António Costa redefine o rumo
Reduzindo o Bloco e o PCP à condição de parceiros de conveniência, com o PSD amorfo e o CDS difuso, o primeiro-ministro admite “tempestades imprevistas” e ajusta-se à certeza de tempos incertos.
Não é de espantar que o Governo assinale os três anos da sua legislatura sem dar um milímetro do palco ao Bloco e ao PCP. O primeiro-ministro vai sublinhando o carácter “franco” da parceria no seio da troika que integra a “geringonça”, admite acordos no futuro, mas, agora que se prepara para a recta final do seu mandato, deixa no ar uma frase lapidar sobre os limites desse entendimento: “É melhor uma boa amizade do que uma má relação”.
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Não é de espantar que o Governo assinale os três anos da sua legislatura sem dar um milímetro do palco ao Bloco e ao PCP. O primeiro-ministro vai sublinhando o carácter “franco” da parceria no seio da troika que integra a “geringonça”, admite acordos no futuro, mas, agora que se prepara para a recta final do seu mandato, deixa no ar uma frase lapidar sobre os limites desse entendimento: “É melhor uma boa amizade do que uma má relação”.
Após a quase certa aprovação do Orçamento do Estado de 2019, o Governo e o PS preparam-se para aumentar a distância de segurança em relação aos seus parceiros. Astuto como é hábito, Jerónimo de Sousa adivinhava que o aniversário servirá para António Costa “puxar a brasa à sua sardinha”.
Que Costa e o PS são os principais beneficiários dos trunfos do crescimento, do défice ou do desemprego, não há dúvidas – as sondagens estão aí para o provar. Mas a fórmula que aprovou três orçamentos e garantiu três anos de razoável estabilidade ameaça ficar datada. Depois da travagem do crescimento no terceiro trimestre, a conjuntura económica que sempre favoreceu o Governo mudou. Os anos em que o optimismo de Lisboa se impunha ao pessimismo de Bruxelas, da OCDE ou do FMI, também.
O próximo ano promete ser exigente. Um recuo no PIB pode dar cabo do défice e do orçamento. Ora, o Bloco e o PCP podem ser parceiros para distribuir, mas jamais quererão o ónus de cortar. Por isso, Costa usou o aniversário para produzir uma das suas mais importantes clarificações em muitos meses: o PS não governará com o Bloco nem com o PCP.
O primeiro-ministro entra na recta final do mandato em alta, com munições que mitigam a dimensão das cativações, a irrelevância do investimento público, a degradação do património e dos serviços do Estado ou o foco quase obsessivo nas agendas da função pública. Mas também com a garantia de que o PS permanece imune à sedução de programas que descartam o rigor nas finanças ou as obrigações europeias, como o que propõe a reposição integral do tempo de serviço dos professores.
Reduzindo o Bloco e o PCP à condição de parceiros de conveniência, com o PSD amorfo e o CDS difuso, o primeiro-ministro admite “tempestades imprevistas” e ajusta-se à certeza de tempos incertos. Ele sabe que fazer esse caminho sem as pressões reivindicativas da esquerda é a via mais curta para a maioria.