70 anos do Hot numa revista para “aquecer” os ânimos jazzísticos
A encerrar as celebrações dos seus 70 anos de existência, o Hot Clube de Portugal lança este domingo uma edição especial da revista Hot News, 120 páginas com reflexões, testemunhos, imagens e portas abertas ao futuro.
Na capa, duas datas (1948-2018) e um título já conhecido: Hot News. É o boletim do Hot Clube de Portugal, sim, mas desta vez numa edição em papel, com 120 páginas, que estará à venda a partir deste domingo, data do seu lançamento. Porque, como se lê na contracapa (citando o célebre filme de Wilder), “some like it Hot”. E nada melhor para corolário dos 70 anos do Hot Clube do que “aquecer” os ânimos jazzísticos com um registo que perdure.
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Na capa, duas datas (1948-2018) e um título já conhecido: Hot News. É o boletim do Hot Clube de Portugal, sim, mas desta vez numa edição em papel, com 120 páginas, que estará à venda a partir deste domingo, data do seu lançamento. Porque, como se lê na contracapa (citando o célebre filme de Wilder), “some like it Hot”. E nada melhor para corolário dos 70 anos do Hot Clube do que “aquecer” os ânimos jazzísticos com um registo que perdure.
Mas não se quis um registo banal ou meramente memorialista. “A ideia”, diz ao PÚBLICO Inês Homem Cunha, presidente do conselho directivo do Hot Clube, “foi documentar a história e o trabalho do Hot nestes 70 anos envolvendo todas as pessoas que fazem parte dela: músicos, professores, espectadores, críticos, produtores.” António Curvelo, crítico de jazz (função que exerceu no Expresso e no PÚBLICO) e editor convidado desta revista, na qual se começou a trabalhar em Maio de 2017, completa a ideia: “Não queríamos de maneira nenhuma tornar a contar a história do Hot. Por isso, assinalam-se os 70 anos como marco, tentando dar imagens transversais do Hot de uma maneira que não tem sido habitual em efemérides anteriores. E havia uma ideia fundamental: a esmagadora maioria dos colaboradores deviam ser músicos [e são 35, num total de 49 a quem pediram textos].”
Hot is here to stay!
Nas quatro páginas de sumário com que abre a revista, pode ver-se que os títulos das secções soam logo a jazz: Hot is here to stay!, Fly me to the moon, There will be another you, The house that jazz built, etc. “Na maioria são standards ou paráfrases de standards”, diz António Curvelo. Segue-se uma fotografia colectiva de seis directores do Hot: Manuel Jorge Veloso (1962 a 1963), Paulo Gil (1973 a 1974), José Sousa Soares (1974 a 1979), Rui Martins (1979 a 1992), Bernardo Moreira (1992 a 2009) e Inês Cunha (desde 2009). Há depois o editorial e um texto de Curvelo (Da minha memória vê-se o Hot, citando não um standard mas a célebre frase de Vergílio Ferreira, “Da minha língua vê-se o mar”, seguidos de um memorial de Luiz Villas-Boas por Inês Cunha (Fly me to the moon), seguidos de textos de músicos de jazz portugueses já desaparecidos. “Em lugar de estarmos aqui a recordar o que eles fizeram, pegámos em textos deles e montámos”, diz Curvelo. É assim que lemos Bernardo Sassetti (1970-2012), Jorge Reis (1959-2014) e Raul Calado (1931-2018). Dos irmãos Mayer há fotos: Augusto (1926-2012) e Ivo (1928-2012).
Memórias vivas e imagens
A par do Hot, onde é que se ouvia jazz em Portugal nos anos 1950-60? No CUJ (Clube Universitário de Jazz), lembrado aqui por Manuel Jorge Veloso; e no Luisiana Jazz Club em Cascais, recordado num texto de José Nuno Miranda. Várias páginas para cada. E há os workshops. Sérgio Pelágio recorda como trouxe a Portugal John Abercrombie (ao Palácio Fronteira, em 1989) e, em excertos retirados de entrevistas-vídeo feitas por Fernando Mendes, “falam” dessa experiência, além de Sérgio Pelágio, Teresa Albuquerque, Rui Martins, Alexandre Frazão, André Sousa Machado, Mário Laginha e Ricardo Cruz.
Daí dá-se “um pulo” até às escolas. “Numa escola não se ensina mas aprende-se”, escreve logo de início Bruno Santos, actual director pedagógico da escola do Hot. “Um texto que pode dar sangue”, diz Curvelo. “Deus queira que dê, que é sinal que as pessoas lêem e se interessam”, acrescenta Inês Cunha. Umas páginas (e outros textos) adiante, lemos que a Big Band Júnior é “um motivo de orgulho”. Afirma-o João Godinho. Já André Santos e Romeu Tristão explicam o que é “estar à conversa sobre ser músico de jazz.”
E a tão falada Casa do Jazz? A “criação de um museu ou casa que abrigue a sua história & histórias”? Também aqui tem lugar, com três textos, um dos quais é assinado por Salwa Castelo-Branco, Pedro Roxo e Miguel Lourenço. Um ponto de partida, mais académico.
Seguem-se memórias do Hot, por muitos que ali viveram noites mais ou menos memoráveis. Thanks for the memory, assim se chama a secção, inclui depoimentos (todos eles escritos pelos próprios, ou seja, não foram recolhidos com gravador) de Jorge Costa Pinto, Manuel Jorge Veloso, Bernardo Moreira, José Eduardo, José Sousa Soares, Mário Franco, Mário Laginha, Mário Delgado, Edgar Caramelo, Carlos Azevedo, Alexandre Frazão, Bruno Pedroso, Carlos Barretto, Bruno Santos, Paula Oliveira, Ricardo Toscano, João Pereira, Paulo Gil, António José de Barros Veloso e Maria João. E há ainda discos escolhidos (três cada, por João Mortágua, João Paulo Esteves da Silva, João Pedro Coelho, Miguel Cunha, Miguel Lobo Antunes, Nelson Cascais e Pedro Guedes. Por fim, fotos: “Escolhemos sete fotógrafos mais ou menos ligados ao jazz. E a cada um pedimos que escolhesse três fotos relacionadas com jazz, não era preciso ser do Hot, com uma legenda a justificar a escolha.” Há, assim, a par de fotografias tiradas por Augusto Mayer (1926-2012) e Carlos Gil (1937-2001), ambos já falecidos, fotos escolhidas pelos seus autores: Carlos Reis, João Freire, Joaquim Mendes, Mário Ferreira, Mercedes Pineda e Rosa Reis.
Um livro e alguns discos
A revista acaba aqui, mas não acaba a celebração. Dezembro será lançado um livro com cartazes de jazz desenhados por João Fonseca e já começaram a ser lançadas em disco algumas gravações resultantes do ciclo Histórias do Jazz em Portugal, organizado por António Curvelo e Manuel Jorge Veloso de Janeiro de 2014 a Maio de 2015, numa co-produção do Hot Clube, Centro Cultural Vila Flor de Guimarães e Antena 2. O primeiro é do quinteto de Jorge Reis (sax-alto e soprano), com João Paulo Esteves da Silva (piano), Jeffery Davis (vibrafone), João Hasselberg (contrabaixo) e Luís Candeias (bateria).