pescadores. Ainda não encontrámos o corpo, mas sabemos mais ou menos em que zona estará enterrado”, disse Dependra Pathak, director da polícia em Andamão e Nicobar. O grupo de resgate terá avistado cerca de “seis ou sete” membros da tribo, com arcos e flechas, na zona onde os pescadores dizem ter visto o corpo do missionário a ser enterrado. “Estavam a olhar na direcção do mar. Diria que estavam em alerta.”

“A missão foi feita à distância para evitar qualquer potencial conflito com as tribos, já que é uma zona sensível”, disse Dependra Pathak.

Apesar de ter sido instaurada uma acusação criminal contra um “membro desconhecido de uma tribo”, não é claro que consequências este caso poderá ter na justiça. “Existe uma obrigação e responsabilidade de resolver este caso com a maior sensibilidade possível porque são um grupo pequeno, num sítio pequeno e têm a sua própria civilização e ideia do mundo. Não planeamos irromper e gerar confronto”, disse Pathak, citado pelo jornal britânico The Guardian.

“Dado que mataram alguém vindo do exterior, sofreram um choque psicológico. Entender isto irá ajudar-nos a observá-los e delinear uma estratégia se queremos continuar”, disse.

Uma vez que não há dados oficiais, existem apenas estimativas de qual é a composição da tribo. O governo indiano acredita que serão entre 50 e 150 pessoas. Como vivem isolados, não desenvolveram muitas resistências e até uma gripe pode ser fatal.

Os sentinelas são uma de vários tribos isoladas que ainda sobrevivem no mundo. Segundo a BBC, estima-se que existam cerca de 100: no Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Paraguai, Papuásia-Nova Guiné e noutras ilhas do arquipélago indiano.