Prémios Condé Nast Johansens: o valor do luxo português está na sua “riqueza interior”
Os Prémios de Excelência Condé Nast Johansens, no início do mês, destacaram quatro hotéis portugueses. Segundo a local expert que há quase duas décadas visita Portugal de norte a sul, o futuro da hotelaria de luxo no país passa pelo foco nos “produtos que Portugal tem”.
Soa uma campainha. É o mestre-de-cerimónias a chamar os convidados a descer do bar do hotel The May Fair, em Londres. “Gostariam de encaminhar-se para o restaurante?”, pergunta num jeito britânico. Foi aqui que no início do mês se deu mais uma edição dos Prémios de Excelência Condé Nast Johansens.
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Soa uma campainha. É o mestre-de-cerimónias a chamar os convidados a descer do bar do hotel The May Fair, em Londres. “Gostariam de encaminhar-se para o restaurante?”, pergunta num jeito britânico. Foi aqui que no início do mês se deu mais uma edição dos Prémios de Excelência Condé Nast Johansens.
Numa cerimónia que se estendeu pela noite fora, quatro portugueses levantaram-se e subiram ao pódio. De 18 categorias, os portugueses estavam nomeados para nove. No final, foram o Tivoli Carvoeiro (melhor para famílias), o Santiago de Alfama (melhor hotel urbano), o Infante Sagres (melhor newcomer) e o Terra Nostra Garden (prémio dos leitores) que levaram para casa troféus. A seguir a Itália, Portugal foi o país mais premiado, na Europa e Mediterrâneo.
Para um evento que presta homenagem a organizações, não propriamente a indivíduos, surpreendeu o nível de emoção e euforia sentido na sala. O anúncio do vencedor suscitava ondas de aplausos e gritos de alegria — particularmente de uma das mesas de italianos no canto da sala. A música ajudava a granjear o entusiasmo: os vencedores subiam ao palco ao som de êxitos como Go Your Own Way e Lush Life.
“Portugal esteve aqui muito bem representado”, alegrava-se Carlos Trindade, manager do Infante Sagres, no final da noite. A distinção para o hotel de cinco estrelas da baixa portuense chegou apenas seis meses após a reabertura do espaço inaugurado pela primeira vez em 1951 — e hoje pertencente ao grupo Fladgate. Trindade esteve também no World Travel Market (WTM), que se realizou em Londres a começar no dia anterior aos prémios da Condé Nast Johansens. “No nosso stand de Portugal havia fila para receber todas as pessoas. É um sinal muito positivo sobre o nosso país”, conta.
“Temos de olhar para a nossa riqueza interior. E nós temos muita. O fundamental é que todos, a nível nacional, façamos esta promoção correcta do nosso destino. Só temos de ser sustentáveis, para que isto não seja apenas um momento”, comenta ainda.
Compete depois a cada um trabalhar no sentido da excelência. “Estas pequenas grandes conquistas permitem trazer mais reconhecimento à marca”, comenta Carlos Trindade de troféu na mão. “Há uma valorização e há uma conotação associada a estas marcas. E isso hoje em dia é crucial: numa realidade turística em que cada pormenor conta e há tantos meios de comunicação social, tantas formas de difundir o produto.”
É um ponto partilhado por alguns dos hoteleiros presentes na gala: no meio de todo o ruído em termos de informação disponível, as pessoas dão valor à curadoria deste tipo de guias. David Ashington, director de sales & hospitality hotel Monte Rei Golf & Country Club (no Algarve), acredita que “as pessoas estão a voltar aos media tradicionais”. Comenta mesmo que, após “um boom de bloggers”, algumas pessoas começaram a desconfiar da franqueza do tipo de mensagens que promovem. O hotel não levou para casa o prémio de melhor serviço de acomodação para o qual estava nomeado, mas foi distinguido como melhor campo de golf de Portugal pelos World Golf Awards.
"Acho que há valor em publicações de papel. Muitas pessoas apreciam a credibilidade", comenta Natasha Rhymes, directora de relações públicas e comunicação do grupo Minor (ao qual pertence o hotel Tivoli Carvoeiro). "Há muitos prémios hoje em dia. E alguns, honestamente, não significam nada. Outros têm significado: este [da Condé Nast Johansens] é um daqueles que é muito melhor conhecidos".
A excelência está na oferta local
Danielle du Plessis acredita que o futuro da hotelaria de luxo em Portugal passa pelo foco nos “produtos que o país tem”. Há 17 anos que visita o país, de Norte a Sul, em busca dos destinos mais selectos. Na gíria própria, é a local expert do guia para Portugal.
“Os standards são elevados”, avisa. Normalmente só aceitam hotéis de cinco estrelas, mas fazem excepções para propriedades especiais. Uma localização impressionante, por exemplo, pode ser um factor de peso.
Como é que avalia a evolução da oferta em Portugal nos últimos anos? Os hotéis portugueses “estão constantemente a renovar-se. A oferta está num nível alto. Hoje compara-se bem a outros países europeus”, aponta Plessis. Mas avisa: “Não devem olhar sempre para o que países fazem, mas oferecer o que Portugal tem para oferecer. É algo que Portugal está a fazer muito bem agora.”
Exemplos disso? “Diria especialmente na cozinha. Oferecem pratos portugueses, mas de uma forma completamente diferente. Não como era há dez anos”, responde a local expert. “Os produtos de Portugal estão mesmo na moda: azeite, vinho, tudo o que é local”, acrescenta ainda.
Qualquer propriedade, independentemente de há quanto tempo está presente no guia, é visitada pelo menos uma vez por ano, garante Plessis. Ao todo, são publicados anualmente três guias: um para as Américas e Caraíbas, outro para a Europa, Reino Unido e Mediterrâneo e um terceiro só de spas. Actualmente, o site é também uma parte importante da Condé Nast Johansens.
Já os prémios (que são decididos de forma independente) continuam a destacar separadamente nomeados e vencedores para o Reino Unido — sendo este um mercado importante para a Condé Nast Johansens — e para o resto da Europa. Os vencedores são decididos através de uma combinação de três factores, explica Charlotte Evans, publishing director do guia de viagens. Há o feedback dos clientes, a avaliação dos especialistas da Condé Nast Johnasens (local experts) e ainda a votação online. Este ano, foram contabilizados 50 mil votos, garante Evans.
No mesmo dia da gala foram revelados também os guias da Condé Nast Johansens de 2019 — que este ano foram redesenhados com um grafismo mais moderno. Os vencedores da noite só estarão indicados como tal no guia do próximo ano. Importa referir que o guia não é criado a partir de visitas-surpresa. Antes resulta de uma parceria entre as duas partes: os local experts fazem a curadoria e decidem quais os hotéis que devem estar no guia e estes pagam uma subscrição anual.
Um prémio para a acessibilidade?
Ao pequeno-almoço, Charlotte Evans reflecte sobre a noite anterior. Normalmente as galas são bastante agitadas, “mas não tanto quanto foi ontem à noite”, comenta. “Achei que foi particularmente excitante”, acrescenta. Está já a pensar na próxima edição. Para o ano, pondera por exemplo acrescentar uma categoria que destaque os hotéis mais bem preparados para receber pessoas com alguma dificuldade de saúde ou mobilidade. Chamar-se-ia algo como “prémio para o hotel com melhor acessibilidade”.
Há vários factores a ter em conta, a começar, por exemplo, pelo próprio investimento no treino do staff do hotel, de forma a conseguir identificar intuitivamente as necessidades das pessoas. “Podem não estar numa cadeira de rodas, podem ser disléxicos”, ilustra Evans.
A tendência para muitos hóspedes é evitar pedir um quarto para pessoas com necessidades especiais, pensando que que por isso receberão um quarto com vista pior ou no rés-do-chão, explica. É uma ideia que não estão assim tão longe da realidade: muitas vezes, a preparação dos quartos “é um afterthought” (uma consideração feita a posteriori), comenta Evans. Já há empresas que a trabalhar em soluções de acessibilidade que não comprometem o design. Uma das formas de contornar esta última questão é a aplicação de sistemas modulares. Se qualquer quarto puder receber alguém com necessidades especiais instalando em poucos minutos algumas peças na casa de banho, não é preciso fazer sacrifícios.
O PÚBLICO viajou a convite da Condé Nast Johansens