O Metro tem de ser metropolitano!
O Metro não pode ser o comboio turístico de Lisboa. O Metro tem de ser verdadeiramente metropolitano!
A recente entrevista do presidente do Metropolitano de Lisboa ao PÚBLICO revela a persistência de uma visão limitada do papel do Metro enquanto instrumento fundamental para garantir o direito à mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa (AML).
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A recente entrevista do presidente do Metropolitano de Lisboa ao PÚBLICO revela a persistência de uma visão limitada do papel do Metro enquanto instrumento fundamental para garantir o direito à mobilidade na Área Metropolitana de Lisboa (AML).
O Metro não pode ser o comboio turístico de Lisboa. O Metro tem de ser verdadeiramente metropolitano!
A AML e os seus municípios têm vindo a trabalhar para a construção de rede de transportes de nível metropolitano. Isso é já visível na iniciativa de redução dos preços dos passes para 30 e 40 euros. Será uma realidade em 2020 com a conclusão do concurso para os transportes rodoviários. Exige ainda que os sistemas de bilhética e outros relacionados com a operação dos transportes sejam controlados pela AML.
Mas nada disto terá plena eficácia se a estratégia não integrar as empresas públicas do Estado – Metropolitano de Lisboa, CP, Transtejo e Soflusa, Fertagus (esta infelizmente com gestão privada) –, por um lado, e se não tiver reflexo nos investimentos a fazer nos próximos anos, em particular no que resta do Portugal 2020 e no futuro quadro comunitário para 20/30.
Ora, a julgar pela entrevista em causa, o Metro de Lisboa continua a definir as suas prioridades a partir de uma visão restritiva, que não tem em conta o seu papel insubstituível como transporte de massas a nível regional. As respostas em matéria de transportes públicos não podem estar confinadas a fronteiras administrativas entre concelhos, porque isso não dá resposta às necessidades da vida das pessoas.
A mobilidade é um dos principais problemas da AML e um fator de profunda desigualdade entre o centro e a periferia, em particular para as populações que tiveram de optar por habitar fora da cidade de Lisboa.
O concelho de Loures é fortemente penalizado por esta ausência de resposta eficaz de transporte pesado. O desenvolvimento do Metro para Loures estava previsto no plano de desenvolvimento da rede de 2009 – anunciado pela então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino –, que o presidente do Metro de Lisboa refere na sua entrevista, mas, estranhamente, só no que diz respeito à cidade de Lisboa.
A restrição de investimento em meios pesados é também um problema para a cidade de Lisboa, assoberbada de trânsito e dificuldades de estacionamento. Os veículos privados que entram na capital a partir do concelho de Loures são um dos principais fluxos de trânsito da periferia para o centro.
Acho, aliás, curioso ouvir e ler tantos discursos sobre as alterações climáticas e a necessidade de diminuir as emissões de carbono, mas depois não encontrar nas decisões que efetivamente contam para esse objetivo a mesma determinação que se encontra nas palavras.
A extensão do Metro para o concelho de Loures não é apenas um benefício para as populações deste município. É uma clara vantagem para a cidade de Lisboa pela diminuição significativa da entrada de veículos privados. É uma necessidade para o concelho de Odivelas que suporta uma enorme pressão de estacionamento junto das estações de Metro. É uma vantagem para todos os concelhos a norte e oeste de Loures, dos quais muitas dezenas de milhares de pessoas se deslocam diariamente em viatura própria até ao centro de Lisboa.
É por isso indispensável que as decisões do Governo nesta matéria sejam mais clarividentes do que parece ser a visão parcelar do Metropolitano de Lisboa. Os municípios da AML têm dado provas de ter uma visão de desenvolvimento regional. Esperamos que o Governo também a tenha.
O primeiro-ministro, António Costa, tem especiais responsabilidades nesta matéria. Naturalmente porque é primeiro-ministro, mas também porque antes foi, não só presidente da Câmara de Lisboa (e no passado até vereador em Loures), mas igualmente do Conselho Metropolitano, o que lhe permite ter uma posição particularmente informada sobre esta questão.
Esperemos por isso que impere o interesse nacional e o benefício das populações.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico